sábado, 26 de maio de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:

O DIA QUE TIDINHO CHOROU
Nando da Costa Lima
“Formosa cavalgadura Que me levaste a ventura Torna trazer-me outra vez”. Verso do poeta, historiador e educador Euclides Abelardo de Souza Dantas, professor Tidinho, uma peça fundamental no desenvolvimento cultural de nossa Conquista. Autodidata cuja fabulosa cultura adquirida o deixava transitar com precisão em todos os ramos da literatura. Quando por aqui chegou no início do século XX o intendente era o Coronel Cazuza Fernandes e na Rua Grande ainda existia um barracão pra abrigar os tropeiros que vinham pra feira. Veio exercer o magistério, uma de suas paixões, nessa época os grandes fazendeiros contratavam professores da capital para educarem seus filhos nas suas propriedades. Os jovens só saiam para os colégios da capital quando demonstravam grande interesse pelos estudos, a distância a ser cumprida em lombo de burro tornava tudo mais difícil e talvez por isso eram raros os que iam pra Salvador. Os professores do tempo dos Coronéis exerciam um papel de tutor e a profissão exigia uma conduta impecável. Eram eles que ensinavam desde boas maneiras a álgebra, e esse contato direto com os familiares dos alunos os faziam quase que parentes, o carisma do jovem professor Euclides Dantas o transformou numa pessoa muito popular na terra do frio. Quando era dia de feira, professor Tidinho era cumprimentado por todos na Rua Grande. Um homem diferente, docemente diferente... Incapaz de destratar seu semelhante.Ele nasceu para educar, alfabetizou várias gerações e participou ativamente da vida cultural da cidade. Foi ele o redator de um dos jornais mais polêmicos de nossa terra “A PALAVRA”, que teve participação ativa na briga entre Meletes e Peduros através do poeta e também educador Maneca Grosso.
Quando Tidinho veio pra Conquista talvez não imaginasse que iria passar toda a sua vida por aqui, mas logo se casou com uma filha da terra (Virgínia Lopes Ferraz de Oliveira) e isto fincou ainda mais as raízes do grande educador na terra dos Mongoiós. A poesia era a outra paixão do professor... Tidinho era único, talvez porque a época exigia certa austeridade dos educadores, ele era muito sério, apesar da bondade nunca o viram chorar, nem quando a morte visitava aos que o cercavam. O professor Euclides Dantas ajudou Conquista a dar seus primeiros passos na educação, foi sua persistência como educador que fundou colégios de grande importância pra nossa terra, fez de Conquista sua terra natal e se dedicou a educação até a doença o tornar cego, impedindo-o de lecionar. “O cego sofre tanto! A sua desventura é mais longa que o céu e mais funda que o mar! Quem poderá medir a imensidade escura! E do cego quem pode as mágoas calcular!” Mesmo assim o mestre não se afastou das letras que sempre o acompanharam, ele ditava seus poemas para que alguém copiasse, e foram alguns desses poemas que o levaram a chorar... Foi numa tarde fria quando Tidinho se encontrava meditando em sua cadeira de balanço, que chegou um mensageiro com correspondência da capital. Eram livros com um pequeno comunicado, um dos parentes na sala leu para o professor a notícia que muito o comoveu... Ele havia ganhado aqueles livros pelos versos enviados pra um concurso de poesia. Tidinho pegou os volumes como se pega uma criança recém-nascida, uma ironia do destino, o poeta cego premiado com livros que jamais poderia ler... Ele continuou acariciando os livros, chegou para um canto da sala como se quisesse que ninguém o visse e chorou... mas chorou baixinho, o professor Euclides Dantas não poderia deixar rolar lágrimas em público só por não poder mais ler.
“Pois que no carnaval somente se mascara aquele que, mostrando ao mundo a própria cara, esconde no sorriso as lágrimas da dor”

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