Futebol em Conquista, só em 2018
Carlos Albán González
O
ano acabou – e ainda estamos no primeiro semestre - para o Esporte
Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista. A despedida foi humilhante,
goleado por 5 a 0 para
o Vitória, no Barradão, pelas semifinais do Campeonato Baiano. Se a FBF
não organizar um torneio caça-níquel, denominado de Governador do
Estado, o torcedor local vai ficar pelo menos oito meses sem assistir a
um jogo de futebol no Estádio Lomanto Júnior.
Vão se contentar, como a maioria prefere, em ver as partidas dos clubes
do Rio e São Paulo pela televisão.
Ao
justificar o prematuro e longo “descanso” do seu clube, o presidente
Ederlane Amorim, que participou na semana passada de um curso de gestão
no futebol na CBF,
reclamou da falta de investimentos, tanto do poder público quanto dos
empresários conquistenses. Apelou para a nova administração municipal
“para que volte suas vistas para o esporte”, atividade praticamente
ausente, com exceção do ciclismo, em Vitória da
Conquista.
“Fomos
criticados por ter montado um time de jogadores locais, os chamados
peladeiros dos campos de bairros. Como podemos fazer contratações de
peso se não temos
recursos? Perdemos para clubes da série “A” (Bahia e Vitória). A
arbitragem nos prejudicou nas partidas contra o Vitória, tanto no empate
no Lomantão quanto na derrota em Salvador”, desabafou Amorim, que se
mostrou satisfeito com o quarto lugar no “Baianão”
deste ano, o que garante ao Conquista uma vaga na Copa do Brasil e no
Campeonato Brasileiro da série “D”, em 2018.
Por
comodidade, Amorim não fez nenhuma referência ao seu conterrâneo,
Ednaldo Rodrigues Gomes, presidente vitalício da FBF, cargo que ocupa há
16 anos, com mandato
até 2019, sem nunca ter sentido o gosto amargo de uma chapa
oposicionista. “Não tenho apego ao cargo e sou contra o continuísmo”,
repete sempre o “cartola”, que iniciou sua carreira no futebol em 1970,
jogando por clubes amadores de Conquista, e, posteriormente,
presidindo a liga local, de 1979 a 1984.
A
virada do século viu a ascensão de Rodrigues, torcedor declarado do
Vitória. Coincidentemente, a partir do ano 2000 o time rubro-negro
venceu 11 vezes o Campeonato
Baiano, contra quatro do Bahia, uma do Bahia de Feira e uma do
Colo-Colo (Ilhéus). Clubes profissionais têm protestado pela imprensa
contra as arbitragens. Respaldado no apoio da CBF e nos votos, por
aclamação, de mais de uma centena de ligas do interior,
o mandatário ignora as reclamações dos que se sentem prejudicados.
A
direção do Vitória da Conquista precisa observar que, no campeonato
deste ano, houve uma grande evasão de público no “Lomantão”. Os borderôs
dos jogos contra
Bahia e Vitória mostram a presença de um público pagante de apenas
6.593 torcedores, divergente do que se viu nas arquibancadas do estádio.
Uma ótima fonte de renda seria repassar para o torcedor, com preços
majorados, as cadeiras sob a marquise, na parte
central do estádio, que hoje são destinadas aos sócios do Conquista.
Afinal, o “Lomantão” pertence a uma entidade ou ao município?
A
título de informação, nos seis jogos realizados em casa pelo Campeonato
Baiano o “Lomantão” recebeu um público pagante de 11.013 pessoas, que
deixou nas bilheterias
a soma de R$ 203.992. Ao clube mandante coube apenas a quantia de R$
104.556, sendo que, na partida contra o Flamengo de Guanambi, o
Conquista assumiu um prejuízo de R$ 2.841.
Galícia e Ypiranga
Dois
tradicionais clubes baianos, com mais de 80 anos de existência, passam
por sérias dificuldades, sufocados por dívidas. Galícia e Ypiranga são
vítimas, como
centenas de coirmãos, principalmente os do Norte e Nordeste do país, da
má administração do futebol brasileiro. A CBF e as federações estaduais
privilegiam uns 20 ou 25 clubes, participantes do Brasileiro da série
“A”, que são mantidos em atividade o ano todo.
“O
Galícia é o filho bastardo da colônia espanhola”, disse-me, uma vez, um
rico empresário espanhol quando perguntei por que a empresa dele não
colocava a sua marca
nas camisas do clube fundado em 1º de janeiro de 1933 por imigrantes
galegos. Nos encontros da comunidade em Salvador sempre questionei por
que uma grande cervejaria, de fama internacional, patrocinadora do Celta
de Vigo, do Deportivo La Coruña e do Corinthians,
não investia no Galícia. A mesma pergunta eu fazia com relação ao maior
banco europeu, cuja matriz está em Madri.
Com
cinco títulos de campeão baiano e quatro participações em campeonatos
brasileiros, o clube que leva no peito a Cruz de Santiago Apóstolo,
padroeiro da Espanha,
volta em 2018 para a segunda divisão do futebol baiano (ganhou apenas
um ponto dos 30 disputados). Tenho informações de que o Galícia está
priorizando o rugby, cujo time, apelidado de “Bufalito”, já excursionou
ao exterior e é tricampeão nordestino, mandando
os seus jogos no pequeno estádio (capacidade para 5 mil espectadores),
na Avenida Santiago de Compostela, em Salvador.
Nem
sempre o patrocinador é bem-vindo. Foi o que ocorreu com o Ypiranga.
Seus diretores foram procurados em dezembro de 2016 por um grupo
empresarial do Rio de
Janeiro, que assumiu o compromisso de investir no futebol do clube
auri-negro, em todas as categorias, além de bancar os recursos para
alimentação, passagens e hospedagem dos atletas, e contratação das
equipes médica e técnica.
Resumindo:
os falsos investidores não honraram o acordo celebrado, colocando o
Ypiranga na condição de inadimplente junto a bancos, fornecedores e
comércio. Impossibilitado
de disputar o Campeonato Baiano da 2ª divisão, ao lado de mais cinco
coirmãos, “até porque há riscos graves à sua imagem, patrimônio e
finanças”, segundo nota pública divulgada no dia 17 de abril último,
onde revela que medidas judiciais estão sendo tomadas.
Fundado
em 7 de setembro de 1906, com a finalidade de reunir socialmente e
esportivamente parte da população de Salvador, excluída por motivos
étnicos e econômicos,
o Ypiranga se mantem até hoje fiel aos seus ideais, haja vista que sua
sede, na Vila Canária, oferece seus salões, piscinas e equipamentos
esportivos, aos moradores pobres da periferia de Salvador.
Com
dez títulos de campeão baiano, o clube presidido pelo seu ex-jogador
Emerson Ferretti, expõe em sua sede as fotos de torcedores famosos, como
dos escritores
Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, da beata Dulce e do mestre
capoeirista Pastinha, além do seu maior ídolo, o atacante Popó.
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