terça-feira, 27 de junho de 2017

COLUNISTA VIP:

Poções, a minha, ou melhor, a nossa terra! 

'Entre Palavras e Sentimentos' -Suerlange Ferraz  

 Meu lugarejo está situado pelas bandas do sudoeste baiano. Um lugar simples, aconchegante, que não diferente de outras localidades passa por tantos problemas, mas nunca deixará de ser amada por seus filhos.
A minha terra tem gente que anda descalça pelas ruelas, que enfrenta os dissabores com um sorriso largo e com a fé arrebatadora. Nas portas de muitas casas, os vizinhos se reúnem para prosearem. Nos bares espalhados pelos bairros, os casos acompanhados de uma cachacinha invadem a madrugada. E na praça, todo dia é momento para contemplar os bons encontros. 
 Na praça encontramos o acarajé da Cristina, a tapioca, churros, o pipoqueiro, o churrasquinho, a voz do gaivota, o mudinho e suas estripulias e muita história. Passei longas tardes entre amigos, sentada na escadaria do Banco do Brasil, era prazeroso compartilhar a vida com os companheiros da escola. A voz do gaivota era a responsável pela trilha sonora e seu Tavinho ou Gerônimo, pelas pipocas. 
Quando estou viajando, sinto saudades do pãozinho caseiro da padaria que fica próximo a minha casa ou do pão de abóbora ou aipim de dona Nilza. Engraçado que o sabor ou o cheiro fica impregnado na memória. 
Por falar em sabor, me veio a lembrança de Miguel, rapazinho magrelo e baixo que eu encontrava durante as tardes na praça vendendo as deliciosas cocadas de dona Carminha. Minha infância e adolescência foi marcada por muitos sabores e a cocadinha traz saborosas recordações. 
Por aqui, a fé é tão presente. É um terço, um ramo, uma prece, é a água benta que cai sobre a cabeça dos fiéis, a água de cheiro que lava a praça na marcha do Dendê - é a fé em suas inúmeras representatividades. Das rezas, carurus, festa de Pentecostes, Marcha para Jesus, semana espírita... é de um tanto de manifestações religiosas leva a crer que poçõense é um povo de fé. Meu lugar não é industrializado, não tem universidades, passa por crise hídrica, tem altas taxas de desemprego e mesmo assim, eu, como muitos, continuo sentindo um bem querer danado pela terra do Divino. 
Durante os encontros com os amigos, costumo dizer que o o povo de Poções é ousado. É a ousadia que vem de ousar porque numa cidade em que as perspectivas de emprego são tão pequeninas, existem muitas criaturas que ousam a encarar os desafios de viajarem diariamente, em média quatro a cinco anos para ter acesso a Universidade. O que falar daqueles que romperam fronteiras e estão por aí, seja num mestrado,doutorado, escrevendo, cantando, nas construções, na docência acadêmica, nos consultórios médicos ou de advocacia, na sala de aula... em alguma cidade por aí, tem algum poçõense fazendo história. 
 Ah, você é baiana -É de Salvador? É a pergunta mais frequente quando estou viajando. Sempre respondia que a Bahia é maior do que a capital e que existem centenas de cidades e uma delas é Poções. Adoro falar para os novos conhecidos sobre a fase majestosa do time do Poções. Lógico que não deixo de falar sobre a Festa do Divino, do reisado, de Morrinhos, da feira, enfim, me empolgo falando da minha cidade. A partir de então, os coleguinhas aprendem que além de Salvador, existe também Poções, que fica localizada próximo a Vitória da Conquista, popularmente conhecida como Suíça baiana.
 Em cada esquina da cidade, uma história. A cada filho da terra, o desejo de uma cidade mais cuidada e com mais oportunidades. A cada aniversário, alegria em ter nascido por aqui. Querida Poções, terra amada! Mais um aniversário e tantas lembranças tomam conta dos filhos desta terra e daqueles que a escolheram como lugar para morar. Desejo que a cidade prospere, que a fé prevaleça e que os sonhos sobrevivam. Feliz idade nova, terrinha amada!

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