23 de fev às 08:24
Andrés é genial e dono de uma carreira que dignifica o futebol
Não se assuste. A referência é a Iniesta, um dos melhores jogadores da história
Juca Kfouri
Andrés
Iniesta (à esq.) abraça o argentino Lionel Messi para comemorar o gol
de empate do Barcelona contra o Chelsea, em Londres Andrés Iniesta (à
dir.) comemora com o argentino Lionel Messi o gol de empate do Barcelona
contra o Chelsea, em Londres - Andrew Boyers/Action Images via Reuters
Andrés
Iniesta, é claro! Qualquer semelhança com quem a rara leitora e o raro
leitor possam ter imaginado se restringe ao nome. E só! O que joga a
vida inteira e mais um pouco esse espanhol no meio de campo do Barcelona
é uma enormidade.
Autor do gol solitário que deu à Espanha o seu
único título mundial, em 2010, na África do Sul, contra a Holanda, na
prorrogação, Iniesta é o cara certo nas horas incertas.
Formou ao
lado de Xavi uma dupla à altura da composta por Pelé e Coutinho, embora
pelo meio, não lá na frente. Duro saber entre Iniesta e Xavi quem era o
Pelé, quem era o Coutinho.
Mestre Tostão não teria dúvida em apontar Xavi como ainda melhor e embora deteste discordar dele, fico com Iniesta.
Na
última terça-feira (20) , o bicampeão da Eurocopa, em 2008/12, deu mais
uma prova do quanto é capaz quando a situação aperta. O Barcelona
exercia um domínio de quase 80% de posse de bola na casa do Chelsea.
Mas
era o Chelsea quem criava as melhores chances de gol, com duas bolas
mandadas nas traves catalãs pelo brasileiro Willian no primeiro tempo e
um belíssimo tento feito por ele já quase na metade do segundo tempo.
Desenhava-se nova derrota do Barça para o time londrino, porque os
espanhóis rondavam e rondavam a área inimiga, mas pouco conseguiam
penetrar, menos ainda chutar, apesar das tentativas bem engendradas,
sobretudo, pelo uruguaio Luís Suárez. A torcida azul cantava
enlouquecida no Stamford Bridge, a defesa do Chelsea parecia mesmo
inexpugnável, o jogo se aproximava rapidamente dos 15 minutos finais,
mas o dinamarquês Christensen cometeu a imprudência de atravessar uma
bola em frente à área inglesa.
Iniesta vinha voltando para seu
campo quando percebeu que entre ele e a bola havia a mesma distância que
entre Azpilicueta e a redonda.
Aos 33 anos, já sem o vigor de antigamente, deu o bote e chegou antes do rival, de 28, na dividida.
Com
um toque sutil ganhou a parada mesmo diante do carrinho do capitão do
Chelsea, ergueu a cabeça, entrou na área com firmeza e viu Suárez
aparentemente mais bem colocado que Messi, que vinha atrás, mas de braço
direito levantado, pedindo o passe.
Experiente,
brilhante, Iniesta não teve dúvida sobre quem servir e passou para
Messi bater seco, de esquerda, sem a menor chance para o excelente
goleiro belga Courtois, no primeiro gol do argentino em seu nono jogo
contra o Chelsea.
Gol que foi 80% de Iniesta.
Chega a ser um crime contra o futebol que Iniesta não tenha sido e jamais venha a ser escolhido como número 1 do mundo.
Até
foi eleito o melhor jogador da Eurocopa de 2012, mas em seu auge sempre
viu a disputa se limitar entre o companheiro Messi e o também
extraordinário português do Real Madrid, Cristiano Ronaldo.
Nada
contra um ou outro, muito ao contrário, aliás. Mas que Iniesta merecia a
honraria parece fora de dúvida. Porque dignifica o jogo e é
reverenciado pelo futebol.
Semblante sério o tempo todo, quando
transforma a genialidade em gol os olhos sorriem mais que os lábios, ao
expressarem a satisfação de quem sabe ter feito melhor que os
adversários.
Vida longa a Andrés Iniesta!
O autor deste
artigo, Juca Kfouri, Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em
ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
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