domingo, 28 de maio de 2017

COUNISTA VIP:

Conquista é poesia

Nando da Costa Lima

Conquista é uma poesia, mas para entender seus versos, é preciso conhece-la. Não é uma poesia comum que a gente lê de bate-pronto, entende e torna a esquecer. Ela é leitura difícil que exige mil artifícios para poder compreender, mas depois de assimilada é impossível esquecer. O seu passado é poesia, mesmo quando veio a fome (seca de 1899) a salvação foi em versos, ela veio com as pombas… O povo já estava desesperado, não havia mais recursos, a fome era vigente. De um dia para o outro milhares de pombas invadiram a Serra do Periperi, fizeram dali um ninho e os ovos por elas produzidos foram a salvação da população carente. As pombas só se foram da serra depois que a chuva voltou a molhar o sertão.
Conquista é poesia, para lê-la é preciso paciência, seus versos surgem aos poucos… Na política houve poesia… Nos idos de 1919 nossa gente estava em pé de guerra pela luta ao poder. Os coronéis é que mandavam, mas quem falou mais alto foi a poesia que se incorporou na parteira Laudicéia Gusmão. Ela pegou um rifle papo-amarelo, um instrumento dos coronéis, pendurou um lenço branco na ponta, atravessou a rua principal, reuniu os coronéis responsáveis pela luta e exigiu PAZ, evitando uma tragédia de grandes proporções.
Tenho para mim que um dia a poesia Mongoió vai se destacar. É que ela é meio lenta, não sei se por culpa dos órgãos culturais ou se é o tempo que aqui demora a passar. Mas um dia, tenho certeza, todo mundo vai saber que aqui viveu Maneca Grosso, um poeta genial que viu Conquista “Do Cimo do Morro da Tromba”. Viu e sentiu como ninguém, e quando o cito como pacifista é porque julgo que só um homem de paz responderia em versos a surra que lhe causou a morte. Conquista é terra de poetas: Camilo, Íris Silveira, Jesus Gomes, grandes poetas! Conquista é tão mágica que quem por aqui passa, sempre volta. Nosso principal ponto turístico é a personalidade de nossa gente, nós sabemos agradar de acordo o agrado. Aqui não se dá o outro lado da face para ser esbofeteada, e tenho certeza que Cristo entende essa nossa atitude. É que aqui é muito frio, e se um tapa de um lado já dói, imagine receber dois tapas! Gosto tanto de Conquista que às vezes sinto falta até das coisas que não vivi, como o “Magassapo” poeticamente descrito por Camilo, ou o “Velho Mulungu” que levou o poeta Erathóstenes Menezes a dedicar os versos que se tornaram antológicos em nossa literatura (Nem o poeta nem o pé de Mulungu são de Conquista, mas a inspiração de Toti é genuinamente Conquistense): “Buscando a tua sombra, a evocar o passado, a ti eu me comparo, amigo abandonado. Tu já não tens mais vida –  eu já não canto mais”. 
Conquista é poesia… ela é tão sensível que todo fim de tarde seu céu fica corado de saudade pelo dia que se foi.

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