UM CALDEIRÃO UM TANTO INDIGESTO
Jeremias Macário
Muita informação para
pouca absorção e análise criteriosa do que se fala e escreve. No mundo de hoje
da internet, de outros veículos eletrônicos e convencionais, as notícias brotam
e explodem por todos os lados, muitas das quais falsas e outras tendenciosas,
perniciosas e direcionadas a interesses de poder, principalmente no campo
político.
É preciso muito critério e tempo para não
ingerir tudo que aparece, saber distinguir os ingredientes feiticeiros porque a
mistura pode se tornar um caldeirão indigesto e levantar o satanás de chifres.
Neste final de semana resolvi fazer um catado do que vai sendo divulgado por aí
e dar meu parecer, se é que possível, sobre este monte de fatos que influenciam
nossas vidas neste Brasil paradoxal e conservador.
Para começar, vamos abrir sobre o carnaval
que bate em nossas portas com seu barulho insuportável de músicas alienantes,
num país pobre, de tão profunda e doída desigualdade social. Uma semana de circo
com gastos de milhões pagos pelos contribuintes, mas, no caso de Salvador, o
governo tenta justificar tanta festa dizendo que vai gerar 250 mil empregos.
Diria 250 mil escravos de serviços pesados,
ganhando quantias insignificantes para servir os prazeres dionisíacos dos senhores
patrões que levam quase todo bolo dos rendimentos. São vagas temporais em
camarotes, bares, blocos (cordeiros), massagistas, faxineiros, cozinheiros e
outros trabalhos não qualificados. Não lembra a “Casa Grande e Senzala”, de
Gilberto Freyre?
De pau pra cassete, um assombro a dimensão
que está se tornando o racismo e a xenofobia no mundo, com avanços do populismo
totalitário, lembrando as tristes sombras do fascismo e do nazismo. Na Europa,
onde o passado do racismo de classe é mais presente e, mesmo no Brasil, as
posições populistas ganham espaço e levam ideologias de direita obter sucesso
com suas estratégias de poder.
Esse racismo ganha ainda mais terreno fértil
diante das profundas desigualdades sociais com a miséria se alastrando pelo
mundo a fora. A pobreza é um prato feito para os populistas de plantão. O setor
privado tem ficado com o bolo das riquezas e as migalhas são acirradamente
disputadas por quem produz os bens. Dizem que vão discutir esta questão no Fórum
Econômico e Social de Davos, na Suíça. Como sempre, não dá em nada. Impera o
egoísmo de Estado, e o capital não quer perder.
O quadro de pobreza é aterrador. Em toda
história, o ano passado registrou o maior crescimento do número de bilionários
no mundo. Segundo a ONG Oxfam, a elevação seria suficiente para acabar sete
vezes com a pobreza extrema no planeta. De toda riqueza produzida pelo mundo em
2017, 82% ficaram concentrados com 1% da população mais rica.
O patrimônio total dos brasileiros endinheirados
somou U$549 bilhões (aumento de 13%). No período, o Brasil ganhou 12
bilionários e estima-se que cinco deles concentram o equivalente à metade da
população mais pobre do país. O crescimento da desigualdade na terra é uma
tendência, e o Brasil está incluído. Enquanto isso, os países ricos dispendem
trilhões na fabricação de armamentos e foguetes espaciais para “desvendar” o
universo.
De um polo ao outro, todo final e início de ano é aquela agonia em se tratando de gastos da nossa
sociedade capitalista consumista. Presentes, festas, materiais escolares, IPVA,
IPTU, viagens de férias, formaturas de filhos e outras despesas provocam a
arrasadora ressaca do endividamento para a classe média, especialmente a baixa.
Uma ilusão consumista pouco comentada está no
gasto exagerado com formaturas pomposas ainda nos tempos atuais de um mercado
saturado para diversas profissões (12 milhões de desempregados). Valendo-se das
vaidades, as empresas de eventos nesta época esfolam os pais para fazer a
festa, cobrando preços exorbitantes. Estão ai embutidos os calotes onde se oferta
uma coisa e dá outra. Muitos formandos terminam pendurando o diploma na parede.
Como se não bastasse tanta desilusão, agora
uma emissora de TV lança uma propaganda para que você diga, diante das câmaras,
o que você quer para o Brasil do futuro. Ora, há mais de 60 anos espero por
esse Brasil do futuro. Será que eles têm um por aí guardado para me dar? Com
essa elite burguesa e retrógrada comandando o país, não é o que eu quero, mas o
que eles querem para seus próprios interesses. Qual a finalidade disso? Tem
algo estranho nesse pirão. Sabemos que eles querem se perpetuar na corrupção,
negando educação, saúde e segurança. Sabemos o que queremos, mas eles fazem o
contrário.
