UMA OPORTUNIDADE PERDIDA PELO
POVO PARA MUDAR A CARA DO BRASIL
Jeremias Macário
Todos almejam mudanças para o Brasil, mas,
sem sacrifícios, sem greves, paralisações, protestos e manifestações que
perturbam e prejudicam vidas. Ninguém quer abrir mão do seu sagrado direito de
ir e vir. E como fica o direito de greve do outro? Para ter este direito
constitucional tão propalado, todos têm o dever de lutar por ele, cedendo algo
de si, com sacrifícios, como apoiar os justos movimentos.
Grupos de trabalhadores e muita gente
entendeu isso, mas grande parte não. É aquele velho hábito de se beneficiar sem
participar. No lugar de apoiar, consumidores, donos de postos de combustíveis e
comerciantes procuraram exercitar suas habilidades individuais e egoístas
através dos aumentos avarentos de preços e compras em demasia para estocar
produtos, como gasolina e alimentos.
Ao invés de unir, passaram a brigar entre si,
cada um defendendo, exclusivamente, seu lado, isto é, seus interesses, como se
não fizessem parte de uma só nação. O movimento poderia ter sido o início do
estouro de uma boiada, para mandar um recado direto de que é o povo quem manda.
No lugar de lamentações,
queixas e de transtornos, o povo, os sindicatos, os estudantes e demais classes
econômicas perderam a oportunidade de tomar as ruas, praças e avenidas e se
juntar às causas dos caminhoneiros que são, ou eram de todos nós brasileiros.
Preferimos ficar, mais uma vez, no comodismo e
enganarmos a nós mesmos, Preferimos a enrolação e a demagogia do governo que,
cinicamente, disse estar ao lado do povo como protetor para que não fosse
prejudicado. Não sabemos quando outro cavalo selado vai passar em nossa porta
para a conquista da mudança.
Essa de estar ao lado
do povo, é uma tremenda mentira. Esta corja de aproveitadores oligarcas e
reacionários, incluindo parte da mídia burguesa tendenciosa, é tão insensível
aos reclamos dos mais desfavorecidos e afetados que demonstrou mais preocupação
com a paralisação dos aeroportos do que com a área da saúde, no caso dos
hospitais (falta de oxigênios, matérias diversos e medicamentos) vital para a
vida humana. Foi a impressão que ficou.
Agora, minha gente, toda vez que cai um
esqueleto do trem fantasma nas curvas, toda vez que o mordomo de Drácula e seus
vampiros se sentem ameaçados, imediatamente chama os generais com seus
exércitos para socorrê-los da incompetência. O governo usa as forças armadas
como panacéia para todos os males.
Estoura uma crise (caso da intervenção
militar no Rio de Janeiro), chama o exército para com sua força bruta acabar
com reivindicações justas e o direito sagrado da greve. Parece coisa de coronel
das antigas que na hora dos apertos e ameaças botava seus capangas e jagunços
para trucidar, espancar e até matar os mais fracos e continuar subjugando com
mão de ferro. Isso é covardia e falta de competência para gerir crises por eles
criadas.
É até ridículo ver soldados armadas de
bombas, metralhadoras, fuzis e cachorros entrando nas caçambas e tanques como
se fossem todos para uma guerra contra um inimigo externo. Aqueles moços devem
perguntar para si mesmos: Vamos lutar contra caminhoneiros desarmados em greve?
Não fomos preparados para isso. Vamos agora dirigir carretas pelas estradas?
Vamos ser caminhoneiros?
Esse governo morto,
todo vez que estoura um problema, tenta resolvê-lo na base da força bruta
chamando as forças armadas. Desde a ditadura civil militar de 1964, que só
terminou mesmo em 1990, nunca vi tanto general falando e dando entrevistas na
mídia. A impressão é que são os generais quem governa.
Como não tiveram competência para evitar uma
greve deste porte, com tanto impacto, ficam agora procurando culpados e
condenando as empresas de transporte por locaute. Se houve participação, isso
só fez reforçar o movimento decorrente dos aumentos diários e absurdos dos
combustíveis. Culpado mesmo é o governo que menospreza a reação da população
quando adota uma política massacrante dessa natureza.
O que esse governo e essa gente sabem mais fazer
é agir ardilosamente de má fé quando tentaram nocautear os grevistas logo
depois da reunião maluca no Palácio do Planalto. Primeiro colocou pessoas lá
que não representavam a categoria. Segundo, mentiu vergonhosamente quando
anunciou que o acordo havia sido fechado com todos. Na verdade, o representante
da classe disse que antes de suspender o movimento teria que conversar com os
caminhoneiros. Portanto, nada ficou definido no encontro.
O acordo paliativo só visou o diesel,
deixando de lado o álcool e a gasolina que vão continuar subindo de preços
todos os dias. Até quando isso será suportável? Não é abusar demais da nossa
paciência? Mais uma vez, engana o povo quando, demagogicamente, diz estar do
lado dele. O pior é que a maioria ignorante acredita nisso.
Não se surpreenda se o percentual de redução
dado para o diesel, com o corte da CIDE, Pis e Confins, não for repassado para
a gasolina. Depois da roubalheira da Petrobrás, o presidente desmantelador da
empresa impôs uma política absurda dos aumentos diários de acordo com a cotação
internacional do barril de petróleo e do dólar. Disse que baixava quando lá baixasse,
mas nunca cai. Mais uma vez, fomos vítimas do canto do vigário. Mais um
estelionato que nos passaram.
Um economista monetarista entrevistado pela
Rede Globo tendenciosa disse que os caminhoneiros têm que dar sua parcela de
sacrifícios diante da crise fiscal por que passa o país, como já vem fazendo o
povo. Falou de déficit público, de PIB, índices inflacionários, juros e outros
dados econômicos, mas nada sobre cortes dos marajás do executivo, do judiciário
e do legislativo. Estes sim, nunca são afetados em suas mordomias e
privilégios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário