LEIA EDITORIAL DO ESTADÃO E TIRE SUAS CONCLUSÕES:
O Estado de S.Paulo - 08 Junho 2017
A aprovação do texto da reforma
trabalhista pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE)
representa um bom sinal de vitalidade do governo do presidente Michel
Temer em meio à maior crise de seu mandato. O placar da votação foi
apertado – 14 votos favoráveis e 11 contrários –, mas suficiente para
permitir o avanço da tramitação do Projeto de Lei da Câmara (PLC)
38/2017, que altera substancialmente mais de 100 disposições da
anacrônica Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e indicar que, não
obstante todo o imbróglio político-jurídico em que se encontra, o
governo mantém a capacidade de articulação de sua base aliada em prol da
aprovação de reformas imprescindíveis para o País.
Mais do que um respiro político
para o governo, a aprovação do relatório do senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) representa um ganho para a sociedade. Um importante passo foi
dado para dotar o País de uma legislação trabalhista arejada, que se
coaduna com a realidade das práticas de mercado que passará a
regulamentar. Isso não significa retroagir e eliminar importantes
conquistas do passado. Aliás, a falácia do discurso alarmista tem sido
exatamente a arma daqueles que se opõem às reformas, sobretudo a
trabalhista e a previdenciária, seja por simples oposição ao governo que
as encampa, seja pela defesa de seus interesses particulares. Direitos e
conquistas consagrados estão mantidos.
De acordo com o texto aprovado
pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, sem mudanças em relação
ao parecer aprovado pela Câmara dos Deputados no final de abril, estão
mantidos todos os direitos consagrados não apenas pela CLT, mas pela
Constituição, como o 13.º salário, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) e o salário mínimo. Também permanece como está a regra
que dispõe sobre as horas extras, que passará a valer também para os
contratos de tempo parcial. Entre as mudanças mais significativas da
reforma estão o fortalecimento dos acordos coletivos, que passarão a ter
força de lei, o fim da contribuição sindical obrigatória – sustentáculo
do modelo de sindicalismo varguista, também conhecido como peleguismo
–, a flexibilização dos contratos de
trabalho – medida que permitirá atacar uma das mais urgentes mazelas
nacionais, o desemprego que hoje atinge 14 milhões de brasileiros – e a
possibilidade de divisão das férias de 30 dias anuais em até três
períodos.
Em um momento de grave crise
política, o avanço da reforma trabalhista no Senado é um dado bastante
auspicioso para o País, que não pode ficar à mercê da turbulência (ou
será da calmaria?) e ver adiada a implementação de medidas essenciais
para a retomada do crescimento econômico e da geração de empregos. Não
fossem as disputas eminentemente político-eleitorais, as reformas
trabalhista e previdenciária já teriam sido feitas. Um recuo ao passado
recente vai revelar que estas mesmas reformas já eram defendidas por
aqueles que agora as combatem com uma veemência que beira o cinismo,
levando a crer que as convicções sobre matérias de interesse nacional
são formadas a depender do lado do balcão em que se encontram os grupos
políticos. Uma vez no governo, tendo de lidar com “entraves” como
gestão orçamentária e responsabilidade fiscal, defendem as reformas. Na
oposição, prevalece o discurso populista que implica, necessariamente,
aumento inconsequente dos gastos públicos.
O
relatório do senador Ricardo Ferraço seguirá agora para apreciação da
Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), que deverá votá-lo até o
final da próxima semana. Sendo aprovado, o texto passará para a Comissão
de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) antes da votação no
plenário da Casa, prevista para ocorrer no final deste mês. Que o
conjunto dos senadores da República entenda que a aprovação da reforma
deve ser tomada como uma imprescindível política de Estado, e não de
governo. Dela
dependerá, em boa medida, a retomada da confiança necessária para que o
setor produtivo receba os investimentos indispensáveis ao crescimento e à
geração de empregos.
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