Politicamente
incorreto
Nando da Costa Lima
Tudo era
festa na vida do prefeito Onorino Pranchão e de seus seguidores. Ninguém
incomodava nem se metia na administração da velha raposa política. Já tinha
tentado morar em Brasília diversas vezes, mas nunca conseguiu os votos
suficientes para se eleger, sua região mal fazia um deputado estadual! Devido a
esse pequeno problema, Onorino apesar de se julgar um gênio político, nunca
conseguiu destaque além de seus domínios. Como vereador se destacou com um
projeto para racionamento de água, lançou a campanha “Só dê descarga em
serviços pesados”. Ele achava um desperdício dar descarga em mijo. Por isso o
velho político estava se despedindo da vida política como prefeito de sua terra
natal, ali ele podia descansar sem a interferência dos abelhudos da esquerda.
Estava coberto: os veículos de comunicação pertenciam aos seus parentes, dali
não saía uma vírgula contra a sua administração. Como a equipe de funcionários
era composta só por parentes ele, para evitar burocracia, recebia o total e
distribuía as mesadas. Nunca ninguém reclamou... aliás, teve Nôzim que achou ruim,
mas logo foi transferido da Secretaria de Saúde para a portaria do cemitério.
Depois disso ninguém nunca mais fez queixa da mesada. Onorino era um homem de
poucas palavras, gostava mais de refletir... Teve uma vez que invocou que foi
um grande líder numa encarnação passada, se impressionou tanto com isso que
resolveu ir fazer uma consulta esotérica na capital, recorreu à hipnose para
voltar a vidas passadas. Ninguém teve acesso ao resultado final, mas segundo as
más línguas, depois de hipnotizado Onorino começou a relinchar e quebrou o consultório
todo no coice. Isso eu não sei se é verdade... só sei que o jornal da cidade
deu o furo dizendo que o prefeito tinha amansado o cavalo de São Jorge em vidas
passadas.
Os
problemas da prefeitura eram os mínimos, o próprio prefeito se queixava daquele
eterno paradeiro. Os vereadores pelo menos tinham três dias da semana para
discutir a novela das oito, mas ele nem de televisão gostava. Já estava a ponto
de inventar um problema só pra ter o que fazer, chegou a convidar um prefeito
vizinho para construir em conjunto uma linha de trem bala ligando Conqusita à
sua cidade. O colega de profissão recusou gentilmente dizendo que o trem bala
iria causar demissão em massa nas borracharias que margeavam a estrada. E
alegou: “Se pelo menos trem tivesse pneu...”. O presidente do partido quase
chora com a belíssima e genial reflexão humanista do prefeito. E o plano de
Onorino foi por água abaixo por uma questão ideológica.
Numa
bela manhã de segunda-feira Onorino foi acordado aos gritos pelo irmão
(Secretário de Educação), só faltou soltar foguetes quando escutou o berro: “As
professora istão di greve e a gente não podemos fazermos nada”. Aquilo soou
como música, ENFIM UM PROBLEMA POLÍTICO! Onorino partiu para a prefeitura
trajando seu terno preferido, o verde esperança! Convocou uma reunião
extraordinária com o secretariado e os professores que reivindicavam os 12
meses de salários atrasados, e depois de uma manhã de debates, reuniu a
imprensa local (chamou até a TV de Conquista) e garantiu que resolveria o
impasse em menos de 24 horas. Não só os secretários, mas toda a cidade ficou
sem entender que jeito o prefeito iria dar. A prefeitura todo mundo sabia que
tava quebrada e do seu bolso todos sabiam que era quase impossível.
No
prazo determinado o prefeito anunciou a grande solução que arranjou para o
caso. O mestre reuniu a astúcia do político e a experiência do comerciante, e
se sentindo um verdadeiro gênio das finanças, falou aos presentes sem a menor
cerimônia: “Vou encerrar o ano letivo agora em junho e repetir as mesmas notas
no fim do ano, ficando assim professores a alunos liberados para as férias de
dezembro já em junho. Se Fidel Castro fez isso com o Natal, por que eu não
posso fazer com o ano letivo? Quanto à merenda escolar, abrirei um armazém com
preços módicos para a população carente que sempre protegi”. E cutucando um
assessor disse baixinho: “Se depois dessa o home não me der o ministério do
planejamento, é porque tem trêita”.
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