sábado, 23 de setembro de 2017

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:

Mentira

Nando da Costa Lima

A mentira, natural a todos nós, nem sempre é prejudicial. Às vezes é até necessária, pois além de nos tirar do sufoco, serve para muitos como uma forma de desabafo. Todos sabem que os pescadores e os caçadores são experts em mentiras e, como todo mundo tem um pouco dos dois, não nos resta dúvidas de que o mundo é um paraíso de mentirosos (no bom sentido).
E para não fugir à regra, vou começar com uma mentira de caçador: Seu Tiroalbo, caçador dos antigos, estava comemorando seu 80º aniversário, e não podia faltar um “causo” de onça dos seus tempos de juventude para entreter os convidados. O pessoal fez uma roda em torno do velho, e ele começou a narrar uma estória quilométrica, daquelas que o caçador começa a perseguir a onça no Amazonas e termina no Rio Grande do Sul. Anda tanto que quem está escutando dorme. Mas vamos ao que interessa: Seu Tirobaldo, depois de muita labuta, dois dias e duas noites, conseguiu acuar a “bichona” de quase dois metros. Pegou a espingarda e mirou bem na testa da onça, e na hora em que ele ia puxando o gatilho o caso foi interrompido, pois havia chegado mais um convidado para lhe dar os parabéns. Depois do tradicional abraço, ele acomodou a visita na roda e perguntou aos espectadores: “Onde eu parei o caso? ”. Alguém respondeu: “O senhor já ia puxar o gatilho”. Ele agradeceu e continuou: “Aí então eu apertei o dedo, e foi pena pra todo lado”. Um dos convidados, desses chatos que não deixam passar nada, perguntou: “Mas seu Tiroalbo, o senhor estava caçando era onça, de onde surgiram essas penas? ”. O velho, mantendo a pose de caçador, respondeu sem gaguejar para não ficar como mentiroso: “As penas, meu filho, foi na hora que eu atirei, um índio atravessou na frente”.
Tem também aquela do pistoleiro que chegou num restaurante e pediu um bife mal passado. O pobre do garçom se esqueceu e trouxe bem passado, ao que o pistoleiro, sentindo-se ofendido, pegou o revólver e lhe deu dois tiros. Para se livrar da cadeia, contratou um advogado, e o Dr. vendo que o caso era quase impossível, explicou ao cliente que a única maneira de eles ganharem a causa seria mentindo, e o instruiu para que ele aumentasse tudo a respeito do garçom e diminuísse ao máximo toda a sua reação. E no dia do julgamento, quando pediram ao réu que contasse o que ocorreu no restaurante, ele relatou conforme fora instruído: “Eu tava com uma fominha danadinha, aí entrei naquele restaurantão, sentei numa mesa e fiquei esperando quietinho. Foi quando apareceu aquele garçonzão e perguntou com aquele vozeirão o que eu queria comer. Eu pedi um bifinho mal passadinho, demorou um tempão e depois de meia hora ele veio com aquela mãozona, segurando um pratão e botou aquele bifão na minha frente. Eu, quando vi que meu pedidinho tinha vindo erradão, peguei minha arminha e joguei duas balinhas nele “. Essa mentira não deu certo, e o juiz, gozador, leu a sentença: “Declaro o reuzinho culpado, e o condeno a 25 aninhos na detençãozinha”.
Existe a mentira criada só pra dar satisfação à vizinhança. É o caso daquele marido que chegou bêbado em casa e a mulher já estava esperando com um cabo de vassoura. Na hora que ele entrou, ela baixou o pau: batia de tudo que é lado. O cabo da vassoura pegava na parede e fazia um barulho que acordou o prédio todo. No outro dia, quando entrou no elevador todo roxo de pancada, e um vizinho indiscreto perguntou que barulho foi aquele em sua casa, ele respondeu com a cara mais limpa do mundo: “Foi a mulher matando um rato “.
Pois é, como eu falei, a mentira é uma constante na vida do homem, independente de condição financeira, grau de instrução, profissão: todos mentem, com maior ou menor intensidade. O ladrão mente pra polícia pra livrar a pele, o médico mente para o paciente para aliviá-lo, o menino mente para não apanhar, o marido mente pra mulher (ou vice-versa) para evitar brigas. Sendo assim, a vida se torna uma cadeia de mentiras, e homem nenhum consegue se isolar delas.
E nesse mundo de mentiras, a única coisa absolutamente real é a morte, a forma mais lógica encontrada pela natureza de nos lembrar que somos todos iguais. O resto é mentira!

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