Ristorante
Pedaço do Mar
Nando da Costa Lima
Quando
chegaram, pareciam uma tropa... Mas só era o coroné Climério com a família de
sua noiva, que a convite dele vieram provar a melhor buchada do Brasil. Tava
fazendo aquele agrado ao sogro porque este foi o último a concordar com o
casório, achava que Climério não era o homem certo pra sua filha. Os convidados
eram tão simples que mal comeram, mas Climério comeu por todos e ainda pediu
sobremesa. E foi essa a causa de tudo. Eles estavam no restaurante e dormitório
que margeava a Rio Bahia e que era vizinho da fazenda de Climério.
Na saída,
ele já sentiu a barriga roncando, e quando foi montar no seu burro de
confiança, sentiu uma pontada aguda e deu um peido de responsabilidade,
daqueles que melam cueca, calça e sela. O burro chegou a refugar, mas o coitado
tava amarrado e teve que se acomodar. Climério voltou de vez, nem chegou a se
sentar na sela, voltou no mesmo ritmo e já desceu do burrão esculhambando com o
cozinheiro e todo mundo que trabalhava naquela merda de restaurante. A comidatava
tão velha que em menos de vinte minutos ele já tava naquele estado, nem o burro
tava suportando o cheiro, quase tirou o cabresto! Mas ele como cliente do recém
inaugurado cliente do recém inaugurado restaurante “Pedaço do Mar” nem sei
porque aquele nome, naquele fim de mundo que só chovia de dois em dois anos,
caatingão brabo. Quando ficava marrom o jeito era se picar pra Sompa. Mas foi
nesse cenário que o coroné Climério se borrou todo na frente do restaurante, quem
tava no local, viu.Foi por isso que o coroné já entrou porta adentro do
restaurante com um 38 em cada mão, ia mandar o “miseravi” que fez ele passar
aquele vexame pro inferno. Não tava nem aí, ia disparar os dois revólveres na
cara do filho da puta que lhe serviu aquela comida estragada. E quem conhecia
Climerão sabia que ele não falava pras paredes.
O
cozinheiro e o dono do restaurante estavam fudidos, era um revólver pra cada
um. A turma do “deixa disso” e os que gostam de botar fogo entraram correndo
atrás do coronel cagado e retado,já tava fedendo defunto... Climério atravessou
a sala em que ficavam as mesas, chutou umas duas, deu um tiro pra cima e entrou
na cozinha babando e perguntando quem era o cozinheiro. Tinha três pessoas,
ninguém queria entregar ninguém. Foi aí que o Coroné envermelhou e ficou mais
retado. Deu um tiro no pé de um dos três e perguntou aos berros: “Quem foi o
corno que serviu aquela comida?”.
Aí foi o
jeito o conzinheiro, que também era o dono do restaurante, se entregar: “Fui eu
quem preparou a comida, coroné. Mas pelo amor de Deus, me perdoe. Além do mais,
a carne que o senhor comeu foi comprada no açougue do senhor. A nota tá até
aqui, é de hoje!”. Aí foi o jeito o coroné Climério descarregar as duas armas
naquele safado. Além de quase matar um homem de respeito de caganeira, ainda
queria desmerecer seu açougue que nos 30 anos de existência nunca recebeu uma
queixa.
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