“DEUSES, TÚMULOS E
SÁBIOS” (II)
OS LADRÕES DE TÚMULOS E
A “PRAGA DO FARAÓ”
Jeremias Macário
Para se livrar dos ladrões e quebrar a
tradição, Tutmés I (1545 a 1515 a.C.), ainda no tempo dos “Filhos do Sol”
(Ramsés I e II (1350 a 1200 a.C), foi o
primeiro rei que tomou a resolução de separar o túmulo do templo, não mais
depositando seu corpo em visível e imponente monumento tumular e sim numa
câmara oculta sob a rocha. O Vale dos Reis era visado.
Antes, todos os túmulos de reis foram
saqueados. Mesmo assim, a medida não impediu a ação dos ladrões, Os corpos de
Ramsés III (três vezes), Amosis, Tutmés II e outros foram vítimas dos
saqueadores. O próprio Tutmés teve que ser retirado da sua cova para outro
lugar como forma de proteção contra os ladroes. Nem mesmo o seu túmulo na rocha
parecia seguro. No de Tutancâmon entraram ladrões, quinze anos depois da sua
morte e, no de Tutmés IV, deixaram seu cartão de visita através de rabiscos nas
paredes com deboches.
Outros grandes arqueólogos de destaque foram
o norte-americano Howard Carter que escavou o túmulo de Tutancâmon, o rei mais
rico, Lepsius e Petrie atuaram no Egito. Paul Emile Bota e Layard fizeram
grandes descobertas na Mesopotâmia, Schlieman e Evans assombrou o mundo com o
achado de Troia e Cnossos, Stephens e Thompson (EUA), em Iucatã, na América
Central e Koldewey e Wooley, na Babilônia.
O achado de Tutancâmon (1927/28), cuja múmia
foi examinada pelo Dr. Derry, pode ser considerado o maior da história da
antiguidade e rendeu enorme visibilidade para o mundo quando muito se falou da
“Praga do Faraó”. “A Vingança do Faraó” e “Nova Vítima de Tutancâmon” foram,
entre outras, manchetes estampadas na mídia daquela época.
“A morte virá com asas ligeiras para aqueles
que perturbarem o repouso do Faraó” – diz uma das versões da “praga” que
estaria inscrita no túmulo de Tutancâmon. O próprio Carter se manifestou
dizendo que “o investigador faz seu trabalho com profundo respeito e a mais
pura gravidade, mas livre desse arrepio a cuja misteriosa sedução sucumbe tão
facilmente a multidão sedenta de sensações psíquicas”. Ele descreve histórias
ridículas.
Paul Emile Botta, sem dúvida, foi também
referência no campo da arqueologia que realizou escavações na região dos rios
Tigre e Eufrates, berço da cultura da antiga Suméria e Assíria
(Assur-Babilônia), cidades que alcançaram maior esplendor sob o domínio dos
assírios e babilônicos.
Outro prodígio da ciência, Botta estudou
chinês aos 14 anos. Em 1840 foi agente consular em Mossul (hoje Iraque). Com
sua insistência, descobriu esculturas do tempo da existência de Nínive, o maior
centro comercial, onde achou, em 1843, o palácio assírio do rei Sargão. Eugene
NapoleonFlandin muito contribuiu com sua expedição como desenhista.
O trabalho de Botta teve prosseguimento com o
arrojado inglês Henry Layard que encontrou os restos da residência de Dario e
Xerxes, enorme palácio destruído por Alexandre Magno durante um festim com
muita bebedeira. Conta que a dançarina Tais, na fúria da sua dança, tirou um
tição do altar e jogou ao meio das colunas de madeira. Alexandre e seus
seguidores fizeram o mesmo. Existem dúvidas sobre esta história.
Como decifrador da escrita cuneiforme, o
destaque vai para o alemão Georg Friedrich Grotefend, nascido em junho de 1775.
Tanto ele como os sábios da época estavam familiarizados com o antigo soberano
persa de Persépolis (Ciro), sobretudo pela leitura dos autores gregos. Sabia-se
que Ciro havia aniquilado a Babilônia lá pelos anos 540 a.C., fundando o
primeiro grande império persa.
