Atrás do
trio elétrico
Nando da Costa Lima
Dr.
Uoston, por insistência da mãe, foi passar o Carnaval em Salvador. O filho só
pensava em trabalho, um rapaz de 28 anos não podia viver daquele jeito. Era de
casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Não tinha tempo nem pra namorar, e
pelo visto ia morrer solteirão, mesmo que pretendentes não faltassem. Mas ele
sempre se saía com o famoso: “Sou casado com a Justiça”. O pai do Dr. era um
líder político conhecidíssimo, já tinha sido prefeito várias vezes e indicou
Uostonpra ser seu herdeiro na política também. Já ia receber o prato feito! Na
certa viraria deputado, pelo menos era o que a família imaginava. Só dependia
dele.
A
viagem pra Salvador foi pra relaxar, num ano de eleição ele tinha que subir no
palanque desestressado. O pai nem desconfiava que o filho único era gay, às
vezes sua mulher tentava explicar mas ele mudava de assunto rapidamente. Era
homofóbico até os cabelos do bigode, quase se separou da mulher só porque ela
disse que ninguém escolhe o jeito pra nascer, ninguém vira homossexual, já
nasce assim. Mas o marido sempre cortava falando que não passava de descaração.
E se ela pensasse de outra forma que arrumasse as malas e fosse embora. O
político nem imaginava que sua mulher incentivava o filho a sair do armário. Se
soubesse, a coisa ficaria feia...
Mas
como toda mãe, ela só queria a felicidade do filho, ela sabia que ele era
infeliz fazendo papel de solteirão. A mãe já tinha até um plano: era só
encontrar uma noiva de cabeça aberta, contar seu “drama”, casar e se
candidatar.O pai, que nunca se convenceu da homossexualidade do filho, já
achava que ele era celibatário. Infelizmente, nem o plano da mãe nem o do pai
poderiam ser postos em prática depois que o Dr. Uoston resolveu se assumir em
pleno carnaval de Salvador. Nesse mundo digital, não deu outra: ele foi filmado
de tudo que é jeito. Os opositores de seu pai na política mandaram registrar
toda a movimentação de Uoston, e nem precisava. Até a televisão flagrou ele nos
últimos dias da festa.
É
que no primeiro dia ele ainda tava meio tímido e saiu de odalisca. No segundo
dia foi de Mulher Maravilha. Mas foi nos2 últimos dias
que ele chamou a atenção da televisão, todo mundo queria filmar. Também, tava
esquisito demais aquele “neném” de bigode (bigodão que o Dr. não tirava por
motivos de marketing eleitoral, era a única coisa que ele tinha do pai) que
tava no colo de um marinheiro europeu de dois metros de altura. O assédio dos
presentes com aquele casal de fantasia tão original chamou a atenção de outros
foliões, e daí em diante foi sucesso total. E a coisa ficou mais chamativa no
último dia, quando o Dr. se fantasiou de “cachorrinho” e o namorado de madame.
Um armário fantasiado de madame puxando o Dr. preso numa coleira.Quase para um
trio! Muita gente saiu do bloco pra ver a cena, e tudo isso foi filmado em rede
nacional. Não ficou um conterrâneo sem ver a performance do Dr. na capital.
Foi
sua mãe que deu o recado do pai por telefone, o velho teve que fingir um
enfarto pros adversários maneirarem. Ele não queria que o filho voltasse nem
pra pegar a mudança, mandaria um caminhão entregar tudo que lhe pertencia.
Uoston fez tanto sucesso com as
fantasias de “Bebê Canguru” e “Cachorro de Madame” que, segundo as pesquisas,
se ele se candidatar, vai se eleger e ainda levar mais um monte de “sem voto”
com ele. Até agora o pai não mandou o caminhão com a mudança do filho... Será
que mudou de ideia? Só pode, no último discurso que fez como presidente do
partido ele até citou aquele famoso político baiano: “O único erro que não se
pode cometer numa campanha política é perder a eleição”. Essa frase de Juracy
já ajudou muito político safado a se explicar depois da merda feita, mas dessa
vez ela foi usada para unir pai e filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário