A ESTUPIDEZ DE UM SISTEMA QUE HUMILHA
Jeremias Macário
Não dispõe de estrutura
adequada em termos de capacitação humana e tecnológica, mas convoca a população
já sofrida para se submeter aos seus constantes caprichos de atualização de
documentos ou mudanças de processos dos nos seus ditos “modernos sistemas”,sob
alegação de que tudo está sendo feito em prol da melhoria e da segurança
nacional. Ai, a vida do cidadão vira um verdadeiro inferno, sobrando sempre
para as pessoas mais pobres e idosas.
Isto é a cara do Brasil
desprovido de recursos, com seu sistema estúpido que humilha o povo em
intermináveis filas, e ainda ameaça quem não comparecer, dizendo que pode ser
punido e excluído do esquema que só beneficia aos próprios. É o que está
acontecendo desde meados do ano passado e agora, no momento atual, com o
maldito recadastramento biométrico eleitoral, cheio de vícios e mutretas.
Diante de toda esta brutalidade sem tamanho,
ouvi nesta semana um juiz eleitoral culpar o próprio brasileiro de que sempre
deixa tudo para a última hora. Isto não é verdade porque as filas, provenientes
da desorganização e da falta de condições de atendimento do Tribunal Eleitoral,
sempre existiram desde o início do processo, e não tomaram providências para,
pelo menos, minimizar a situação.
Na Bahia, por exemplo,
e aqui, particularmente em Vitória da Conquista, o quadro é de revolta e de
angústia para o eleitor que desde os primeiros dias enfrenta filas e perda de
tempo para realizar o recadastramento no Fórum da cidade. No início, este era o
único local para a biometria. Por que, quando tudo começou, não colocaram
vários pontos de atendimento? A opção no Espaço Glauber Rocha, no caso de
Conquista, só veio tempos depois.
O sistema como todo é
deficitário e falho em todos os sentidos, desde a falta de recursos
financeiros, planejamento, estrutura e, consequentemente, de contingente humano
suficiente para executar o trabalho de modo digno para que o cidadão não seja
sacrificado. Já no final do prazo, o tal sistema cai por horas e os
agendamentos “programados” não são cumpridos. Tudo não passa de mentira como
num conto do vigário. Tudo não passa de um estelionato biométrico.
Para encobrir as falhas, é muito fácil culpar
o nosso povo que, infelizmente, é mais cordeiro que uma ovelha porque esta
ainda berra quando percebe que está sendo levada para o matadouro. Nesse quadro
de filme de terror, grande parte da nossa mídia exerce um papel vergonhoso de
só noticiar o factual e ainda ficar ao lado do perverso sistema, sem comentar e
defender o outro lado do povo massacrado. Não se ouve, nem se lê criticas
contra estes e outros absurdos em nosso país.
Acontece que toda esta
insensatez no Brasil não ocorre, nem está ocorrendo somente agora com o
recadastramento biométrico eleitoral, mas em muitos outros segmentos da vida
brasileira, como nos atendimentos do INSS, para se marcar exames de saúde, para
atualizações periódicas de carteiras de identidade, habilitação de motorista,
matrículas nas escolas públicas e outros tantos documentos onde se dorme nas
filas de horror, de choros, lágrimas e lamentos.
O mais curioso é que estas torturantes filas
da morte não são frequentadas por governadores, senadores, deputados,
prefeitos, vereadores, ricos, empresários, endinheirados, profissionais
privilegiados, diretores e executivos públicos e privados. Nelas só se vê pobres de um modo geral,
mulheres grávidas, idosos e até crianças.
Todos enfrentam calados e resignados, sem
indignação e protestos, as longas e penosas jornadas, enquanto uma casta
superior do alto da pirâmide social se esbalda em suas mordomias, rouba
descaradamente os impostos do povo, afronta a todos com suas medidas e
discursos de menosprezo e não acredita na capacidade de uma revolta.
A maioria deles sabe que, apesar de tudo,
será eleita. Ainda nos ensinam uma enganosa lição de que o voto é um ato de
cidadania para mudar o país, país este que violenta e maltrata seus filhos.
Nega a eles o respeito, a dignidade humana e os direitos constitucionais. Até
quanto esta Catilina criminosa vai continuar abusando da nossa paciência?
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