Outro famoso linguístico foi o inglês Henry
Rawlinson, cônsul em Bagdá, em 1840,considerado aventureiro, juntamente com
Henry Layard e Botta. Layard, por exemplo, baseado nas leituras de “Mil e Uma
Noites”, realizou importantes escavações na Mesopotâmia nas colinas de Nemrod
onde encontrou um dos maiores palácios assírios de Nínive, por volta de 1845.
Nas escavações, Layard achou a estátua de um
dos deuses astrais assírios identificados com os quatro pontos cardeais:
Marduk, touro alado; Nebo, ser humano; Nergal, leão alado e Ninurta, a águia.
Encontrou também ospalácios de Assurbanipal II (884 a 859 a.C.) e Senaquerib
(704 a 681 a. C.).
Sobre Nínive, conta que o nome originou-se de
Nin, a grande deusa da Mesopotâmia. Pelo ano de 1930 a.C., o legislador
Hammurabi cita o templo de Istar em volta do qual fora construída a cidade.
Nínive sempre foi provinciana, enquanto Assur e Kalchu se tornaram moradas
reais.
Sobre o reinado de Assurbanipal, Nínive viveu
seu período de maior esplendor, com maior número de comerciantes, sendo foco da
política, da economia, da cultura, da ciência e da arte. Era a Roma do tempo
dos Césares. Ciaxares cercou a cidade e arrasou tudo, transformando-a num monte
de ruínas. Nínive sempre foi ligada a assassinato, saque, repressão, guerra e
terror. Senaquerib foi o primeiro César louco que ocupou o trono da primeira
metrópole civilizadora, tal como mais tarde foi Nero em Roma.
Nínive foi a Roma assíria, dominada por uma
camada privilegiada, cujo poder derivava do sangue, da raça, da nobreza, do
ouro, da violência e povoada por uma massa amorfa de povo maltratado e sem
direitos. A função desse povo era trabalhar, com a ilusão dada de que assim
atuava para o bem de todos. Era uma massa em fermentação que oscilava entre
extremos de revolta social e da escravidão resignada, ora transformada em
multidão incontida, ora recaindo na inércia bruta como reses que seguem cega e
humildemente para o matadouro descreve o autor do livro “Deuses, Túmulos e
Sábios”.
A cidade também teve seu sanguinário rei
Senaquerib que mandou derrubar edifícios para erguer nela seu suntuoso palácio
sem igual. Sua fúria construtora atingiu seu auge na edificação do palácio de
banquetes do deus ASSUR. Ele começou seu reinado renegando seu pai Sargão e
criou sua origem nos reis pré-diluvianos e semideuses.
Sob seu comando, atacou Babilônia, marchou
contra os galeus e cossitas, Tiro, Sidon e Ascalon no ano de 701, e também
contra o rei Hezequias, de Judá, cujo conselheiro era o profeta Isaias. Disse
ter conquistado 46 fortalezas e inúmeras aldeias nas terras de Israel. No
entanto, diante de Jerusalém teve a primeira derrota profetizada por Isaias.
Conta o profeta que o anjo do Senhor saiu e feriu no acampamento dos assírios
185 mil homens, tornando-os todos mortos.
Na verdade, conforme análises, a peste atacou
seu exército. Senaquerib atingiu o ápice do seu despotismo no ano de 689 quando
decidiu varrer da face da terra a rebelde Babel. Conta a história que os
habitantes foram mortos um por um até que as ruas ficaram atulhadas de cadáveres.
Bem, retornando aos “deuses”, arqueólogos,
decifradores e estudiosos da antiguidade, podemos citar ainda o inglês George
Smith que teve a proeza, de em 1872, decifrar a obra que fala da epopeia de
Gilgamés, mandada por Hormuzd Rassam através das tabuinhas. Este inglês
desvendou as façanhas de Gilgamés, inclusive foi ele quem encontrou as outras
partes que faltavam para completar a obra.
O alemão Roberto Koldewey realizou escavações
em Assos e Lesbos, bem como em Babilônia pelo ano de 1887. Esteve ainda na
Síria, sul da Itália. Como cientista um tanto estranho, teve o privilégio de
descobrir os “Jardins de Semíramis”; desenterrou o muro de Babilônia e a Torre
de Babel, a maior cidade fortaleza que o mundo já viu, maior mesmo que Nínive,
por volta de 1889.
