sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:

PAÍS SEM CULTURA É PAÍS SEM ALMA
Jeremias Macário 
Por que as nossas crianças e até os adultos ficam fascinados com as estampas coloridas dos super-heróis norte-americanos nos cadernos escolares e não valorizam nossas personagens da cultura local? Por que preferem mais festejar o dia da bruxanos Estados Unidos que o saci, a caipora, a lenda do boto, a mula sem cabeça ou o bumba-meu-boi? Por que de tantos nomes em inglês nas vitrines das lojas do que o uso de letreiros em nossa língua portuguesa? Nos eventos promocionais do comércio lojista, não temos uma data ou uma criação de festejo, exclusivamente nosso.
Antes era a França o nosso espelho da moda, da etiqueta, da gastronomia e das ideias revolucionárias, e o Brasil adorava e idolatrava tudo que vinha da terra de Victor Hugo, Voltaire, Lavoisier, Rousseau e outros tantos intelectuais,pensadores e filósofos. Da colônia ao império, os brasileiros imitavam tudo o que chegava de lá, até talheres, pratos e xícaras. Começamos a partir dai a vender nossa alma cultural e a negar nossa identidade.
Depois vieram os Estados Unidos para ditar a sua cultura e roubaram a nossa maneira de pensar e de viver. Até hoje ficamos deslumbrados com seu cinema, seus super-heróis enlatados, filmes de “arrasa quarteirão”, sua política capitalista neoliberal, suas escolas de pensamento egocêntrico e prepotente de donos do mundo e suas criações de endeusamento do consumismo como forma de incentivar as vendas e o poder de compra.
  O consenso de Washington, da América dos norte-americanos, impregnou em nossas peles. Como subalternos e pobres coloniais sofrendo do complexo de inferioridade, esquecemo-nos da nossa cultura e ficamos sem alma. Deixamos que eles impusessem suas políticas, seus costumes e ficamos eufóricos em visitar seu país, mesmo sendo constrangidos e humilhados nos aeroportos como clandestinos. Perdemos a autoestima, e tudo que vem de lá é bom, é o melhor e deve ser imitado.
Continuamos pobres, inclusive de espírito, apesar de possuirmos um grande caldeirão cultural recheado de diversidades, com uma riqueza enorme em todo território.A mistura de povos entre índios, negros e brancos ibéricos expandiu o leque cultural multifacetado. Temos grandes músicos, artistas, escritores e matéria-prima suficiente para cultuarmos o que é nosso, mas destruímos como vândalos nosso patrimônio.
  Com um sistema perverso que privilegia as elites burguesas, desde os tempos do coronelismo e dos senhores de engenhos, em detrimento das camadas desfavorecidas que foram ao longo dos últimos anos escravizadas na miséria, a nossa cultura foi se diluindo e perdendo sua real identidade.A própria oligarquia se rendeu ao produto de fora, e os governantes entreguistas incentivaram a criação externa.
Damos muito mais valor aos cadernos de Batman, do Homem Aranha, do Homem de Ferro, da Mulher Maravilha, do Huck e outros heróis estrangeiros do que os personagens do desenhista Maurício de Souza. Não cuidamos bem do que é nosso como o Bumba-Meu-Boi, o Maracatu, a Capoeira, o Reisado, o Samba, o Forró e outras expressões, como é o caso do Carnaval.
  A festa momesca, por exemplo, foi infestada de batuques, rebolados e músicas de baixo nível. A estupidez das cantorias invadiu as ruas e aniquilou nossa cultura. Na Bahia, os banzêros, “os gigantes” as falsas rainhas e príncipes são os nossos “representantes culturais” nas vozes de trios e bandas do nível de “É o Tchan”. O mesmo vem acontecendo com o nosso Forró, cada vez mais descaracterizado e emporcalhado pelo estrangeirismo.
  A mídia submissa e idiotizada abre largos espaços para estes artistas das letras sem sentido que nada dizem. Cada gesto e atitude de um deles são acompanhados como grandes acontecimentos e feitos. O nascimento de um filho ou filha torna-se um espetáculo e um show à parte, com manchetes de páginas e imagens de bajulações carregadas de elogios baratos.
Cada veículo quer sair na frente com mais sensacionalismo que puder, para angariar mais simpatia, audiência e adesão dos súditos do “tira os pés do chão”, ávidos por notícias de seus “ídolos e heróis”. Tudo isso é estampado numa sociedade de profundas desigualdades sociais de filhos abandonados, desnutridos e incultosonde muitos morrem nos corredores sujos dos hospitais.
 Bebemos, todos nós, desse caldo amargode crise moral e ética, preparado pelos poderes legislativo, judiciário e executivo que empurraram nossa cultura para o fundo do poço. Agora mesmo, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou uma verba extra para o Congresso de R$888,7 milhões que serão usados para custeio dos 35 partidos políticos em atividade no país (mais 56 aguardam aprovação do TSE).
  Esse valor a ser repassado é equivalente aos recursos da União previstos este ano para a pasta do Ministério da Cultura e representa mais uma fonte de despesas que poderia ser aplicada na educação, na saúde e na segurança.Sem o suporte da cultura, a alma do país, passa-se a incorporar e a se incarnar em tudo o que vem de fora como forma de se continuar vivo. Perde-se assim a autoestima e o orgulho pelo o que é nacional.
A alta grana aos partidos é mais um custo do governo federal (dinheiro nosso), responsável por manter a Câmara dos Deputados que consome R$5,9 bilhões em salários, benefícios e custeio por ano, além de R$4,2 bilhões para o Senado, R$11,4 bilhões para a Justiça Federal e mais R$2 bilhões para o Tribunal de Contas. O Brasil é um país sem alma cultural.

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