quarta-feira, 17 de maio de 2017

COLUNISTA VIP:

UM CENTRO HISTÓRICO AGONIZANTE
Jeremias Macário
Estive em Salvador no início do mês e confesso que fiquei horrorizado ao visitar o agonizante Centro Histórico e suas imediações no Comércio. Dá pena e dor ver casarões caindo aos pedaços como o prédio dos azulejos azuis na Praça Cairu ao redor do Mercado Modelo que já foi bem mais atraente com os cantadores cordelistas comandados pelo grande”Bule-Bule”.
Uma nação que não preserva seu patrimônio artístico e cultural, seus costumes e hábitos perde seu passado e sua identidade. Isso só acontece no Brasil atrasado onde um Ministério da Cultura funciona como um jarro decorativo para enfeitar a mesa do governo que nunca deu prioridade à educação. Os soteropolitanos, infelizmente, continuam sem entender a importância da cultura do turismo e atendem mal o visitante. Existem muitos mitos em torno da hospitalidade do baiano e pouca realidade.
   É lamentável e vergonhoso mostrar a carcaça do Centro Histórico de Salvador para turistas, principalmente vindos do exterior. Os casarões agora estão servindo de moradias para morcegos. Melhor seria que toda área fosse interditada para que ninguém visse tanta feiura e desmazelo juntos. Parece que o Centro sofreu um bombardeio de guerra. Mas não, os governantes e políticos preferem exibir os prédios escorados e as paredes caiando. Bem que o Pelourinho pode ser usado para cenas de filme de terror, com morcegos e tudo!
  Além do abandono, dá medo andar no Pelourinho e nas imediações da Igreja do São Francisco e Ladeira da Praça até a baixa dos Sapateiros devido à quase total falta de segurança nesta época do ano. Com passos apressados e olhando para todos os lados e cantos, topei com poucos policiais e só tive um pouco de alívio na Praça da Sé. A sujeira também tomou conta dos lugares com calçadas quebradas e esgotos à vista. Eu e minha esposa saímos ilesos com vida, mas roubaram a lanterna do nosso carro.
Andei pela Rua Chile que me fez aflorar as recordações dos bons tempos dos magazines, da escada rolante das lojas Americanas, dos cafés, dos bares e boates noturnas frequentados por intelectuais, artistas, jornalistas e moças lindas da sociedade que despertavam cobiça aos transeuntes. É claro que a Mulher de Roxo era a personagem principal que não poderia faltar no cenário. Senti um cheiro úmido de limo, não o refrescante de antigamente.
  Aquilo ali fervilhava de gente dia e noite até ainda quando funcionava a governadoria. Os governantes e os “entendidos gestores” da política e da cultura acharam de desativar tudo e deixar no abandono. Agora estão querendo ativar com a instalação do novo Palace e um hotel onde funcionou o prédio do jornal A Tarde, na Castro Alves. Não acredito. Encontrei o poeta condoreiro consumindo sua solidão e revoltado com o que deixaram de fazer para proteger o Centro Histórico que está dando seus últimos suspiros de morte.
Bem, desci o Elevador Lacerda, meu companheiro de viagem quando trabalhava como repórter da área de economia, e fui atacado por um bando de vendedores ambulantes de correntinhas, fitas e outras bugigangas. Só de ver o estado dos casarões da Rua Portugal e adjacências, não deu mais vontade de romper em frente nas outras artérias entupidas do Comércio. Até que o Mercado está arrumado, mas precisa de mais organização em seu entorno, especialmente no que tange a segurança.
  Com uma lei inócua de isenção do IPTU para os proprietários que cuidarem de seus estabelecimentos, a Prefeitura Municipal fala de recuperação do Centro Histórico, mas tudo não passa mesmo de mais uma falácia, sem praticidade. A conservação do patrimônio arquitetônico tem que ser uma responsabilidade conjunta do Município, do Estado e da União.
  Como um todo, com exceções das belezas naturais de suas praias e da Baía de Todos os Santos, Salvador está cada vez mais feia e desumanizada por dentro com as armações pesadas de concreto armado, como a Via Expressa que matou a Heitor Dias, Baixa de Quintas e a Caixa D´Água. Senti-me sufocado ao visitar esta região e ver tantos viadutos, sujeira, balbúrdia, insegurança e congestionamento de carros. A Rótula do Abacaxi continua um abacaxi azedo e podre.
  O Brasil é o único lugar do mundo que tem a façanha estúpida e ignorante de deixar ao abandono e destruir seus lugares históricos, monumentos, prédios e marcos do passado. Por falta de educação e condição social negada aos brasileiros, os vândalos roubam e depredam tudo que represente a arte. E assim, o país vai apagando seu passado de história.

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