Ele encontrou, nada mais nada menos, que a
cidade de Nabucodonosor feita de tijolos cozidos no forno, ao invés de tijolos
de argila cozidos ao sol. Escavou a torre que sempre carregou o símbolo de
arrogância humana, além de uma estrada maravilhosa que era o caminho pela qual
passava a procissão ao culto em homenagem ao deus Marduk, cujo olhar os simples
mortais não poderiam suportar. Só uma mulher escolhida permanecia lá no templo
noite após noite para o prazer do deus.
Em redor do templo, cercado por muros,
erguiam-se as casas onde ficavam os peregrinos que vinha de longe para os
grandes festejos, enquanto se preparavam para a procissão. Tukulti-Ninurta,
Sargão, Senaquerib e Assurbanipal atacaram o muro e destruíram o santuário, mas
vieram Nabopolassar e Nabucodonosor para reconstruir tudo. Ciro foi o primeiro
conquistador que não destruiu e deu liberdade de religião para todos.
O autor de “Deuses, Túmulos e Sábios” cita
outros grandes arqueólogos e estudiosos no assunto como Ernest De Sarzec que
trabalhou em Nippur no final do século XIX, e os norte-americanos Hilprecht e
Peters que escreveram sobre os sumerianos, chamados de “cabeças negras” (
civilização superior), que povoaram a terra e foram extirpados por povos
bárbaros depois do grande dilúvio.
O inglês Leonard Wolley escavou na região de
Ur, terra do patriarca Abraão, desvendando os ministérios de reis que dominaram
e conquistaram várias tribos da Mesopotâmia, como Sargão I (2684 a 2630),
primeiro soberano que reuniu vasto território. A lenda em torno do seu
nascimento se assimila a de Ciro, Moisés, Rômulo, Perseu e outros.
Seu trabalho de pesquisador serviu para
atestar que Hammurabi (1955 a !913 a.C.) conseguiu notabilidade a partir de
golpes políticos e militares. Já no reinado de Sargão II (722 a 705 a.C.), a
Assíria atingiu o maior grau de coesão. Este foi o pai de Senaquerib (704 a 681
a.C), o louco cruel, cujo filho Asarhadon começou a reconstruir Babilônia,
juntamente com seus descendentes Nabopolassar e Nabucodonosor.
Sobre os “cabeças negras”, Leonard nos passa
o domínio dos sumerianos na construção dos arcos arquitetônicos que se tornaram
conhecidos na Europa com as conquistas de Alexandre Magno quando os engenheiros
gregos se agarraram a esta nova forma de edificação e introduziram no mundo
ocidental.
Os romanos assumiram, posteriormente, o papel
dos gregos. O arco constituía um tipo de construção comum na Babilônia e,
inclusive, Nabucodonosor empregou na reconstrução da cidade no ano 600 a.C. Um
esgoto arqueado de Nippur deve datar de uns 3000 a.C. Os arcos de Ur fazem
recuar este principio arquitetônico a outros 500 anos.
Diz o autor em seu livro que “a força criadora
da cultura sumeriana era extraordinária e que seu influxo permeou todos os
domínios. Tudo o que floresceu exuberantemente em Babilônia e Nínive tinha suas
raízes em terreno sumeriano”.
NA AMÉRICA LATINA
Saindo da Suméria, na Mesopotâmia, o escritor
do livro penetra na América Latina, especificamente na civilização maia
(Honduras e Guatemala) e na terra dos astecas, no México. Nesses territórios,
até então desconhecidos, se destacaram grandes exploradores e estudiosos no
assunto, como John Lloyd Stephens, Edward Herbert Thompson, William Prescott,
Diego de Landa e muitos outros que deixaram suas contribuições para a
humanidade.
Stephens, por exemplo,
chegou a comprar a cidade de Comotán, entre Honduras e Guatemala, em 1839, para
descobrir os monumentos maias e suas expansões em Chiapas e Iucatã. Diego de
Landa, uma grande referência do tema, escreveu, em 1566, sobre o Iucatã e
realizou um trabalho profundo a respeito do mistério das cidades abandonadas
pelos maias. Prescott escreveu sobre a história dos astecas.
