Jeremias Macário
O sertão está verde,
mas o São Francisco, o “Velho Chico”, ao longo dos seus 2.830 quilômetros, está
seco e com suas margens degradadas pelo perverso homem, o animal mais perigoso
e destruidor do planeta. Eu vi tudo isso, menino, viajando de Bom Jesus da Lapa
e Juazeiro! As chuvas deixaram o sertão esverdeado com lavouras robustas e
viçosas, mas o “Velho Chico” continua a penar, com seus dias contados pela
brutalidade humana.
No roteiro de Vitória da Conquista, passando por
Ruy Barbosa, Piritiba e Senhor do Bonfim, as festas de São João não nos contam
as histórias do passado de menino do autêntico forró pé de serra. Para piorar,
você se depara com o São Francisco em estado agonizante. Depois de depredarem o
rio, os hipócritas de plantão inventam o Dia das Águas, proibindo seu uso às
quartas-feiras, para enganar os bestas de que agora estão preocupados com sua
bacia hidrográfica. Trata-se mais de remorso e dor de consciência.
Em Juazeiro, os alicerces da histórica ponte
que liga a Petrolina (Pernambuco) já aparecem fora da água. Dá para se ver todo
vão descoberto. Pessoas aproveitam para lavar roupas, bicicletas e outros
objetos em suas margens desmatadas. Vez por outra os governos anunciam projetos
pontuais de revitalização do rio, mas não liberam os recursos. A erosão é
perceptível. A maior parte da irrigação das lavouras ainda usa técnica
atrasada, o que acarreta um desperdício superior a 40% de suas águas que
retornam sujas ao rio.
Há anos que o homem só faz tirar água para o
consumo e irrigações; abrir canais e transposições; construir barragens para
produzir energia, mas quase nada de repor e conservar o “Velho Chico”. Só
medidas paliativas. Assim, a tendência um dia é que os recursos hídricos se
esgotem de vez. Como sempre, colocam a culpa em São Pedro que não manda chuvas
suficientes.
Reuniões não faltam dos
órgãos que fazem de contam que cuidam do rio, prometendo solucionar seus problemas.
No entanto, as quantidades de peixes só reduzem. Os pescadores e ribeirinhos
sofrem com o impacto provocado pela ganância de tirar proveito dos seus
recursos naturais. Construíram grandes hidrelétricas como
Xingó,(Alagoas)Sobradinho (Bahia) e Três Marias, em Minas Gerais, que encantam
os olhos dos turistas mas fazem derramar lágrimas dos nativos que sempre
dependeram do sustento do rio.
Recentemente realizaram um encontro em
Juazeiro para discutir questões relacionadas às bacias hidrográficas onde
voltaram a propor a transposição das águas do Rio Tocantins para socorrer o São
Francisco. A proposição foi feita há quase 20 anos por especialistas no
assunto, mas não prosperou. Não é preciso ser estudioso e técnico para saber
que antes de qualquer coisa tinha que ser feitaa revitalização e o ordenamento
do rio.
Cadê os vapores que
circulavam em suas águas lembrando as antigas chalanas? Da sua orla fiquei
observando os barquinhos cruzarem entre as cidades de Juazeiro e Petrolina,
levando passageiros e turistas. Facilmente percebe-se que o rio está raso pelo
recuo de suas águas e o surgimento de bancos de areias. Mesmo depredado, o rio
ainda exibe suas belezas, mas, imaginei, com seus dias contados. Toda vez que
visito o “Velho Chico”, em seu leito de morte, fico mais triste e pensando como
o homem é uma besta e estúpido.
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