Toc,Toc,Toc
Big Ben
- Quem bate? - É o Toc! Quando o Toc (transtorno
obsessivo compulsivo) bate à porta da sua mente, esse papinho furado que
"não adianta bater, eu não deixo você entrar", geralmente não dura mais
do que alguns segundos. As Casas Pernambucanas podem colocar o "frio"
no seu devido lugar, mas o "Toc", está pra nascer alguém que vai colocar
o dedo no seu nariz empinado. O Toc é nada mais, nada menos que um Deus
rabugento e autoritário do Velho Testamento. Ou seja, ele manda.
Obedece quem não tem juízo.
Depois de ser cantado em prosa e
verso lá pelas bandas de Hollywood, tem muita gente falando sobre o Toc
sem o devido embasamento teórico e prático. Só pode falar desse "mau
companheiro" (ninguém pode negar) quem fez pós-graduação em assuntos
psiquiátricos, em Oxford. -Que me perdoe o Rei Roberto Carlos, mas
quando se trata de Toc, "esse cara sou eu". Eu tenho a cara do Toc! Não
existe um ser vivo no mundo que entenda mais dessa "boa bugiganga" do
que eu. Alguns anos atrás eu fiz um pacto com o "demônio do Toc": eu não
fujo dele e ele me dá um pouco de paz. Não adianta bater de frente;
afinal, a última palavra é sempre dele. Lembre-se de que você é mortal,
mas ele é imortal.
Andam por aí subestimando sua real magnitude e
seu poder de destruição. Todo Toc começa pequeno, mas ele cresce,
transforma-se em um monstro de dimensões gigantescas - num godzilla que
arrasa cidades e quarteirões inteiros com uma única rabada. No meu
entendimento, essa "peste negra da mente" deveria ser tratada como
inimigo número 1 da humanidade. Se um portador de Toc incomoda muita
gente, imaginem 1 bilhão de humanos com Toc? O mundo viraria poeira em
questões de minutos, sem uma única bomba atômica ser acionada.
Parafraseando o sábio Seu Madruga: "Não existe Toc ruim, o ruim é ter
que conviver com o Toc."
Se eu for contar todas as peripécias que
esse "famigerado amigo da onça" ( por livre espontânea pressão ) me
obrigou a fazer, o número de páginas escritas ficaria bem próximo ao
número de páginas da Bíblia. Vamos lá, vou contar algumas...Na minha
infância, por volta dos 7 anos de idade, o " bicho papão do Toc" veio me
assombrar pela primeira vez. O primeiro Toc a gente jamais esquece! Na
hora de bater aquele papo sagrado com Deus, a coisa ganhou uma dimensão
épica e trágica, semelhante àquela encontrada nas grandes cruzadas em
direção à Terra Santa. A oração que deveria durar no máximo dois
minutos, de repente foi se estendendo, tomando quase todas as horas da
noite. Caso eu não realizasse o ritual de rezar 50 Pai Nossos e 50 Ave
Marias, o "lado negro da minha mente" me advertia que algo de muito
sinistro poderia acontecer com os meus queridos familiares no dia
seguinte. O Toc se comporta como um inquisidor do Tribunal da Santa
Inquisição. Quem não tem medo de arder nas brasas incandescentes e
assustadoras do inferno?
Quer mais uma? Na minha adolescência,
por volta dos 15 anos de idade, "a mula sem cabeça do Toc" voltou a
povoar meus pesadelos durante a hora de tomar banho. De repente, não
mais que de repente, um banho de 20 minutos não atendia mais as minhas
necessidades higiênicas. Nessa época a minha "consciência errante" tinha
mania de limpeza e não aceitava nada mais, nada menos que dois
sabonetes gastos por banho. Coitado do Cascão! Já imaginou tomar banho
por cerca de 3 horas seguidas? Toc é sinônimo de desperdício!
Desperdício de tempo, de água, de comida, de energia, de papel, de
dinheiro, de espaço, de vida e, principalmente de sonhos. É uma daquelas
coisas que não mata, mas judia um bocado!
Quer outra? Já adulto,
por volta dos 20 anos de idade, "o Saci-Pererê do Toc" ressurge para
voltar a me aterrorizar. Agora a mania da vez ganhou um toque de
erudição. Meu pai teve a infeliz ideia de me incentivar a tocar piano.
Música e Toc definitivamente são coisas que não combinam. Já imaginou
escutar a escala de Dó 1000 vezes todos os dias? Pois bem, minha mãe não
aguentou muito tempo, e numa hora de extrema fúria quase me matou a
pauladas. -Perdão, mãe, hoje eu sei que escutar um músico com Toc é
como morrer na cruz mil vezes.
E antes de ir para mais uma sessão
de psicoterapia, me atrevo a dar alguns conselhos: 1- Se a sua
"maniazinha chatinha" se transformou em um "Tiranossauro Rex", não pense
duas vezes, procure ajuda médica imediatamente; 2 -Se você ainda não
foi mordido pelo "Pitbull raivoso do Toc", não se esqueça de agradecer a
Deus todos os dias; 3- Se você infelizmente carrega o fardo pesado do
Toc, fique bem longe da música e aproxime-se da literatura. Até o
próximo Toc!
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