O NORDESTE DOS DADOS NEGATIVOS QUE
DEIXARAM DE SER NOVIDADES NA MÍDIA
Jeremias Macário
Desde menino nordestino,
sempre soube que o Nordeste é o patinho feio do Brasil, o bicho do pé na
distribuição dos recursos e da renda, com seus altos índices de desigualdade
social e atrasos em vários setores em relação às outras regiões do Sul e Sudeste.
Agora acabei de ler numa manchete de jornal que o “Nordeste tem o maior número
de analfabetos”. O título, infelizmente, não traz nenhuma novidade jornalística,
A reportagem fala dos dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, feita no ano passado e que
trata do analfabetismo no Brasil que teve uma redução, mas não satisfatória
para uma erradicação desse mal perturbador até o ano de 2024, conforme prevê o
Plano Nacional de Educação.
Os estudos concluíram que o Brasil tem hoje
11,5 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever. Dos seus habitantes, o
Nordeste, o primo pobre que sempre foi relegado e abandonado, 14% são
analfabetos, contra 8% do Norte, 5,2% do Centro-Oeste e 3,5% do Sul e Sudeste.
Quando estava na ativa
como jornalista no jornal “A Tarde” acompanhava como repórter de economia a
atuação da Sudene que foi criada pelo saudoso economista Celso Furtado, com o
precípuo objetivo de reduzir as desigualdades regionais. Com o tempo, a Sudene foi
dilapidada e esvaziada. e a proposta não passou de promessa rala nas pautas dos
governantes.
Estão ai os motivos do
Nordeste, desde os tempos coloniais, carregar consigo os priores índices nas
áreas da educação, da saúde, do saneamento básico, da segurança e de outros
setores na vida de sua população. A verdade é que o Nordeste ainda é o mais
atrasado e discriminado pelas outras regiões. É por assim dizer, vítima de
“bullying” para os sulinos.
É este o Nordeste árido e seco explorado e
escravizado pelos coronéis senhores dos engenhos da cana, por São Paulo em suas
construções e plantações, pelos políticos donos do poder e pelos falsos
profetas das religiões e das crendices que sempre teve e ainda tem os maiores
nomes da música, da literatura, dos cantadores repentistas, dos poetas
cordelistas, contadores de causos e da nossa história de vida alegre nas
venturas, e triste na dor da pobreza. Mesmo assim, é o Nordeste ainda ignorante
e analfabeto.
É o Nordeste que por desleixo e falta de
investimentos pode virar deserto e carvão, mas nele abriga um oásis da cultura
e da sabedoria popular nos seus rituais e danças folclóricas do maracatu, dos
frevos, do samba, do bumba meu boi e dos reisados. É o Nordeste de Câmara
Cascudo, de Patativa, Catulo da Paixão Cearense, de Luiz Gonzaga, Zé Dantas e
Umberto Teixeira
É o Nordeste por onde passa o Velho Chico que
por muitos séculos abrigou e sustentou seus filhos ribeirinhos, mas que hoje
virou um velho ancião à beira da morte e, com sua voz sussurrada, clama por
revitalização das suas margens ciliares decapitadas pelos próprios homens. É o
Nordeste ensolarado de belas paisagens e rico em recursos naturais.
É o Nordeste de Ariano Suassuna, Manoel
Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, José de
Alencar, Jorge Amado, Ruy Barbosa, Graciliano Ramos, Gil, Caetano, Fagner, Alceu
Valença, Glauber, Elomar, Ubaldo e de tantos outros, cujos nomes dariam um
monte de rosários para serem dedilhados por anos e anos.
Mas, voltando à pesquisa, constatou-se que no
Brasil, o maior problema com relação ao atraso escolar está com as crianças
mais velhas e os adolescentes. No ano passado, 95,5% das crianças de seis a dez
anos estavam nos anos iniciais do ensino Fundamental, enquanto 85,6%, entre 11
a 14 anos, frequentavam os anos finais.
Nesta faixa etária, 1,3 milhão estavam
atrasados e 113 mil fora das escolas. Outro dado é que a taxa de analfabetismo
dos idosos no Nordeste, sempre ele, é de 38%, contra 10% do Sudeste,
praticamente quatro vezes mais. É este o Nordeste, pobre e rico, com sua gente
simples e forte, cheio de esperanças roubadas pelos políticos traidores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário