Fogueiras e
bandeirolas
Nando
da Costa Lima
A rua já
estava toda decorada 24 horas antes da véspera da noite de São João, o pessoal
da Granja sempre gostou de forró, todo mundo colaborava para o sucesso da
festança, era bom demais! A gente bebia e comia tudo que tinha direito e não
gastava quase nada. Tinha fogueira de todo jeito, só dependia do bolso do
festeiro. Mas nem que fosse uma fogueirinha de nada, tinha que ter. Só que teve
um São João que a alegria foi quebrada com um problema seríssimo: é que
escolheram a maior e mais ornamentada fogueira da rua e deram uma cagada tão
descomunal que parecia que tinham jogado de pá. O pessoal ficou na dúvida se
era de gente ou de algum extraterrestre cagão. Do jeito que ficou, nem pegar fogo
ela ia pegar. Não dava pra secar até o dia 23 (isto aconteceu um dia antes). E
o safado além de fazer o serviço pesado ainda usou uns 10 metros de bandeirolas
pra se limpar. O dono da fogueira era muito conhecido pois adorava festa e era
um cabo eleitoral fortíssimo, vereador que ele apoiava podia se considerar
eleito! Ele ficou tão retado com o que aprontaram na sua fogueira que acusou
logo os sacanas da oposição. Só podia ser coisa daqueles otários que não sabiam
perder.... Jurou em frente à fogueira decorada com merda que na hora que
descobrisse o autor daquilo ia botar pra limpar com a língua. Jurou também que
ia soltar um foguete no rabo do corno que aprontou com ele, com seus familiares
e principalmente com o santo festeiro. Mandou perguntar ao velho Piloto se ele
podia “responsar” e descobrir com sua astúcia o autor daquela tragédia. O velho
ficou retado, não iria ser ele já beirando os 90 anos que iria examinar cocô
pra porra de político nenhum, ficou tão puto que mandou um recado desaforado
para o cabo eleitoral. Quase deu em morte, só não deu em nada porque a turma do
deixa disso apaziguou a situação. Não podia existir problemas entre dois
moradores ilustres da rua em pleno São João. A coisa ficou tão séria que foi o
jeito uma moradora entregar o autor da proeza: tinha sido seu filho Dau, que
chumbou provando os diversos tipos de licor que sua mãe fazia pra vender. O
rapaz ficou tão ruim que resolvei fazer aquela “borrancia” na fogueira mais
“lindona” da cidade. Depois da revelação o pessoal ficou mais sossegado e até
deram um jeito de limpar a fogueirona, deu trabalho, mas conseguiram. Tiveram
que fazer um mutirão com feijoada e tudo mais. Mas político é político e o dono
da fogueira, aquela cobra criada fazendo boca de urna não ia deixar aquilo passar
batido... mesmo tendo certeza que tinha sido uma travessura dum adolescente
biritado, foi pra praça falar pra quem quisesse ouvir que podia até ter sido um
menino quem produziu aquele monumento em sua fogueira, mas quem mandou o garoto
praticar aquele ato terrorista foram os subversivos da oposição. E assim foi
dada por encerrada aquela polêmica que quase estraga o São João da rua da
Granja, a discussão durou mais de 24 horas e muitos litros de licor e cachaça.
Mas isso aconteceu há tanto tempo que ninguém nem lembra... É verdade Djalmão!
Nossas vidas são como balões juninos: vão sumindo, sumindo, sumindo... E eu já
nem sei se isso é bom ou ruim. Existir eu sei que é difícil, mas é bom, muito
bom! Um breve passeio pela eternidade.
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