terça-feira, 1 de maio de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:

“O MUNDO GREGO”
– As diferenças entre Atenas e Esparta (II)
Jeremias Macário
  No capítulo “Atenas e Esparta”, de “O Mundo Grego”, o autor A.H.M.Jones mostra as diferenças entre as duas cidades que sempre lutaram pela liderança da Grécia. Atenas, progressista e democrata, possuía um centro comercial e industrial (azeite de oliveira) com seu porto Pireu, um dos maiores do Mediterrâneo. Era uma potencia naval. Cheia de estrangeiros, o povo embelezou a cidade com templos e soberbas estátuas. Produziu grandes tragédias através de Ésquilo, Sofócles e Eurípedes, além das comédias de Aristófanes, e foi berço de historiadores como Tucídides e filósofos do quilate de Sócrates, Platão e Aristóteles.
  A Atenas democrata exalava liberdade de palavra e de ação (o direito de se pensar e dizer o que se desejasse, mas dentro dos limites da lei). Platão dizia que em consequência desse estado de coisas, os cidadãos são diferentes, ao invés de se conformarem a um tipo ideal. Péricles louvava a liberdade individual. Com isso, Aristófanes produzia comédias que ridicularizavam as instituições e até filósofos publicavam seus ataques ao ideal democrático.
   Existiam discordância, inclusive contra Platão que afirmava que o governo era uma arte difícil, que devia ser limitada aos peritos, homens inteligentes, dispondo de poder sem prestar contas a ninguém. Em Atenas, os conselhos eram escolhidos anualmente por sorte e nenhum cidadão poderia servir por mais de duas vezes em toda a sua vida. Como seria bom se acontecesse isso no Brasil! Será uma utopia?
  Os tribunais decidiam os casos privados e realizavam exames rotineiros dos magistrados ao término de seus mandatos, julgavam os impedimentos dos generais e políticos e eram árbitros de questões constitucionais. Os 350 magistrados eram quase todos escolhidos por sorteios. Ninguém podia ocupar o posto por duas vezes.
   Sócrates não concordava com esse tipo de escolha, mas o sorteio era feito entre os cidadãos que nele se inscrevessem. O povo exigia um padrão elevado dos inscritos. Depois de um ano de mandato, qualquer um poderia acusar o magistrado de má conduta, se fosse o caso. O salário era equivalente a de um trabalhador braçal. Nenhum cidadão podia ganhar a vida com o salário do Estado. Mais outra vez, uma norma quase que impossível para o Brasil.
 A assembleia controlava a política e os magistrados, e os generais eram seus servos que tinham de cumprir as ordens. Atenas foi um estado bem sucedido, o maior na Grécia no século V, e até depois da derrota na Guerra do Peloponeso, como afirmou o autor. Os cidadãos mais ricos custeavam os coros, as tragédias e comédias dos grandes festivais pagando os atores, cantores e todo cenário. Empresário nenhum aceitaria isso aqui. A democracia proporcionou um alto nível de eficiência administrativa, justiça social e cultural. Esparta, como dizia Demóstenes, não permitia que os seus louvassem as leis de Atenas
  Esparta gozava de autossuficiência agrícola e lá os estrangeiros eram mal recebidos e até expulsos. Potência militar, sua força era o exército e parecia uma aldeia que crescera demais, com uma aristocracia perfeita e estabilidade política mantida pela monarquia (autoridade absoluta). Não teve arte, nem literatura e não desempenhou papel na vida intelectual grega. Era conservadora, apegada a uma constituição arcaica e defensora das ideias tradicionais. Seus cidadãos eram treinados rigorosamente, desde a infância, para serem bons soldados, vistos como uma elite, apoiada pelo número maior de servos, os hilotas.
