sábado, 24 de junho de 2017

COLUNISTA VIP:

Pamonha, canjica e lero-lero
 Nando da Costa Lima
- Eu comprei um chapéu de primeira em João Couto e já encomendei uma botina 44 bico largo em Seu Zé Pereira, daquelas que aguente um cabra retado pois vou dançar até rachar o chão, tem mais de nove anos que não danço um forró em Conquista. Desde São Paulo eu venho sonhando com isto. Agora que estou por cima da gaita posso até pedir Isidora em casamento sem correr o risco de ser esculhambado pela família dela. Cê lembra né, compadre Néu, quase que os irmãos dela me mataram de porrada só porque eu falei em namoro. Gente é um bicho difícil, se o sujeito não tiver dinheiro não pode nem sonhar em casar com uma mulher bonita. E naquele tempo eu era franzino, não sei por que juntou tanta gente pra me dar pancada. Se fosse hoje eu botava todo mundo pra correr com o meu “três oitão”. Sompaulão além de me deixar com dinheiro, me ensinou a mexer com gente ruim. O compadre também não se esquece que eu saí daqui só com a roupa do corpo, o dinheiro que levei só deu pra pagar uma semana numa pensão barata. Quando acabou o dinheiro eu comi o pão que o diabo amassou: dormi em banco de praça, apanhei da polícia, passei muita fome. Só não morri porque Deus é grande. Mas o que mais me perturbava era a saudade de Isidora e de Conquista.
- Quando eu lembrava do São João só faltava morrer, chorava como uma criança. Teve uma vez que eu quase “se suicidei” de tanta saudade de Isidora, se não fosse um amigo eu tinha pulado na frente de um ônibus. Nem tô acreditando que tô aqui em plena semana de São João, tô realizando um sonho,compadreNéu. O terno eu trouxe de Sompaulo, mas a botina e o chapéu eu fiz questão de comprar aqui, eu quero dançar o forró com produto conquistense. E se tudo correr como eu quero, eu vou entrar na igreja no dia que eu me casar com Isidora calçando a mesma botina que eu vou usar no São João, isso foi uma jura que eu fiz há anos.
Aí então foi o jeito o compadre abrir o jogo...
- Compadre João, eu não quero ser estraga prazer nem empata foda, mas como você é quase parente eu tenho que lhe dar uma péssima notícia, só não falei logo porquê da hora que você me encontrou na frente do bar Lindoya até agora não me deixou abrir a boca, mas você tem que me escutar, o caso é sério!
- Fala logo, “home”, desembucha. Foi morte na família???
- Não, é pior...
- Pior que morte de parente, cê tá doido? Fala logo merda senão vou ser eu quem vai morrer de curiosidade.
- De curiosidade o compadre não morre não, mas se continuar insistindo nesse namoro com Isidora vai morrer é de morte matada. Isidora tá noiva pra mais de dois anos...
- E quem é o corno que tá querendo roubar meu amor eterno?
- É o tenente Marculino “Capadô”
- O quê, compadre?
- É ele mesmo, Marculino “Capadô”. Você conhece a história dele, né?
- Bom, compadre Néu, aí a conversa já muda “compretamente”. Aquele homem é o capeta trajado de gente. Vai ser o jeito eu me esconder até o ônibus que vai pra Sompaulo passar... O compadre sabe de algum esconderijo?
- Só se for na casa de dona Rosa Bigode, lá é o único lugar que o tenente não canta de galo. Dona Rosa não gosta dele. O compadre fica até 7 horas e depois corre pro departamento e pega o ônibus na estrada. Se você for pro ponto da ETMISA você tá lascado, o tenente já ficou sabendo que você chegou aqui cheio de onda falando paulista e dizendo que esse São João Isidora não passava sem você.
            E assim João voltou pra São Paulo corrido, nem a botina foi buscar... Voltou 12 anos depois, só assim é que ficou sabendo que o compadre  Néu era quem tava noivo de Isidora. O tenente Marculino “Capadô”nem chegou a conhecer a beldade, tava morto e enterrado há muito tempo... E dona Isidora e o compadre Néu vivem muito bem, já têm 7 filhos e um que vai nascer agora em junho. O nome vai ser João, em homenagem ao santo e ao compadre...
            Mas a amizade dos compadres, apesar de abalada, continuou firme...

Nenhum comentário:

Postar um comentário