“E A BÍBLIA TINHA RAZÃO” (II)
Jeremias Macário
O
autor Werner Keller nos conduz a uma viagem ao túnel do tempo desde
4.000 anos a.C no livro “e a Bíblia tinha razão”, que deve ser lido e
relido
para melhor compreensão do “Livro dos Livros”. A obra teve
sua primeira edição publicada em 1958 e é um apanhado
das pesquisas feitas por cientistas, arqueólogos, geólogos e
historiadores que procuraram desvendar os mistérios dos escritos
cuneiformes da Bíblia e comprovar se Ela, diante de tantos
questionamentos, tinha mesmo razão.
Muitos fenômenos e
hábitos culturais das antigas civilizações foram acoplados pela
Bíblia, muitos tidos como da providência milagrosa divina.
Vários
cientistas e arqueólogos deram outra conotação de cunho natural. Nas
lendas e fatos aparecem personagens parecidas, de tempos bem mais
distantes aos citados pelo Livro. De qualquer forma, o autor nos
transporta a uma viagem pelos reinos e deuses da Suméria, Babilônia,
Macedônia,
Síria, Persa e Greco-Romana.
Na introdução do
seu livro, o escritor nos relata que a porta para o mundo histórico do
Antigo Testamento foi aberta em 1943 pelo francês Paul-Émile Bota. Nas
primeiras escavações, na Mesopotâmia, a arqueologia se deparou com
imagens de Sargão II, o rei assírio que despovoou Israel e levou seu
povo em longas colunas. Dos Assírios, o Antigo Testamento cita o famoso e feroz Senaquerib que sitiou Jerusalém; Asaradon; e Assurbanipal, o rei incentivador da literatura e da cultura.
Lá nos achados está a Babel com sua esplendorosa torre. Foram ainda
encontradas as cidades escravocratas de Piton e Ramsés, as cavalariças
do rei Salomão com seus 12 mil soldados, as construções do rei Herodes e
a plataforma onde Jesus esteve diante do procurador Pôncio
Pilatos. Do Antigo Testamento muitas descobertas, e nem tanto sobre
o Novo Testamento.
Werner Keller descreve a região do
“Fértil Crescente” (rios Tigre e Eufrates) e o advento dos
patriarcas, de Abraão a Jacó, desde a Idade da Pedra à Idade do
Ouro. São também narradas as lendas (epopeia) de
Gilgamés (Guilgamech) que são delícias para se ler,
numa linguagem poética e contagiante. Nelas está a passagem do
Dilúvio dos sumérios escrita em acádico. São histórias cheias de
emoção sobre os reinos dos reis da Suméria e Acad (1960 a.C), a
dinastia da Babilônia (1830 a 1530 a.C.), a família do patriarca Abraão e
o famoso Hamurabi.
“Exterminarei da superfície da terra
todos os seres que fiz”. Deus se arrependeu da criação? “E passados os
sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio”. O autor fala dos
sumerianos e dos túmulos reais de Ur. Enquanto o túmulo era
fechado, os súditos do rei, lá dentro, oravam
pedindo o último repouso para o senhor morto. Tomavam drogas, reuniam-se em volta dele e morriam, voluntariamente.
Na Biblioteca de Nínive, construída pelo rei Assurbanipal, no século
VII a.C., foram encontrados 20 mil textos em barro. Dentre
as inscrições cuneiformes da tabuinha XI está lá a epopeia de Gilgamés
no encontro com o imortal Utnapistin (fiel adorador do deus Ea) quando o
rei quis saber
sobre o mistério da vida. Ele queria também ser imortal.
Utnapistin conta a Gilgamés que os deuses tomaram a resolução de acabar
com a humanidade por meio de uma inundação. O deus Ea, então, deu a ele
a seguinte ordem: Homem de Shurupak, destrói sua casa, constrói
um navio, abandona as riquezas, despreza os haveres, salva a vida,
introduz
toda sorte de semente de vida no navio. As medidas devem ser bem tomadas.
A mesma coisa que se passou com Utnapistin, a Bíblia nos narra a
respeito de Noé: Então, disse Deus a Noé... Faze uma arca de madeiras
plainadas...
E, de cada espécie de todos os animais, farás entrar
na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. O dilúvio ocorreu
por volta de 4.000 a.C.
As comparações entre as duas
narrativas de Utnapistin e Noé são bem parecidas. Essas regiões
tropicais estão expostas a um tipo de maré arrasadora,
cujas causas são ciclones acompanhados de terremotos e chuvas
torrenciais – conforme explicam cientistas e arqueólogos.
A
obra de Keller ainda descreve o Reino de Mari e seu exuberante palácio, o
maior, mais belo e organizado do Antigo Oriente, com divisões precisas e
uma administração impecável até 1700 a.C., quando os
exércitos de Hamurabi de Babilônia invadiram o território
e aprisionaram seus habitantes amoritas que amavam a paz. Nessa
comunidade, o comércio, a
cultura e a religião eram suas maiores expressões. O último soberano se chamou Zimri-Lim.
Naqueles tempos, os reis de Mari introduziram o
primeiro modelo primitivo de recenseamento, depois adotado
pelos babilônios, assírios, gregos, romanos e até pelos estados
modernos. Na mesma região (Harã, ou Ur), Abraão abandonou sua pátria 645
anos antes da saída dos hebreus do Egito, por volta do
século XIII a. C., data esta arqueologicamente confirmada.
Abraão deve ter vivido pelo ano 1900 a.C. No livro, o escritor narra
a grande viagem do patriarca para Canaã, partindo de
Harã, na Mesopotâmia, passando por Palmira (Síria), numa
distância de mil quilômetros.
A região onde se fixou
Abraão se tornaria depois a ser a pátria de Israel e foi batizada pelos
romanos com o nome de Palestina (Palishtim). A Terra Prometida por
Moisés tem início nas nascentes do Jordão até as colinas situadas a
leste do Mar Morto. Nos reinos de David e Salomão (1000 a 900
a.C.) se estenderam até o Mar Vermelho e no norte além de Damasco (Síria).
Mesmo assim, Egípcios, Assírios, Babilônios, Persas. Gregos e Romanos
sempre fizeram da Terra e seus habitantes joguetes de
seus interesses econômicos e políticos, principalmente. Quinhentos
anos antes de Abraão florescia ali uma grande comércio de importação e
exportação nas costas de Canaã. Por volta de 1900 a.C. era uma região
esparsamente povoada e território de ninguém onde aconteciam assaltos
praticados pelos nômades do deserto. Era também a terra da extração da
púrpura e nela reinou David em 1000 a.C.
Sobre “José do
Egito”, o autor Keller fala do domínio dos estrangeiros hicsos
vindos daquelas bandas da Síria, em 1730 a.C.,
encerrando as dinastias de 1.300 anos. Descreve também os sete anos
de abundância e os sete anos de seca (Bíblia) no Nilo, e a preocupação
do rei “Zoser” em não deixar o povo passar fome, quando
recomendou encher os celeiros.
Somente em 665 a.C. o Egito veio a ser conquistado pelo rei babilônico Assurbanipal.
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