NO PAÍS ONDE PROVAS SÃO INDÍCIOS
Hoje
tem espetáculo? Tem sim, senhor! Lembro disso quando era moleque na minha
pequena cidade do interior e o palhaço do circo perguntava aos meninos que
seguiam atrás dele se naquele dia ia ter mesmo espetáculo. Era uma forma de
anunciar o show e atrair mais gente para o circo. O Brasil virou um circo, mas,
sem nenhuma graça!
Não adianta ficar estarrecido e revoltado.
Você está no país onde provas não existem. Não passam de simples indícios. Cada
um faz sua avaliação político-partidária e pronto. Aqui temos um circo montado
onde tem espetáculos todos os dias, com uma produção inesgotável de grandes
atores dos disfarces, dos efeitos especiais e da cafajestagem.
Estamos sim no país onde gravações,
assinaturas próprias e filmagens dos criminosos não são provas. Elas não passam
de suspeitas. O cara é filmado como um rato com malas cheias de granas e, mesmo
assim, a imagem não constitui prova. A assinatura do indivíduo e a gravação de
voz são negadas e o fundo do poço da política é mais embaixo. Nunca se chega
lá.
O senador monta um esquema para receber dois
milhões de reais de propina de um empresário e depois diz que era um
empréstimo. Ora, se era um empréstimo legal precisava fazer uma operação
clandestina para receber o dinheiro? É que ele acha que toda nação é burra, que
só têm idiotas e otários. O outro ia levar os 500 mil pra quem? Para seu
patrão, é claro!
O legislativo e o executivo, em torno de suas
corporações, conseguiram a maior façanha do mundo que foi de tornar impossível
quaisquer elementos de provas. Ficam masturbando as ideias, batendo enquanto
pode toda nojeira no liquidificador e as provas terminam sendo engavetadas como
indícios sem provas. No final, o réu vira um coitado inocente perseguido por
forças malignas.
Aqui no Brasil a filmagem registra um soldado
espancando, torturando eexecutando um cidadão, e o comandante da corporação
afirma que vai apurar o caso. Mas, apurar o quê mais se a imagem já diz tudo? O
povo fica frustrado, mas continua esperando que um dia as coisas vão melhorar.
Toda vez que tem “julgamentos” no Congresso
Nacional arma-se o circo - aliás ele está sempre armado com sua lona suspensa –
e a grande mídia, a maior parte tendenciosa, vem atrás para fazer o papel de
suspense e sensacionalismo como se tudo fosse sério e o culpado será condenado.
A população, como sempre, acredita e fica
empolgada com os noticiários. Acha que dessa vez vai, mas o final é o mesmo de
decepção. Os fatos assim se sucedem como no caso do julgamento do Tribunal
Superior Eleitoral que tinha provas robustas para condenar a chapa Dilma-Temer
por abuso de poder econômico com o uso de propinas nas eleições de 2014. Mais
uma vez as provas foram anuladas e tudo não foi além dos indícios.
Neste espetáculo frustrante, a venda nos
olhos da figura que representa a Justiça deixou de ser uma metáfora para falar
da imparcialidade, para revelar que, literalmente, a Justiça sofre de cegueira.
Ela é mesmo cega e liberou geral. Escancarou de vez a falta de lisura no pleito
eleitoral.
Aliás, aproveitando o
embalo da prosa, temos no Brasil um ministro do Supremo Tribunal Federal que é
declaradamente político-partidário em suas decisões e mais da metade do país
acham ser normal o seu desvio de conduta. O cara é uma verdadeira excrescência
e fede demais!
O Brasil sangra todos os dias, os noticiários
da mídia ficaram nojentos e não dá mais para se formular uma conversa política
numa mesa de bar ou numa roda de amigos. A insensatez prevalece em meio aos
antagonismos de puros interesses particulares.
A ordem é falar amenidades e besteiras para
não se indispor. Diante de tantas incoerências consentidas, não dá mais para
parlamentar e polemizar. As patrulhas estão em todos os lugares para te vigiar
e condenar. Cuidado, fale só o corretamente político e finja que está aceitando
o absurdo! Estamos no país que aboliu o conceito de prova. Está tudo
avacalhado!
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