quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:

AINDA CARNAVAL E OUTRAS PORCARIAS
Jeremias Macário
Conversa descontraída de bar entre amigos adentramos nos nomes de ícones da música e da literatura baiana e brasileira das décadas de 50, 60 e 70 que se eternizaram com suas obras. No bate papo, concordamos que teríamos que esperar mais 100 anos, talvez um milênio,para repetir safra igual de bons frutos. Citamos uma enorme lista de papas das letras e dos sons.
  Desastre total foi tentar comparar estas feras com os atuais dos carnavais degenerados e misturados do axé, do pagode, do arrocha e do sertanejo romântico. Concluímos que estes de hoje com suas músicas medíocres de exploração da sexualidade e do preconceito não servem nem para carregar as malas dos instrumentos das personagens daquele período de ouro.
É o mesmo que fazer um paralelo entre os jogadores de futebol da seleção de 1970 e os arranca toco pernas de pau da atualidade, com raras exceções, que mais serviriam na época como gandulas para repor a bola do jogo. Triste Bahia e Brasil de lamentável regressão na cultura e em outros setores das nossas vidas! Triste mídia que incensa e incentiva as porcarias e não questiona!
  Sobre o carnaval, por exemplo, um leitor de um jornal da capital opina recordando os anos 50 e 60 das marchinhas de “Mulata Bossa Nova”, “Cabeleira do Zezé”, “Me dá um Dinheiro Aí”, “Piratas da Perna de Pau” e centenas de outras. Dos anos 80 e 90, ele aponta que a festa ainda apresentava conteúdo através de composições de Moraes Moreira, Caetano e de Gil, além das belas músicas de blocos, como Eva, do Jacu e dos Internacionais.
  Pula para o tempo atual e classifica como de péssimo gosto as músicas tocadas no carnaval baiano, visando somente a baixaria e a exploração da sexualidade. Para o leitor, estas pseudos músicas podem ser ouvidas apenas no sanitário e levadas para o esgoto no puxar da descarga. Diria eu que nem na latrina elas se salvam.
 A respeito da festa momesca, o advogado e compositor Walter Queiroz critica o gigantismo dos trios, “mastodontes sonoros que agridem nossos ouvidos, com músicas medíocres cultoras da baixa sensualidade e que acabam estimulando a violência, sobretudo contra as mulheres e homossexuais”.
Outro leitor sentencia que o Psirico, o Leo Santana, o Xande, Igor Kannário e tantos outros do mesmo balaio conseguiram superar a mediocridade. Para ele, algo precisa ser feito com urgência para mudar o nível do carnaval de Salvador.
Comenta que desta vez fomos surpreendidos por um tal JojoToddynho com sua tenebrosa música que pode ser eleita a melhor, o que não é nenhuma surpresa, visto que a festejada música baiana está mergulhada na lama. Faltou citar a ridícula “Popa da Bunda” e coisas desse tipo. Para ele, a única salvação foi o carnaval do Pelourinho.
   Em tom saudosista, lembra que, ao invés das bestialidades de hoje, como seria agradável ouvirmos de novo Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Gerônimo, Novos Baianos, o bloco do Jacu, de Walter Queiroz, os Internacionais, os Corujas, os bailes do Baiano de Tênis, do Português, Fantoches e por ai vai.
   Infelizmente, caros amigos (alô Ricardo De Benedictis, Gonzalez, Sérgio Fonseca, Itamar Aguiar, Anderson, Paulo Nunes e todo grupo do “Sarau A Estrada” que estará aqui no próximo dia 10), o Brasil de hoje das desordens, da ineficiência, da incompetência, da desorganização e da corrupção não difere muito do Brasil do início do século passado do presidente marechal Hermes da Fonseca (1910/140) quando o senador Rui Barbosa bradava contra as imbecilidades e quase ninguém o escutava.
 Conseguimos o feito de estarmos entre as dez maiores economias do mundo, mas com o contraditório dos piores recordes na educação, no índice de transparência com corrupção elevada, saúde de terceiro mundo, baixo nível de produtividade e profundas desigualdades sociais. A nossa imagem de republiqueta continua.
  Neste ambiente tão degradante de violência, de desonestidade, de trevas na cultura, de insensatez, de intervenções de forças armadas, de generais chegando com suas pesadas fardas, de ambiente escuro, de tanto comodismo, individualismo, alienação política e incertezas, tenho minhas dúvidas se ocorrerão eleições neste ano.

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