sábado, 15 de julho de 2017

COLUNISTA VIP:



A BALEIA
      Nando da Costa Lima      
Eu nem cheguei a ver esta baleia, acho que nem era nascido, mas escutei meu pai e Zé Pedral comentando e dando risada deste fato, e a tal exposição realmente existiu.... Foi numa época em que a Pituba ainda era estação de veraneio para os moradores de Salvador. Aconteceu que uma baleia encalhou nas praias da Pituba e acabou morrendo. Pra quem morava na beira do mar, a baleia só chamou a atenção por alguns dias, foi muita gente ver o animal encalhado, mas na visão de um empresário e empreendedor aquilo era uma mina de dinheiro. Belmiro teve a brilhante ideia de colocar a baleia na carroceria do seu caminhão e entrar pelo interior mostrando o bicho para o pessoal que nunca tinha visto um “peixão” daqueles, ia encher os bolsos de grana. Investiu pesado: comprou a lona de um circo que quebrou em Sergipe, tinha que cobrir o caminhão e a baleia, senão quem iria pagar ingresso? Causaria impacto em muita gente que nunca tinha ido ao litoral e nem imaginava que chegaria a ver o maior dos animais do planeta sem sair do interior. Ele começou sua jornada para mostrar o “Monstro dos Mares” pelo interior da Bahia, seu plano era chegar até o norte de Minas e quem sabe até Belo Horizonte, só que ele esqueceu de um pequeno detalhe: baleia também apodrece!
Em Feira a bicha já tava cheirando mal, mas dava pro pessoal encostar. Quando chegou em Jequié o fedor já espantava gente, ainda assim dava pra expor. Parou em Poções só pra remendar a “bichona”, usou pedaços de lona para tampar os buracos que já apareciam com a decomposição. Teve até um poeta de lá que escreveu um verso que ficou famoso na época: “A BALEIA NADA, NADA, NADA, NADA E NADA...”. (E olha que nessa época nem se falava em minimalismo). Quando chegou aqui em Conquista já tava com um cheiro insuportável, mas mesmo assim foi exposta na Praça da Bandeira. Um cego que fazia “ponto” na porta da catedral fez até um infeliz comentário que levou o padre a expulsá-lo: “Parece que a mulherada de Conquista resolveu fazer greve e parou de tomar banho de vez, aí lascou!“. Fedeu a cidade toda, o prefeito mandou Belmiro ir embora com aquilo no mesmo dia, o cheiro tava de matar. Quando chegou em Minas a polícia o obrigou a voltar ou a dar fim naquela coisa tão fedorenta, foi o jeito enterrar a baleia. O dinheiro que ganhou foi todo embora com a empreitada pra cavar um buraco e enterrar o animal. Só ficou o apelido: Belmiro Peixe Podre.
Só não sei exatamente onde foi o enterro, mas foi até bom escrever isso pra servir de alerta: se por acaso algum arqueólogo encontrar a ossada da baleia que foi enterrada no norte mineiro, não vá deduzir que aquilo é uma prova concreta de que Minas já teve mar. Foi só um empreendimento que não deu certo. Se você conquistense tiver algum parente beirando os noventa, pergunte pela baleia. Dr. Ruy Medeiros, que é historiador, deve saber desse causo mais detalhadamente, deve até ter tirado uma fotografia da “baleiona”...                                                                                          

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