sábado, 30 de setembro de 2017

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:



Fidelão ganhou a luta
 Eram dois dos maiores lutadores do Nordeste, já tinham lutado pelo Brasil todo. Era ter qualquer inauguração de loja, aniversário de cidade, circo... qualquer desses eventos estavam lá Fidelão e Leão do Norte. Ambos fortíssimos e já vinham se enfrentando há tanto tempo que eu acho até que ficaram amigos. Mas é como eu tava falando, se “rolasse um troco” os dois lutadores se encaravam até em batizado. Conquista era bem menor, o ponto mais movimentado da cidade era o Jardim das Borboletas no domingo à tarde. A meninada se lavava, brincava, namorava e brigava... O pior é que quando chegava com um olho roxo em casa ainda tomava um “côro” por ter apanhado na rua. Era a regra, todo mundo admitia!
 Mas foi numa Conquista dessa época que um partido resolveu lançar um jovem candidato pra disputar uma vaga de vereador. E nesse tempo ninguém melhor que Pedro Alexandre pra representar a juventude conquistense. Nesse tempo, Dom & Ravel ainda faziam sucesso cantando: “Eu te amo meu Brasil...”. Era uma bestagem só. Mas Pedro resolveu levar a campanha a sério, começou a ler sobre política, participava mais das conversas com a comunidade, mesmo sendo jovem. E como todo jovem, ele chegou pra inovar, ia botar uma porção de ideias futuristas na cabeça daquela velharia. Já tinha gente pagando 3 pra 1 com ele se elegendo. Pedro se empenhava cada vez mais em consertar o Jeep que lhe deram pra fazer campanha e convencer o eleitorado que ele era o homem certo para ocupar um das cadeiras tão cobiçadas.
Tava faltando menos de um mês para a votação. Pedro Alexandre tinha notado que tava perdendo espaço, tinha que bolar alguma coisa diferente pra atrair o pessoal jovem, só assim pra ele se eleger. E foi no Hotel Cometa que ele encontrou com a possível salvação da lavoura. Os dois lutadores mais requisitados do Nordeste estavam hospedados. Aquilo caiu como um presente na cabeça do futuro político, era só promover a luta no domingo à tarde no Jardim das Borboletas e tudo estaria resolvido. Independente de quem ganhasse aquela megaluta, Pedro Alexandre seria eleito e encheria os olhos da rapaziada.
E foi marcada a luta para uma semana antes da eleição. O futuro vereador ia bancar a hospedagem com alimentação dos dois lutadores no grande Hotel Cometa. O dono do hotel não gostou muito da ideia, mas “de filho a gente engole tanto sapo”. Foi o jeito participar sem querer da campanha do filho. A luta aconteceria em cima duma carroceria de um caminhão cedido por um empresário. Os lutadores, antes do evento, tiveram a sabedoria de forrar todos os parafusos e quinas do veículo que poderiam causar grandes problemas com toalhas que o comércio fez questão de dar. Pedro ficou no meio do ringue (caminhão) e fez um discurso político. Em seguida, distribuiu pão para os mais humildes junto com o número que ele iria concorrer, tudo como sempre foi naquele tempo. Aí começou a luta, todo mundo torcendo pra um dos dois se fuder. A meninada gritava, os entendidos apostavam, quem não gostava de violência foi para a Cidade dos Pássaros namorar. De repente, um baque foi ouvido na carroceria do caminhão. O boxeador Leão do Norte tinha desabado. Levantou, levou a mão à testa e quando viu o sangue, não suportou. Teve uma crise de choro. A molecada, quando viu aquele homão chorando, começou a gritar: “O lutador é bicha, é o cabeludo do hotel”. Leão do Norte não aguentou ser insultado e tentou pegar Pedro Alexandre pra dar um pau, mas o candidato se livrou sem maiores problemas. A polícia foi acionada, os ânimos foram acalmados, Fidelão e Leão do Norte partiram pra Jequié e o nosso candidato infelizmente não se elegeu... Mas tomou gosto por esse negócio de promover eventos e ficou famoso, segundo o povo. Ele já deve estar beirando os 70, não tá nem aí pra porra de fama. Mas Fidelão e Leão do Norte eu tenho quase certeza que ficaram famosos, até hoje tem gente que se lembra dessa luta.

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