O governo insiste no discurso fajuto de que a
reforma da Previdência Social vai acabar com os privilégios, dando a impressão
de que ela será a salvação de toda crise. É uma grande mentira porque os
políticos vão continuar usufruindo de suas mesmas mordomias, com auxílios-moradias,
verbas de indenizações e outros penduricalhos. Cortar número de congressistas é
palavrão. Os marajás do judiciário e do executivo não vão ceder aos seus altos
vencimentos. Vai sobrar para os pobres, viúvas e viúvos.
Nesse sistema consumista e fútil da moda,
passa-se todo tempo seguindo códigos de conduta, como no modo de se vestir,
comer, andar, se apresentar, com medo de ser diferente. Você passa a vida sem
ter uma identidade e uma personalidade própria. Não existe padrão universal.
Quem inventa isso é o capitalismo. É engraçado quando se entra numa loja a
procura de uma determinada roupa e ai a vendedora vem com aquela de que é
tamanho único. Serve para todo mundo? Não procure ser igual, mas ser você
mesmo.
Eu também faço minhas merdas e nunca me
amadureci. Fumo, bebo e tenho outras manias e vícios, mas propagandas de
churrascarias, remédios, energéticos e bebidas não deveriam ser proibidas como
já fizeram com o cigarro? O cara entra numa churrascaria com a família num
final de semana e se empanturra de carne, gorduras e ainda bebe o veneno da
coca-cola.
Caso grave, por exemplo, são os energéticos
que podem aumentar o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), sem contar
outros efeitos negativos para a saúde, como dificuldade para dormir, dor de
cabeça e elevação dos batimentos cardíacos. Os energéticos têm grandes
quantidades de cafeína, açúcares e estimulantes. Essas substâncias em exagero possuem
efeitos colaterais.
Num governo atrapalhado cheio de vampiros e
suínos (existem várias varas), a nomeação de Cristiane Brasil, que não pagou os
direitos trabalhistas de seus funcionários, para o Ministério do Trabalho, é
mais uma imoralidade e afronta. O pai Roberto Jefferson, condenado e preso
pelas falcatruas do mensalão continua insistindo na indicação. Não consigo
entender como a mídia dá tanto espaço para gente desse tipo, não só ele, mas
para outros ainda piores, como o Renan, Collor, Jucá e tantos da mesma laia.
Com tudo isso e mais os cortes nos programas sociais, o governo ainda diz que o
“Brasil voltou”.
O que estão fazendo com a Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por exemplo, é um crime. Nos seus 45 anos
de história enfrenta uma crise política, orçamentária e científica sem
precedentes. A Embrapa tem seu orçamento de 3,5 bilhões de reais ameaçado por
um corte de mais de 20% em 2018. A crise interna se tornou pública.
Estatais não precisam ser privatizadas.
Precisam ser controladas e gestadas como se fossem privadas, com seriedade e
meritocracia. Não pode servir de cabide de empregos para políticos que não
pensam no povo, mas em si e em fazer favores aos seus. Veja o caso da Caixa
Econômica Federal! Para que tantos vice-presidentes (12)? Para servirem de
garçons para os poderosos?
Como diz a colunista Eliane Cantanhêde, sem
regras, a Caixa foi virando casa da mãe joana, como a Petrobrás. De tanto ser
abusada, a instituição passou a ser uma empresa particular dos políticos e de
seus partidos. São desvios em todos os setores e fundos, inclusive com dinheiro
do trabalhador. O índice de corrupção é alto com um rombo incalculável. Essa
multidão de vices que fazem a função de meninos de recado tem uma remuneração
mensal acima de 80 mil reais, cada um.
Mesmo com as novas “regras” os políticos de
sempre já disseram que as vagas são deles. Por essas e outras, digo que a
Operação Lava Jato foi um marco em nossa história, mas está fadada a cair no
esquecimento, no ostracismo brasileiro, e tudo vai permanecer como Dantes na
Casa de Abrantes. No Brasil, o vírus da corrupção é inoculado na criança pelos
pais quando dizem para o filho ser sempre esperto com o coleguinha e, se
possível, passar a rasteira nele. Nada de ser solidário, ético e colaborativo.
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