   Os espartanos mantinham sua supremacia frente aos servos através do terror. Todo ano, os éforos, principais magistrados da cidade, declaravam guerra aos hilotas onde permitiam a qualquer espartano matar um servo sem incorrer na culpa de assassinato. Os hilotas perigosos eram espionados e mortos. Em 424 a.C, preocupados com a inquietação entre os servos, os espartanos os convidaram para se alistar no exército dando como recompensa a liberdade. Dois mil deles se apresentaram e nunca se ouviu falar mais deles. Assim fizeram colonizadores dos índios nas Américas.
  Apesar de tudo, tinham um conselho dos mais velhos, uma assembleia e uma junta anual de cinco éforos que governavam Esparta. O método de escolha dos éforos permitia até ao mais humilde dos cidadãos ocupar o cargo. Aristóteles considerava isso infantil, mas dentro da classe espartana, sua constituição era tida como democrática. As únicas virtudes reconhecidas eram o patriotismo, a coragem e a disciplina.
LITERATURA E FILOSOFIA
  Em “A Literatura Grega Posterior a Homero”, R.J.Dover divide o gênero em três fases, o Arcaico (500 a.C.), o Clássico, de 500 a 300, e o Helenístico até o fim do mundo antigo. No Arcaico predominava a poesia lírica para coro, com Safo, a poetisa que viveu na ilha de Lesbos por volta de 600 a.C.). Píndaro, de Beócia, foi outro representante da época. O Clássico foi o coração da literatura onde Atenas tornou-se centro cultural grego. Na era helenística, a poesia preencheu os espaços vazios deixados pelos clássicos.
  Na comédia antiga, Aristófanes foi o mais notável, introduzindo comentários satíricos com pessoas vivas. Os autores ridicularizavam deuses e homens, mas o público condenava à morte quem negasse a existência dos deuses. A oratória também fazia parte da literatura e Ticídides foi um deles. Na história, Heródoto começou sua trajetória descrevendo a derrota dos persas.  
  Na tragédia grega, Ésquilo (peça sobre invasão da Grécia por Xerxes), Sófocles e Eurípides foram os maiores destaques. O primeiro foi autor de “As Suplicantes” onde conta como 50 filhas de Dânao tentaram fugir do Egito para Argos, para não se casarem com os 50 primos. Das 50, somente uma fugiu e não assassinou o noivo.
  Fez ainda “Prometeu Acorrentado”. O criador da humanidade foi punido por Zeus por ter dado o fogo aos homens. Levado a uma rocha, uma águia vinha todos os dias comer seu fígado. Em “Prometeu Libertado”, o herói usou seu segredo como trunfo.
   Sófocles criou “Antígona”, ameaçada de morte pelo rei de Tebas, Creonte, por ter enterrado seu irmão Polinice (o dever religioso), quando a ordem era não ter sido sepultado porque ele foi considerado traidor do reino. Ainda dele, “As Traquinianas” fala sobre os heróis descendentes dos deuses (o mundo de Homero). Nela, Sófocles descreve sobre a morte de Hércules, (filho de Zeus), o mais corajoso e o maior benfeitor. Hércules matou o rei Eurito e saqueou a cidade de Ecália, tudo para ficar com Iole, a filha do monarca. Como presente, através de seu mensageiro Licas, mandou como presente para sua esposa Dejanira, várias prisioneiras capturadas, e dentre elas estava Iole. Pagou caro por isso.  Ainda sua, “Édipo Rei” serviu de trama perfeita para Aristóteles.
  O grande Eurípides foi responsável pela peça “As Bacantes”, o maior de todas suas obras, onde descreve como Penteu, que se opôs a introduzir o culto de Dionísio no templo, em Tebas, foi feito em pedaços pela mãe e as irmãs. É uma peça muito forte e chocante em que Penteu roga e chora para que a mãe lhe poupe. Não houve jeito.
  Quanto as obras filosóficas (séculos VI e V) no mesmo tempo da história, os primeiros pensadores começaram de forma oracular imitando os poetas antigos, inclusive escreveram em versos na tradição arcaica, na linha didática e moralista, mais expondo que argumentando. Depois de 400 a.C., Platão introduziu o diálogo e dramaticidade na filosofia, como na sua obra sobre Sócrates, que não deixou nenhum trabalho.
