AINDA CARNAVAL E OUTRAS PORCARIAS
Jeremias Macário
Conversa descontraída
de bar entre amigos adentramos nos nomes de ícones da música e da literatura baiana
e brasileira das décadas de 50, 60 e 70 que se eternizaram com suas obras. No
bate papo, concordamos que teríamos que esperar mais 100 anos, talvez um
milênio,para repetir safra igual de bons frutos. Citamos uma enorme lista de
papas das letras e dos sons.
Desastre total foi tentar comparar estas
feras com os atuais dos carnavais degenerados e misturados do axé, do pagode,
do arrocha e do sertanejo romântico. Concluímos que estes de hoje com suas
músicas medíocres de exploração da sexualidade e do preconceito não servem nem
para carregar as malas dos instrumentos das personagens daquele período de
ouro.
É o mesmo que fazer um
paralelo entre os jogadores de futebol da seleção de 1970 e os arranca toco
pernas de pau da atualidade, com raras exceções, que mais serviriam na época como
gandulas para repor a bola do jogo. Triste Bahia e Brasil de lamentável regressão
na cultura e em outros setores das nossas vidas! Triste mídia que incensa e
incentiva as porcarias e não questiona!
Sobre o carnaval, por exemplo, um leitor de um
jornal da capital opina recordando os anos 50 e 60 das marchinhas de “Mulata
Bossa Nova”, “Cabeleira do Zezé”, “Me dá um Dinheiro Aí”, “Piratas da Perna de
Pau” e centenas de outras. Dos anos 80 e 90, ele aponta que a festa ainda
apresentava conteúdo através de composições de Moraes Moreira, Caetano e de
Gil, além das belas músicas de blocos, como Eva, do Jacu e dos Internacionais.
Pula para o tempo atual e classifica como de
péssimo gosto as músicas tocadas no carnaval baiano, visando somente a baixaria
e a exploração da sexualidade. Para o leitor, estas pseudos músicas podem ser
ouvidas apenas no sanitário e levadas para o esgoto no puxar da descarga. Diria
eu que nem na latrina elas se salvam.
A respeito da festa momesca, o advogado e
compositor Walter Queiroz critica o gigantismo dos trios, “mastodontes sonoros
que agridem nossos ouvidos, com músicas medíocres cultoras da baixa
sensualidade e que acabam estimulando a violência, sobretudo contra as mulheres
e homossexuais”.
Outro leitor sentencia
que o Psirico, o Leo Santana, o Xande, Igor Kannário e tantos outros do mesmo
balaio conseguiram superar a mediocridade. Para ele, algo precisa ser feito com
urgência para mudar o nível do carnaval de Salvador.
Comenta que desta vez
fomos surpreendidos por um tal JojoToddynho com sua tenebrosa música que pode
ser eleita a melhor, o que não é nenhuma surpresa, visto que a festejada música
baiana está mergulhada na lama. Faltou citar a ridícula “Popa da Bunda” e
coisas desse tipo. Para ele, a única salvação foi o carnaval do Pelourinho.
Em tom saudosista, lembra que, ao invés das
bestialidades de hoje, como seria agradável ouvirmos de novo Moraes Moreira,
Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Gerônimo, Novos Baianos, o
bloco do Jacu, de Walter Queiroz, os Internacionais, os Corujas, os bailes do
Baiano de Tênis, do Português, Fantoches e por ai vai.
Infelizmente, caros amigos (alô Ricardo De Benedictis,
Gonzalez, Sérgio Fonseca, Itamar Aguiar, Anderson, Paulo Nunes e todo grupo do
“Sarau A Estrada” que estará aqui no próximo dia 10), o Brasil de hoje das
desordens, da ineficiência, da incompetência, da desorganização e da corrupção
não difere muito do Brasil do início do século passado do presidente marechal
Hermes da Fonseca (1910/140) quando o senador Rui Barbosa bradava contra as
imbecilidades e quase ninguém o escutava.
Conseguimos o feito de estarmos entre as dez
maiores economias do mundo, mas com o contraditório dos piores recordes na
educação, no índice de transparência com corrupção elevada, saúde de terceiro
mundo, baixo nível de produtividade e profundas desigualdades sociais. A nossa
imagem de republiqueta continua.
Neste ambiente tão degradante de violência,
de desonestidade, de trevas na cultura, de insensatez, de intervenções de
forças armadas, de generais chegando com suas pesadas fardas, de ambiente
escuro, de tanto comodismo, individualismo, alienação política e incertezas,
tenho minhas dúvidas se ocorrerão eleições neste ano.
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