Nando da Costa Lima
Bejalviro estava comemorando os seus
75 anos junto aos parentes no seu sítio no interior de “Sompaulo”. Tinha
sobrinhos, irmãos e a#lhados, só não #lhos e netos. É que o an#trião, apesar de já ter
sido casado, havia separado. Marinalva aprontou tudo que podia com ele, tanto que até Bejavalviro,
que era meio passado, acabou descobrindo. E nesse dia ele
resolveu contar porque nunca mais nha pensado em casamento, e olha que tava se sentindo vingado, de alma lavada. É que nha recebido uma carta da ex-mulher dando os
parabéns pelos 75 anos e implorando para acabarem
esta caminhada juntos: “O tempo
apaga tudo...”. Mas, para Bejalviro, o tempo não apagou nada, e ele fez questão de
responder a carta à altura. Antes de enviar, como vingança, leu a missiva para todos
os presentes na comemoração do seu aniversário. Teve até fundo musical... Ele fez
questão de caprichar, pois nha muito parente da ex-mulher na festança, e a maioria dos
convidados conhecia a história. Quem entregou a carta de Marinalva para Bejalviro
foi seu ex-cunhado, a quem ele não via a muito
tempo. Mas Beja nunca esqueceu de
ele contar um caso e em vez de falar seu nome, falou “o corno do meu cunhado”.
Bejalviro ia chegando na hora... Isso fazia parte do rancor do velho pelo “amô” do
passado.
E começou a ler a carta resposta:
“Pois é, Marinalva, lá se vão anos e anos, esse tempo deu pra eu botar a cabeça no
lugar, saí daí traumatizado
com a experiência que tive
com você. Foi duro suportar tanta humilhação, mas graças a São Jorge eu sacudi
a poeira e consegui me reerguer em
Sompaulo. Mas até tirar
você da cabeça eu engoli muita cachaça, nem sei como não
morri de pinga. A primeira coisa que #z pra começar a me ajustar foi parar de beber e
nem pensar em casamento, você me maltratou demais. Eu acho que até hoje tem
gente que lembra da sua safadeza, em plena lua de
mel você conseguiu
me trair com
todos os integrantes do bloco dos ‘caçadô’, aquilo foi um absurdo, e
gerou o primeiro dos
muitos apelidos que ganhei por sua causa: ‘Corno Caçadô’. Foi o caso
mais grave de
cornitude que ocorreu por aí, se fosse pra matar os ‘Ricardão’ eu teria
que comprar uma
metralhadora e um caminhão de bala. Mas é isso, em tudo o tempo dá um
jeito. Hoje eu
tô aqui, tranquilo, em paz comigo mesmo, e na hora que abri uma
cervejinha pra
prosear com um vizinho, chega uma carta sua... É que apesar das suas
safadezas, eu nunca
deixei de pensar em você. Noêmia de Noca me deu logo uma bronca,
perguntou se eu
tava pensando em virar corno depois de velho, porque segundo ela, você
me deu o título de ‘rei dos cornos’. Eu até dei risada, mas no fundo ela
tem razão... Você só não
foi com meu avô porque na época não tinha viagra. Quando a mulher é muito fogosa, o
povo fala que é porque tem ‘fogo no rabo’. Você então devia ter um crematório. Teve
gente que me contou que você passou a lixa até em Cafezinho, e a Dulce me garantiu que você chegou a engravidar de
Mania, além de ter passado três dias no mato com
Vitório Cocão. Resumindo, nem os doidos você deixou escapar. Tem anos que saí daí
pra não morrer de vergonha. Agora eu queria saber onde é que você tá com a
cabeça pra imaginar que eu poderia cair na sua conversa de que eu fui seu único
amor, e de repente voltar logo agora com 75 anos nas · costas. Cê tá
achando que corno com o passar do tempo acredita em tudo? Se toque, costas. Cê
tá achando que corno com o passar do tempo acredita em tudo? Se toque,sua
piranha velha, graças a você até hoje eu nunca mais consegui ter relação com mulher nenhuma, nas vezes em que
tentei, falhei. Era só pensar em você me traindo e pronto, já era... Só estou
respondendo sua carta porque me falaram que você está muito doente, e como espiritualista
não podia fazer a desfeita de não responder, e principalmente lhe alertar: quando
você parar
pra outra, não se esqueça de que o Capeta, mesmo tendo chifre, parece
que não gosta de ser traído”. E pra vingança ficar completa,
encerrou a narrativa
cantando o tema do bloco dos “caçadô”: “Ô, leva eu minha
saudade, eu também quero ir”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário