MIL CARETAS
NA PRAÇA
Nando da Costa Lima
Nesse
tempo, aqui em Conquista ainda tinha micareta... Era muito boa! Por que parou??
A festa
começou quente, muita gente bonita, muita cachaça e o bloco “Exçecutivos”
puxando a fila. Tudo às mil maravilhas. E foi no meio dessa folia que
desembarcou “Geraldão das Meninas”, o rei das micaretas. Já desceu do ônibus
balançando o chão da Praça do Gil (ele tinha um micro-ônibus só pra acompanhar
as micaretas da vida). Era desses que fazia qualquer coisa pra pular atrás de
um trio elétrico, de preferência bem acompanhado. Dinheiro não era problema,
tinha herdado muita grana, dava pra passar o resto da vida na folia. Geraldão
era desses machões convictos, tinha até quem o tachasse de homofóbico. Mas não,
ele só era meio tarado, anotava até as relações que tinha por mês. Nessa
micareta ele tava com o plano de quebrar uns vinte “cabaço”, isso tirando por
baixo. Os puxa-saco que faziam parte de sua turma (onde ia levava mais de
vinte, tudo por conta) acharam que aqui ele ia bater o recorde... E a festa estava linda, tinha tanto trio
elétrico que ninguém conseguia decifrar o que estavam tocando. Gente de tudo
que é parte do Brasil, inclusive uma comitiva de poetas de Poções. A festa
estava fervilhando, Geraldão já tinha selecionado suas futuras “presas”. Ele
sempre fazia isso antes de atacar, saía selecionando. Era um chato!
Já tava
clareando ele ainda não tinha arranjado nada, nenhuma conquistense foi com a
cara do playboy das costeletas. E isso o deixou tão incomodado que, mesmo não
tendo o costume, encheu a cara de pinga. Aí as coisas pioraram ainda mais: a
cachaça libertou a franga do ex-tarado. Ficou tão desmunhecado que os amigos
fizeram uma rodinha pra esconder Geraldão, tava muito fresco! Ninguém podia
notar que ele tava dando aquele show na praça mais movimentada da cidade.
Chegou a subir num trio, mas caiu ao tentar agarrar o cantor. Pegou mal aquele
homem de 1,90 m querendo beijar o cantor...Os amigos já não sabiam o que fazer.
Se fosse em Salvador, menos mal, mas na Praça do Gil, no final dos anos 1980...
A solução veio da própria folia:
quando viram passar um bando de marmanjos fantasiados de enfermeira, eles
falaram ao mesmo tempo: “Vamos inscrever Geraldão nesse bloco, o pessoal vai
pensar que ele tá só brincando”.
E não deu
outra: ele entrou de última hora no Bloco das Enfermeiras. Se vestido de
vaqueiro ele tinha tentado beijar um trio elétrico todo, fantasiado de
enfermeira desbundou. Não podia ver uma cadeira ocupada que sentava. Até o
pessoal do bloco já tava com vergonha, mas foi o jeito deixar ele desfilar na
Bartolomeu de Gusmão. E a cada hora a festa esquentava mais, o povo continuava
chegando, parecia que a micareta não ia acabar. Geraldão se soltou... botou pra
ferver. A cachaça o mudou por completo! Se não fosse as costeletas tipo Elvis
Preslei e as botas 45,não tinha quem não atrapalhasse, virou uma piriguete. Os
velhos amigos estavam correndo as léguas dele, ninguém queria papo. Tinha até
quem achava que Geraldão não voltaria ao normal nunca mais. O homem desabrochou
tanto que foi preso por excesso de frescura, mas logo foi solto. Nem o pessoal
da delegacia suportou.
A festa
terminou em paz, foram quatro dias de muito folia. O sucesso previsto se
realizou e a cidade amanheceu de ressaca, quase deserta... só tinha o pessoal
da limpeza e Geraldão das Meninas completamente sóbrio, armado e puto da vida,
doido pra encontrar o corno que o empurrou de cima do trio elétrico. Aquela dor
no traseiro só podia ser consequência da queda. E bradou com voz de quem não
tava pra brincadeira: “Um filho da puta quase arranca minhas costeletas nas
imediações da Praça do Gil, barbaridade! Esse eu mato, tchê!”.
- Ué, Geraldão, você grande desse
jeito, como é que esse sujeito conseguiu te segurar pelas
costeletas??
-
Tá querendo morrer também, filho duma égua curioso?
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