  A filosofia grega, como diz A.H. Armstrong, começou em princípios do século VI a.C. A primeira data fixa é 585, ano em que houve um eclipse  que Tales de Mileto, o primeiro filósofo grego, havia previsto. A filosofia pré-socrática preocupava-se com a natureza e o destino do homem e como deveria viver. Para os pitagóricos, a alma era um ser divino, caída e aprisionada no corpo de uma série de reencarnações.
  Com Sócrates e Platão (séculos V e IV), a preocupação central da filosofia grega passa a ser o homem, o que ele é, como deveria pensar e viver, individualmente e na comunidade. Com Platão, o principal objetivo dos seus ensinamentos era convencer à pequena minoria a procurar a verdade sobre o que realmente existe, e ordenar sua vida de acordo com essa verdade. Na sua filosofia, os problemas centrais são relacionados com o homem e como ele deve viver na cidade. Ensinava como a vida política, social e religiosa de uma Cidade-Estado devia ser organizada, de forma que todos seus membros fossem os melhores possíveis.
  Afirma o autor do artigo que Aristóteles, no entanto, tinha uma filosofia mais ordenada que Platão, sendo o maior sistematizador da história da filosofia grega. “Sua filosofia é mais rígida, mais compacta e de menor atração universal que a de Platão”. Depois dele, os filósofos gregos se preocupavam em encontrar o caminho certo da vida para os homens. 
A educação do tipo superior, destinada para jovens ricos, era proporcionada pelos sofistas (Górgias, Protágoras, Pródico e Hípias), os chamados professores viajantes da arte do êxito, cobrando altos proventos e oferecendo resultados rápidos. Que diriam nossos instrutores de autoajuda?
  Não é fácil dizer quando a filosofia terminou. Dizem que foi em 529 da nossa era quando o imperador Justiniano fechou a escola filosófica de Atenas. Terminou com a plenitude da civilização bizantina, quando o Império Romano tornou-se oficialmente cristão, tendo sua capital em Constantinopla (dois séculos de vida).
  Na ciência, a Grécia também deixou valiosas descobertas e contribuição para a humanidade, que inclusive serviram de base para o renascimento. Temos Anaximandro que registrou os equinócios e preparou um mapa dos céus. Empédocles usou a pipeta para provar a existência concreta do ar. Outro grande físico foi Anaxágoras
  Estudiosos do mundo grego assinalam que a história da matemática começou com Tales de Mileto, o primeiro filósofo, que previu na astronomia o eclipse solar de 585 a.C. e teve a noção de que a terra flutuava na água. No século IV a. C., Heraclides do Ponto ensinava que a terra tinha um movimento de rotação.
  Já Aristarco de Samos (cerca de 250 a.C.) supôs que o sol e as estrelas fixas são imóveis, mas que a terra era levada em torno do sol. Os sucessores de Aristóteles, observando que as eclipses centrais são por vezes totais e outras parciais, concluíram que a lua não mantinha uma distância constante da terra 
  Os seguidores de Pitágoras usaram sua descoberta da estrutura matemática da escala musical como base de uma complicada teoria semimística de um universo feito totalmente de números. Heráclito estudou a estrutura da matéria. A Academia de Atenas, fundada por Platão, se notabilizou pela matemática e classificação das plantas, mas ele mesmo pouco fez para revitalizar a ciência.
  Aristóteles, que pertenceu à Academia de Platão, reagiu depois contra as tendências do platonismo para um mundo ideal. Foi contra as formas remotas e reinstalou os objetos do nosso mundo como verdadeira base da realidade. Ele tinha paixão de naturalista pela observação minuciosa. Foi ele o fundador das quatro ciências Ornitologia, Ictiologia, Zoologia e Entomologia. A lógica formal e funcional foi, no entanto, a maior de todas as realizações de Aristóteles.
