O DIA QUE TIDINHO
CHOROU
Nando da Costa Lima
“Formosa cavalgadura
Que me levaste a ventura Torna trazer-me outra vez”. Verso do poeta,
historiador e educador Euclides Abelardo de Souza Dantas, professor Tidinho, uma peça
fundamental no desenvolvimento cultural de nossa Conquista. Autodidata cuja fabulosa cultura adquirida o deixava transitar com
precisão em todos os ramos da literatura. Quando por aqui chegou no início do
século XX o intendente era o Coronel Cazuza Fernandes e na Rua Grande ainda
existia um barracão pra abrigar os tropeiros que vinham pra feira. Veio exercer
o magistério, uma de suas paixões, nessa época os grandes fazendeiros
contratavam professores da capital para educarem seus filhos nas suas
propriedades. Os jovens só saiam para os colégios da capital quando
demonstravam grande interesse pelos estudos, a distância a ser cumprida em
lombo de burro tornava tudo mais difícil e talvez por isso eram raros os que
iam pra Salvador. Os professores do tempo dos Coronéis exerciam um papel de
tutor e a profissão exigia uma conduta impecável. Eram eles que ensinavam desde
boas maneiras a álgebra, e esse contato direto com os familiares dos alunos os
faziam quase que parentes, o carisma do jovem professor Euclides Dantas o
transformou numa pessoa muito popular na terra do frio. Quando era dia de
feira, professor Tidinho era cumprimentado por todos na Rua Grande. Um homem
diferente, docemente diferente... Incapaz de destratar seu semelhante.Ele
nasceu para educar, alfabetizou várias gerações e participou ativamente da vida
cultural da cidade. Foi ele o redator de um dos jornais mais polêmicos de nossa
terra “A PALAVRA”, que teve participação ativa na briga entre Meletes e Peduros
através do poeta e também educador Maneca Grosso.
Quando Tidinho veio pra Conquista talvez não imaginasse que
iria passar toda a sua vida por aqui, mas logo se casou com uma filha da terra
(Virgínia Lopes Ferraz de Oliveira) e isto fincou ainda mais as raízes do
grande educador na terra dos Mongoiós. A poesia era a outra paixão do
professor... Tidinho era único, talvez porque a época exigia certa austeridade
dos educadores, ele era muito sério, apesar da bondade nunca o viram chorar,
nem quando a morte visitava aos que o cercavam. O professor Euclides Dantas ajudou
Conquista a dar seus primeiros passos na educação, foi sua persistência como
educador que fundou colégios de grande importância pra nossa terra, fez de
Conquista sua terra natal e se dedicou a educação até a doença o tornar cego,
impedindo-o de lecionar. “O cego sofre
tanto! A sua desventura é mais longa que o céu e mais funda que o mar! Quem
poderá medir a imensidade escura! E do cego quem pode as mágoas calcular!”
Mesmo assim o mestre não se afastou das letras que sempre o acompanharam, ele
ditava seus poemas para que alguém copiasse, e foram alguns desses poemas que o
levaram a chorar... Foi numa tarde fria quando Tidinho se encontrava meditando
em sua cadeira de balanço, que chegou um mensageiro com correspondência da
capital. Eram livros com um pequeno comunicado, um dos parentes na sala leu
para o professor a notícia que muito o comoveu... Ele havia ganhado aqueles
livros pelos versos enviados pra um concurso de poesia. Tidinho pegou os
volumes como se pega uma criança recém-nascida, uma ironia do destino, o poeta
cego premiado com livros que jamais poderia ler... Ele continuou acariciando os
livros, chegou para um canto da sala como se quisesse que ninguém o visse e
chorou... mas chorou baixinho, o professor Euclides Dantas não poderia deixar
rolar lágrimas em público só por não poder mais ler.
“Pois que no carnaval
somente se mascara aquele que, mostrando ao mundo a própria cara, esconde no
sorriso as lágrimas da dor”
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