Thompson está para Iucatã como o alemão
Schlieman para Troia. O norte-americano, com sua valentia e coragem, foi o
responsável por desvendar o mistério do Poço Sagrado onde os sacerdotes
empurravam as donzelas como oferendas aos deuses em tempos de seca para que
eles se acalmassem e mandassem chuva.
Narra Diego de Landa que em tempos de seca os
sacerdotes e o povo seguiam em procissão por uma larga estrada até ao poço, a
fim de apaziguarem a cólera do deus da chuva. Jovens donzelas e moços eram
empurrados para o poço. Os nativos da região acreditavam que enormes serpentes
e estranhos monstros viviam nas profundezas escuras do Poço Sagrado.
Com atrevimento, Thompson contratou homens,
aperfeiçoou técnicas e penetrou até o fundo do poço, contra todos os
prognósticos de morte pelos nativos, e descobriu tesouros e preciosidades
antigas que eram jogados ao deus, bem como ossos de cadáveres.
Um ponto interessante nas descobertas dos
arqueólogos foi a constatação da influência dos rios no desenvolvimento das
principais civilizações do mundo, mas as dos americanos (incas, maias e
astecas) não foram fluviais, embora tenham demonstrado florescimento e
prosperidade. Os mais tinham agricultura, mas não criação de gado. É a única
civilização sem animais domésticos e de cargas. Nunca usaram o arado na terra.
Sobre esta importância dos rios, veja o que
fala o autor de “Deuses, Túmulos e Sábios”. Mais de três milênios antes de
Cristo os chineses fundaram seu império ao longo dos dois maiores rios, o
Hoang-ho e Iangtsé. Os indianos estabeleceram suas primeiras colônias sobre o
Indo e Ganges.
Das primeiras comunidades sumerianas nasceu
a civilização assírio-babilônica entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia. Os
egípcios foram sustentados e cresceram através do Nilo. “O que para estes povos
foram os rios, foi para os antigos gregos o estreito do Mar Egeu. As grandes
civilizações do passado foram fluviais”.
As civilizações americanas foram decapitadas.
“Atrás dos espanhóis, com cavalos e espadas, seguiam sacerdotes que queimavam
em fogueiras os escritos e esculturas que nos teriam dado informações”.
Na civilização maia, o seu maior destaque foi
o poder de calcular o tempo. De acordo com estudiosos, o calendário dos maias
era o melhor do mundo. Com o modo de calcular o tempo, os maias atingiram uma
precisão superior à de qualquer outro calendário.
No ano 238 a.C. Ptolomeu III aperfeiçoou a
contagem do tempo dos antigos egípcios. Júlio César aproveitou essa solução que
foi utilizada até ao ano 1582 da nossa era como Calendário Juliano, quando, por
iniciativa do Papa Gregório XIII, se instituiu o Calendário Gregoriano.
No caso do mistério das cidades abandonadas
dos maias, historiadores têm explicações diversas, como a de que a nação se
mudava quando as terras se exauriam de tantas queimadas. Os maias tiveram dois
impérios, o antigo e o novo. O antigo ficava ao sul da península de Iucatã
(Honduras, Guatemala, Chiapas e Tabasco). O novo ao norte foi fundado por
pioneiros como colônia do antigo em terras virgens, com manifestações
diferentes.
O povo do melhor calendário tornou-se escravo
dele. Construíam seus prédios e edifícios quando o calendário lhes ordenava.
Entre cinco, dez ou vinte anos eles levantavam um novo prédio.
Assim contam historiadores: Um povo inteiro
de cidades levantou pouso e abandonou as casas sólidas, as ruas, as praças, os
templos e os palácios e emigrou para vasta e selvagem região do norte. Ninguém
voltou mais. O local ficou deserto, a floresta invadiu as ruas e as ervas
daninhas cobriram as escadas... Nunca mais pés humanos pisaram o pavimento dos
pátios ou subiram os degraus das pirâmides.
Dizem que os maias foram o único povo do
mundo que expandiu o seu império de fora para dentro. O mais antigo data até
374 da nossa era (cidades de Uaxactún, Copán e Piedras Negras). O período médio
foi de 374 a 472 (Chiapas e Tabasco) e o grande período, de 472 a 610 (Flores,
Seibál e Viejo). A ordem social era implacável e existia um abismo entre
classes (nobres, sacerdotes e povo).
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