  Não poderia deixar de citar a Escola de Medicina, fundada por Hipócrates, na ilha de Cós, que difundiu seus trabalhos por toda a Grécia. Seus métodos eram científicos no que concerne a observação e o registro. O objetivo era uma estimativa precisa do curso da doença. É bom ressaltar, porém,  que a medicina foi mais desenvolvida pelos helenistas.
O MUNDO HELENÍSTICO
   As conquistas de Alexandre o Grande marcaram nova era da história. Dois anos antes da sua ascensão, em 336 a.C., as cidades gregas haviam sido subjugadas pela força superior da Macedônia de Filipe II. Rebelaram-se, mas foram derrotadas. Como advertência, Alexandre destruiu Tebas. Como escreveu o estudioso no assunto, E. Badlan, a era clássica das cidades gregas desaparecera para nunca mais voltar. “Nenhum período da história ocidental vira maiores transformações políticas do que o século e meio que se seguiu ao aparecimento de Alexandre”.
  Adorado como um deus pelos seus súditos, quando o rei morreu deixou sem solução os problemas da sua secessão. Os generais entraram na disputa do reino e muitos membros da família de Alexandre foram eliminados. O general Lisímaco controlou as províncias europeias e parte da Ásia Menor. Seleuco ficou com a maioria das províncias asiáticas, e Ptolomeu, que morreu em 283 a.C., com o Egito e a Líbia.
  No mundo da ambição por poder, tudo foi uma questão de espera. Quando Lisímaco foi enfraquecido, Seleuco o atacou. Em 281, os dois travaram em Corupédio, uma das maiores batalhas da história. O primeiro foi morto e o segundo teve a oportunidade de controlar o império, mas ao cruzar para a Europa, foi assassinado. Foi ai que os gauleses entraram em cena e invadiram a Grécia, Macedônia e Trácia.
  De qualquer forma, os gauleses terminaram contribuindo para a estabilização do mundo helénico. Antígono Gonates, na Europa, e Antíoco, filho de Seleuco, enfrentaram os invasores e foram proclamados salvadores. Por fim, concordaram em viver em paz no império dividido de Alexandre. Os antigônidas ficaram com a Macedônia e parte da Grécia, e os selêucidas com parte da Ásia e do Mediterrâneo. Os ptolomeus se basearam no Egito e na Líbia.
  Na Ásia Menor surgiu o reino dos Atálidas em Pérgamo, cuja capital passou a competir com Alexandria, tornando-se primeiros aliados dos romanos. Foi dessa forma que esses povos conseguiram estabelecer seu protetorado sobre a Grécia, em torno de 200 a.C. Os ptolomeus se mantiveram firmes até o declínio do Ptolomeu V, em 205 a.C. e, finalmente, terminando com o suicídio da grande Cleópatra, em 30 a.C.
  Os reis usaram suas riquezas para transformar Alexandria numa cidade planejada. Esta capital, com seu Museu e imponente biblioteca, foi o centro da civilização helenística onde o grego era a língua oficial. A cidade de Selêucia, sucessora da Babilônia, na Mesopotâmia, chegou a ter meio milhão de habitantes muitos dos quais de origem grega e macedônia.
  As cidades gregas no mundo helenístico continuaram a ter suas autonomias, e até os reis se curvavam às suas leis. Para os gregos, a cidade (Cidade-Estado) era a polis, a unidade da política internacional. O país pertencia ao rei, e a cidade era dona da sua terra. O rei não podia agir em nome dela. Como a Atenas clássica, a cidade helenística conduz suas questões internas e seus negócios diplomáticos. Envia e recebe embaixadores, e celebra tratados sobre assuntos rotineiros.
    A força militar do monarca sempre ficava estacionada nas proximidades das cidades. Para os amigos do rei estava ali como proteção contra inimigos externos e sedição interna. Seus comandantes poderiam ser chamados para vários serviços. Para os inimigos do rei, a força era um exército de ocupação e instrumento de opressão.

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