NO CATIVEIRO DAS FILAS DO TRIBUNAL
Jeremias Macário
Vendo imagens de
multidões se arrastando como cobras pelos asfaltos e corredores de prédios
quentes e desconfortáveis em longas filas para fazer uma biometria eleitoral,
dão a impressão de pessoas vivendo em cativeiros, ou em campos de concentração.
Tudo não passa de um ultraje contra o povo quando os políticos lá em cima já
fizeram suas armações para se perpetuarem no poder.
Nas chibatas das ameaças de que podem perder
seus títulos e coisas mais em suas vidas como cidadãos, sem opção os eleitores
são submetidos a um estafante processo de desgaste físico e psicológico, desde
madrugada até à noite nas portas dos tribunais eleitorais e em outros locais
que mais parecem currais. Vale a pena tanto sacrifício quando se tem um sistema
eleitoral tão corrupto?
Senhoras e senhores pobres, pessoas de todas
as idades saem de suas casas ao amanhecer do dia em conduções lotadas e logo
depois vão se amontoando em filas intermináveis para pegar uma ficha ou senha
para tirar uma impressão digital. Muitos chegam a atravessar o dia naquele
tormento e até passam fome, sofrendo constrangimentos e humilhações.
Como nos cativeiros das filas para vacinação
e marcar exames médicos no SUS, tem muita gente que não consegue ser atendida e
retorna estafada aos seus distantes lares para começar toda maratona no outro
dia. Os juízes e os responsáveis dão entrevistas patrióticas, explicando o
inexplicável, cheias de embromações e ainda culpam o povo de ser negligente.
A mídia, por sua vez, repete as mesmas
perguntas de sempre, diz o “óbvio ululante” sobre punições e outras bobagens,
mostrando aquelas imagens degradantes de multidões sofridas,escravas dos donos
de sempre, sem ao menos exercer o seu papel crítico de denunciar toda esta
tortura imposta à população. Cadê o seu papel de guardiã e vigilante dos
direitos humanos?
Mesmo com estas e
outras aberrações contra os brasileiros que são obrigados a passarem por violentosvexames,
a Defensoria e o Ministério Público, as comissões de direitos humanos, a Ordem
dos Advogados do Brasil e outros organismos da sociedade nada fazem para cessar
com essa cruel desumanidade. Impera o silêncio, e todos assistem passivas as
cenas de horror.
Na banalização do mal, dos atos arbitrários e ditatoriais,
da violência desenfreada, da negação constante dos direitos de cidadania, as
pessoas terminam ficando insensíveis, paralisadas e achando que tudo é normal e
comum. Não reagem e não se indignam com o massacre. Tenho nojo dessas
“autoridades” quando dizem que “estamos tomando providências”, ou para
justificar os absurdos, alegam que é uma determinação delas mesmas e ainda
mandam prender quando alguém reclama e se revolta.
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