UMA REPUBLIQUETA DE TRISTE REALIDADE
Jeremias Macário
No Brasil quando se pensa que já se viu de
tudo em termos de absurdo, aiaparece um fato que supera os outros. A deputada do
PTB Cristiane Brasil, indicada a ministra do Trabalho aparece num vídeo em uma lancha
entre sarados bem dotados seminus (aparência de gangster) reivindicando o cargo
que virou uma batalha jurídica.
Uma coisa, como pessoa pública, é ter
compostura no uso do seu espaço com liberdade para falar, a outra é cair no
ridículo público. Não se trata de moralismo. O modus operandi reforça aquela
imagem de que o Brasil é mesmo uma republiqueta. Em defesa e rebatendo as
críticas, o ministro Marun- logo ele tão conservador e retrógrado - chama a
mídia de talibã enrustida. Por essas e outras é que o Brasil lá fora é visto
como uma piada.
Os juízes continuam culpando o povo por ter
deixado, segundo eles, fazer o processo de biometria eleitoral para última
hora. Na verdade, o maior culpado mesmo é a crueldade do próprio sistema
eleitoral que, sem estrutura, expôs a população pobre a severas torturas (não
se viu rico e político nas repugnantes filas). Já observaram como a palavra
cidadão no Brasil foi banalizada e vulgarizada, tanto quanto o nome de Deus!
Mas, não é sobre as trapalhadas do governo do
mordomo de Drácula que quero falar (hoje qualquer um pode ser ministro). Muito
mais grave, como uma doença altamente contagiosa que faz todo organismo sangrar
até a morte, é a triste realidade dos números e dos fatos da educação no país.
Isto, ao longo dos anos, tem transformado o Brasil numa simples republiqueta.
Vamos, então, direto aos fatos. O nosso
Brasil tem hoje quase 12 milhões de analfabetos de 15 anos ou mais, o
equivalente a mais de 7% dessa população. No Nordeste, região que sempre
apresentou os piores índices sociais no âmbito nacional, inclusive de extrema
pobreza, a taxa sobe para 14,8%, quatro vezes superior ao que ocorre no sul,
que registrou 3,6% de analfabetos. A disparidade também se dá pela cor entre
negros e brancos.
Com base em 2016, os dados foram levantados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – PNAD Contínua). Estudo
da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostra que 53% dos
jovens brasileiros estavam matriculados no ensino médio em 2015, enquanto a
média dos países que integram a Organização é de 95%. Estima-se que mais 1,5
milhão de jovens entre 15 a 17 anos ainda estejam fora da escola. No conjunto,
o Brasil tem cerca de 2,5 milhões de crianças fora das salas de aula. Os alarmantes
índice de analfabetos nos remetem às disparidades regionais e às
profundas desigualdades sociais.
“Menos de 1% das crianças de 6 a 14 anos está fora da
escola, mas o sistema não faz com que fiquem até o fim do ensino médio”. É o
subtítulo de uma matéria (O problema é manter os estudos) publicada por um
jornal do Rio de Janeiro sobre a triste realidade da nossa educação. A baixa
qualificação dos professores, a deficiência na estrutura das escolas e a evasão
nos impedem de comemorar qualquer número na educação no país.
De acordo com artigo de um especialista do
veículo, o problema hoje não é atrair a criança e o jovem para a escola, mas
mantê-lo estudando. Para o avanço em manter as crianças dessa faixa etária nas
escolas contribuíram a diminuição das taxas de fecundidade e políticas públicas
eficientes, como o Fundeb e o Bolsa Família. No entanto, esta escola não está
conseguindo manter esses alunos no sistema até o 17 anos.
Pouco mais de metade (51%) da população de 25
anos ou mais tinha apenas o ensino fundamental completo em 2016 (o dado
permanece o mesmo, ou pior). Sem formação adequada, o país perde cada vez mais
produtividade e competitividade em nível global. Aumenta cada vez mais o fosso
no nível de desenvolvimento entre outras nações, inclusive entre os emergentes.
“No momento em que foi realizada a pesquisa,
24,8 milhões de pessoas de 14 a 29 anos – 48% da população nesta faixa – não
frequentavam a escola e não haviam passado por todo ciclo educacional até a
conclusão do ensino superior”. O mais triste e lamentável é que este quadro só
faz piorar e, sem educação, empurra o brasileiro para a subserviência, o
comodismo de espirito miserável e para a escravidão.
Segundo educadores, o Brasil não teve, nos
últimos anos, nenhuma política forte para combater estes indicadores negativos
de evasão escolar. Educação nunca foi prioridade dos políticos e dos governos,
tudo para que a ignorância se perpetue e eles continuem mandando no poder como
imperadores monárquicos.
Dentro desta triste realidade, existem outras
ainda piores e constrangedoras como consequência do péssimo ensino no país. Uma
delas vem do Enem, com destaque para a temida redação. Em 2016 foram 291.806
redações com a nota zero. Em 2017 o número saltou para 309.157.
Outro dado do Enem foi noquesito quantitativo
de estudantes que tiraram mil na redação, a nota máxima. Em 2016 foram 77
textos com a máxima pontuação, caiando para 53 no ano passado. Um cenário
estarrecedor. Praticamente não se vê mais jovem lendo um livro nos tempos atuais,
mas com um celular na mão, na grande maioria falando e escrevendo (errado)
besteiras, ou até praticando intolerância e ódio. Isto eles sabem muito bem
fazer.
Por não praticarem a leitura, o tema da
redação para estes jovens é sempre considerado como difícil e inesperado. Sem
conhecimento e preparo, o mercado de trabalho fica cada vez mais distante, sem
contar que formandos com diploma de terceiro grau (nível superior) estão cada
vez mais ganhando menos e se sujeitando a empregos de baixa categoria.
Na visão política materialista-técnica do
capital, herdada dos norte-americanos, e até de educadores e dos governos, a
saída é a profissionalização tecnológica onde o cara se especializa em fazer
uma única coisa, como, por exemplo, apertar parafusos e porcas como no filme de
Charles Chaplin.
A tendência mesmo é termos em futuro próximo
- aliás já vivemos neste mundo - um bando de cabeças vazias sem formação
humana, conhecimento geral e conscientização política. Na verdade, temos uma
multidão de robôs de expressão limitada, sem sabedoria e sem capacidade de
discussão. Sem leitura, sem pesquisa e o estudo em outras áreas, a redação só
pode mesmo ser zero.
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