OS ESPANCADORES DO FUTEBOL
Jeremias Macário
Basta o apito inicial da partida para todos
saírem em debandada atrás da “redonda” dando pancadas de qualquer jeito, sem dó
e compaixão. Das chuteiras começam a sair lasca e faíscas nas pernas dos
adversários. Todos estão ali com seus músculos treinados e marombados para
espancar e chutar, menos para jogar cadenciado como ela pede.
Na disputa de “arranca toco”, ela é
imprensada, sufocada e voa desnorteada e tonta de tanto apanhar. Na maioria das
vezes procura os braços das arquibancadas para com alguém se consolar.Não temos
mais craques para tratar a “senhorita” com todo carinho e zelo. Em poucos
segundos o juiz apita falta, e já nervoso, adverte a rapaziada truculenta para
ter mais calma. Dai em diante, o apito não para mais de apitar.
Nas laterais do campo,
berram os técnicos com palavrões que não se pode escutar. A torcida fanática
grita “treinador burro”, “pernas de pau”, “juiz filho da puta” e outros
impropérios e xingamentos de se arrepiar. O caldeirão vai esquentando e
fervendo até a raiva escura transbordar.
O nosso querido futebol,
tão decantado em prosas e versos, poético, cheio de lendas, histórias, craques,
diversão, fascinação, dos manés e pelés, não merecia tudo isso na Bahia e no
Brasil. Infelizmente, a “rainha bola”, de tantas alegrias e emoções, já não
rola mais redonda, como antigamente, mas quadrada e torturada. Ela anda
“murcha” de tristeza nesses pés pesados.
O cenário não é nada prazeroso e divertido para
se relaxar e curtir, mas, lamentavelmente, é hoje em dia a cara do nosso
futebol, feito de pancadarias, no campo, e fora dele, com murros, socos, pauladas,
mortes e sem punições severas e duras. Não foi isso que vimos no último domingo
entre o Ba x VI, no estádio do Barradão? Não existe mais espetáculo!
Existe sim, o espetáculo do horror. No chamado
clássico pela mídia, que não tem mais nada de clássico, e sim de monstruoso, os
trogloditas deixaram a “penada” de lado presenciado tudo e avançaram irados uns
contra os outros. O sangue começou a escorrer como na arena romana dos
gladiadores dos tempos antigos de Calígula Nero.
Poderiam, pelo menos,
se envergonhar da “moça bonita” largada lá num canto do gramado a ver aquelas
cenas proibidas para menores. Se serve de consolo, o futebol maltratado,
esmurrado, tão feio e violento, não é exclusividade somente da Bahia. Está em
todo Brasil, e o mal prospera porque não existe punição como em outros países
civilizados.
Na Bahia, por exemplo, além dos times do
interior serem pobres em todos os sentidos em relação aos dois maiores da
capital (uma covardia de disputas), os estádios são precários, com poucos
recursos. A iluminação é falha e o campeonato não tem atrativo. Geralmente, só
os dois de semprevão para a final.
Se foi deprimente ver aquilo
tudo no último domingo, em Salvador, pior ainda foi o cara em Mato Grosso,
espumando de raiva, baixar o sarrafo num gandula e logo depois o pau comeu na
linha de escanteio no campo.
O quadro é pavoroso, e ainda se diz que essas
pessoas são jogadores profissionais. Já joguei em minha vida, inclusive na
seleção do Seminário de Amargosa e no time da cidade, e nunca imaginei que o
futebol fosse cair nesse nível degradante.
Naqueles tempos, os “babas” de rua, de praças
e de campinhos de terra eram bem mais jogados que muitos ditos “profissionais”
de hoje de campeonatos estaduais, como o baiano, que nada tem de “Bahianão”
como assim é alcunhado pela mídia que passa o tempo elogiando jogadores
brucutus e partidas horríveis.
No caso específico do BA x VI de domingo,
fosse em outro país sério, a punição seria rígida, não apenas com a suspensão
de um ou dois jogos, que mais serve como bônus para que o bruto tire folga para
ir para as baladas da noite e fazer outras “cachorradas”. No ato, a polícia
deveria levar todos os provocadores diretamente para a delegacia mais próxima.
Como nada foi feito de punição pesada,
jogadores deram entrevistas depois dizendo que tudo aquilo foi passado e página
virada, e ainda pedem para que esqueçam tudo. Sem essa de esquecer e de página
virada! Eles falam isso porque não existe punição severa, e sabem que podem
logo mais repetir a dose.
Não são somente os jogadores (agem mais com
os pés do que com a cabeça) que são os culpados. Como é visível a escassez de
craques, para jogar a bola como ela gostaria que fosse, isto em todo o Brasil,
os técnicos incitam e fazem apelo para a força bruta, na base do bater sempre.
Eles chegam ao ponto de ordenar que seu pupilo seja expulso, como se viu no
domingo na Bahia.
Como jornalista, já realizei coberturas de
muitos jogos, e confesso que fiquei horrorizado com o que vi em campo, com
tantas agressões, xingamentos de técnicos contra seus jogadores, brigas de
bastidores entre diretorias e palavrões trocados, sem nenhum respeito.
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