segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

COLABORAÇÃO DE CARLOS ALBÁN GONZALEZ:

Na Itália, Berlusconi busca a redenção

Aos 81 anos, ex-premiê e seus aliados lideram as pesquisas para eleições da semana que vem
Andrei Netto - Correspondente/Paris - O Estado de S.Paulo
O ex-premiê é ovacionado por admiradores em Roma                              
Ele foi dado como politicamente morto após ser condenado e tornado inelegível. Mas, aos 81 anos, Silvio Berlusconi está de volta. Três vezes chefe de governo, ele dominou a vida partidária italiana por mais de 20 anos. “Il Cavaliere” ainda cumpre pena por fraude fiscal, acompanhado de uma proibição de se candidatar até 2019. Mas a coalizão política que comanda informalmente lidera as pesquisas para a eleição do dia 4.
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Seu partido, o Força Itália, de direita, agora é aliado das duas maiores forças da extrema direita, a Liga Norte e os Irmãos da Itália, uma legenda derivada de um movimento fascista. Na sexta-feira, último dia em que as pesquisas foram autorizadas, o instituto You Trend, que faz a média de sete sondagens, indicou que o grupo de Berlusconi teria 16,8% dos votos, a Liga Norte ficaria com 13,2% e os Irmãos da Itália, 4,7%.
Juntos, esses partidos ficariam à frente do populista Luigi di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S) – hoje o maior partido político do país –, com 27,8%. A aliança também superaria a coalizão de esquerda liderada pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, do Partido Democrático (PD, de centro-esquerda), que obteria 27,4% dos votos.

O cenário, marcado ainda por 10 milhões de eleitores indecisos, indica a divisão do eleitorado em três blocos, o que não resultaria em nenhuma maioria sólida no Parlamento – o que significaria um novo impasse político. Neste panorama, Berlusconi vem se apresentando como uma espécie de “avô da Itália”, o sábio moderado capaz de liderar o país em um momento de grande divisão.

Para o empresário, proprietário do maior grupo privado de comunicação da Itália, com poderosas emissoras de TV ao seu lado, a situação representa a mudança em um quadro político e jurídico tido até pouco tempo atrás como irreversível.

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Envolvido em escândalos sexuais – as célebres festas “bunga-bunga” –, Berlusconi foi condenado, em agosto de 2013, por fraude fiscal. Ele cumpriu pena de serviços comunitários, foi expulso do Senado e impedido de se candidatar até 2019. Em seguida, seu velho partido se esfacelou, abrindo o caminho para dois jovens líderes – Matteo Salvini e Renzi – radicais de direita e de esquerda.

Mas, restabelecido de um acidente vascular cerebral e de uma cirurgia cardíaca, Berlusconi renasceu – mais uma vez. Fiel ao seu estilo, continua cuidando do bronzeado, esticando a pele com intervenções cirúrgicas e botox, implantes nos cabelos, tudo para mascarar a idade. Agora, porém, em lugar de um conquistador pronto a abater a próxima presa, ele posa de ponto de equilíbrio de uma Itália dividida.

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“O sistema político italiano é incapaz de produzir coisa melhor do que Berlusconi. Não importa o que pensemos, ele é um personagem político maior, que está na história da Itália. Renzi está longe disso”, disse ao Estado o historiador Giovanni Orsina, especialista em berlusconismo e professor da Universidade Luiss, de Roma.

Em grande parte, o sucesso do Cavaliere se explica pelo fracasso de Renzi. Defensor de uma reforma constitucional derrotada em plebiscito, o líder do PD perdeu força e hoje é uma pálida imagem do jovem promissor que chegou ao poder.

Sem alternativas, os italianos não perdem o bom humor. Professor de estudos políticos da Universidade de Milão, Stefano Stortone entende que não há razão para desespero. “Não estou assustado, porque a Itália sempre foi assim. Estamos habituados a ter governos horríveis”, afirma. “Há quase 30 anos, temos eleições farsescas em que, graças a acordos políticos entre esquerda e direita, Berlusconi sempre acaba de pé.”

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