quarta-feira, 12 de julho de 2017

COLUNISTA VIP:



NO PAÍS ONDE PROVAS SÃO INDÍCIOS
Jeremias Macário
Hoje tem espetáculo? Tem sim, senhor! Lembro disso quando era moleque na minha pequena cidade do interior e o palhaço do circo perguntava aos meninos que seguiam atrás dele se naquele dia ia ter mesmo espetáculo. Era uma forma de anunciar o show e atrair mais gente para o circo. O Brasil virou um circo, mas, sem nenhuma graça!
  Não adianta ficar estarrecido e revoltado. Você está no país onde provas não existem. Não passam de simples indícios. Cada um faz sua avaliação político-partidária e pronto. Aqui temos um circo montado onde tem espetáculos todos os dias, com uma produção inesgotável de grandes atores dos disfarces, dos efeitos especiais e da cafajestagem.
  Estamos sim no país onde gravações, assinaturas próprias e filmagens dos criminosos não são provas. Elas não passam de suspeitas. O cara é filmado como um rato com malas cheias de granas e, mesmo assim, a imagem não constitui prova. A assinatura do indivíduo e a gravação de voz são negadas e o fundo do poço da política é mais embaixo. Nunca se chega lá.

  O senador monta um esquema para receber dois milhões de reais de propina de um empresário e depois diz que era um empréstimo. Ora, se era um empréstimo legal precisava fazer uma operação clandestina para receber o dinheiro? É que ele acha que toda nação é burra, que só têm idiotas e otários. O outro ia levar os 500 mil pra quem? Para seu patrão, é claro!
  O legislativo e o executivo, em torno de suas corporações, conseguiram a maior façanha do mundo que foi de tornar impossível quaisquer elementos de provas. Ficam masturbando as ideias, batendo enquanto pode toda nojeira no liquidificador e as provas terminam sendo engavetadas como indícios sem provas. No final, o réu vira um coitado inocente perseguido por forças malignas.
  Aqui no Brasil a filmagem registra um soldado espancando, torturando eexecutando um cidadão, e o comandante da corporação afirma que vai apurar o caso. Mas, apurar o quê mais se a imagem já diz tudo? O povo fica frustrado, mas continua esperando que um dia as coisas vão melhorar.
  Toda vez que tem “julgamentos” no Congresso Nacional arma-se o circo - aliás ele está sempre armado com sua lona suspensa – e a grande mídia, a maior parte tendenciosa, vem atrás para fazer o papel de suspense e sensacionalismo como se tudo fosse sério e o culpado será condenado.
  A população, como sempre, acredita e fica empolgada com os noticiários. Acha que dessa vez vai, mas o final é o mesmo de decepção. Os fatos assim se sucedem como no caso do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que tinha provas robustas para condenar a chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico com o uso de propinas nas eleições de 2014. Mais uma vez as provas foram anuladas e tudo não foi além dos indícios.
  Neste espetáculo frustrante, a venda nos olhos da figura que representa a Justiça deixou de ser uma metáfora para falar da imparcialidade, para revelar que, literalmente, a Justiça sofre de cegueira. Ela é mesmo cega e liberou geral. Escancarou de vez a falta de lisura no pleito eleitoral.
Aliás, aproveitando o embalo da prosa, temos no Brasil um ministro do Supremo Tribunal Federal que é declaradamente político-partidário em suas decisões e mais da metade do país acham ser normal o seu desvio de conduta. O cara é uma verdadeira excrescência e fede demais!
  O Brasil sangra todos os dias, os noticiários da mídia ficaram nojentos e não dá mais para se formular uma conversa política numa mesa de bar ou numa roda de amigos. A insensatez prevalece em meio aos antagonismos de puros interesses particulares.
 A ordem é falar amenidades e besteiras para não se indispor. Diante de tantas incoerências consentidas, não dá mais para parlamentar e polemizar. As patrulhas estão em todos os lugares para te vigiar e condenar. Cuidado, fale só o corretamente político e finja que está aceitando o absurdo! Estamos no país que aboliu o conceito de prova. Está tudo avacalhado!

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