TANAJURAS E TROPAS DE CARGAS
Jeremias Macário
Adaptado pelo meu amigo e conterrâneo Wilson
Aragão, um dos maiores compositores da Bahia e do Brasil, “Tanajura” é uma
antiga cantiga de meninos do sertão baiano, intitulada “Galinha Gorda”. Ouvindo
esta semana o seu CD “Capim Guiné” (Uma Guerra de Facão) lembrei de imediato na
relação entre aumento de impostos para engordar a cambada lá de cima e o
contribuinte-consumidor.
Quando a chuva se levanta no sertão, as
tanajuras (formigas voadoras) costumam cair nos terreiros e ai a meninada
alegre canta “Cai, Cai Tanajura, na Panela da Gordura”. Com toda sua sabedoria,
Aragão recolheu o folclore e fez uma linda canção. Cá com meus botões logo
pensei: Tanajuras somos nós e a Panela da Gordura são os três poderes que vivem
com suas mordomias às nossas custas.
Para tripudiar com nossas caras – o Brasil
tem que fazer uma guerra de facão – o Mordomo de plantão diz que o povo
compreende o último aumento de impostos do Pis/Confins dos combustíveis. A
música fala de espetar as tanajuras e jogá-las na panela da gordura. Pois é,
somos espetados todos os dias pelo “quintos dos infernos” e só lamuriamos.
Quando o brasileiro vai virar, de verdade, a mesa?
Os que já passaram e agora o Mordomo com seus
rebanhos selvagens de leitões, hienas, gaviões, urubus dos carros pretos são os
verdadeiros assaltantes e vândalos deste país, loteado pelas capitanias
hereditárias da política e dos cargos onde avós e pais vão passando suas
heranças malditas para os filhos, irmãos, tios, sobrinhos, primos até a
parentes distantes.
Eles são os predadores, nós as tanajuras e os
jumentos de tropas de cargas. Somos também gado e boiada levados ao matadouro.
Vejo este povo, que já paga altos impostos, tão solidário para ajudar aos mais
necessitados que vivem em extrema pobreza, mas tão resignado e indiferente que não se rebela contra a
escorcha e os desmandos.
Com o nosso sentimentalismo tupiniquim, acudimos
os miseráveis para preencher a lacuna deixada pelos governos do Estado através
de campanhas de doações de todo tipo e espécie, mas o quadro lastimável
continua e piorar a cada ano. Não somos indignados ao ponto de reverter e mudar
a triste realidade. Então, muita coisa está errada. É triste ver este povo
vivendo eternamente de esmolas.
As ações de pena e caridade não são seguidas
de rebeliões, levantes e protestos. A caravana de lobos passa e nem olha para a
desgraça humana nas cidades e nos campos. Engordamos o Estado e ainda temos que
dar esmolas? O ciclo é vicioso porque
tem sempre gente pedindo e não acaba nunca.
JUMENTO DE CARGA
O contribuinte-consumidor é mesmo um
jumento que passa toda sua vida carregando peso para o seu dono e ainda é
chicoteado quando reduz os passos diante de uma carga excedente. Quando não
serve mais e poderia ter seu descanso num bom pasto, é levado para o matadouro
e triturado para servir de ração humana e animal.
O governo vai arrecadar mais de 10 bilhões de
reais com a elevação dos impostos. Esta é a quantia gasta por ano com as
mordomias e benesses do Congresso Nacional onde deputados têm altas verbas
indenizatórias (mais de 25 assessores) e senadores mais cerca de 80
sacratrapos.
Nesta conta não estão incluídas as despesas
com auxílios-moradias dos juízes do judiciário e outros penduricalhos, nem os
polpudos salários dos servidores comissionados, mais de 100 mil. E as
aposentadorias dos marajás? É muita gordura pra cortar, mas, tudo isso, diz o
Mordomo: A população entende.
E AS EMENDAS?
Para livrá-lo da denúncia de corrupção, o
Mordomo soltou em julho cerca de dois bilhões de reais para os deputados, coisa
que, além de escandalosa, nem deveria existir. E os gastos com jantares e
almoços para aliciar parlamentares? Toda esta conta junta renderia mais de 20
bilhões, o que evitaria aumento de impostos, aliviando a carga do jumento que
vive suado de pernas abertas com tanto peso nas costas. O quê o Mordomo está
querendo? Uma guerra civil no país?
Causa-me arrepio quando vejo aqueles carros
pretos cortando apressados a Esplanada dos Ministérios em direção aos palácios.
Vem à minha mente aqueles filmes de gangsteres das máfias mais perigosas e
poderosas com o “direito” de ceifar vidas. Lá vão os homens de preto tramando
as piores maldades contra o povo brasileiro. Nada de bom acontece quando eles
passam todos luxuosos como condutores dos nossos destinos. Preferia os russos
chegando!
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