OS PEIXES SUMIRAM DO RIO!
Jeremias Macário (Texto e fotos)
Calçadão no centro de Juazeiro |
Sentei num bar na orla de Juazeiro e veio
logo àquela vontade de saborear um peixe, de preferência um surubim. Gosto
demais!
Chamei o garçom e pedi
a iguaria, sem me atentar do desastre ecológico provocado pela irracionalidade do
homem.
Para minha decepção,
prontamente o garçom respondeu que tinha carne bovina, de caprino, algumas
aves, frango, menos peixe, meu senhor.
Mas, moço! Vocês aqui às margens do Rio São
Francisco e não tem um peixe para servir?
Morte das nascentes. Não há vida no rio |
É essa a situação em
que se encontra o Rio São Francisco, vivendo seus últimos dias em estado
agonizante, enquanto os safados lá em cima roubam, inventam de fazer
transposição de suas águas, canais, adutoras para comprar votos e desviam os recursos
que deveriam ser investidos na sua revitalização.
Assoreado, o rio vai agonizando... |
Relatei do meu espanto
por não encontrar nenhum tira-gosto de peixe para acompanhar a cerveja gelada.
Fiz um discurso sobre a inconsequência do homem frente à natureza e destilei
toda minha ira nos governantes e políticos.
Ele concordou,
acrescentou outros pontos concretos com base em suas andanças de trabalho de
fiscalização. Para meu consolo, informou que as águas do Velho Chico subiram um
pouco em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, com as últimas chuvas.
Como já estava
revoltado mesmo, disse secamente que São Pedro não deveria mandar mais chuvas
nas cabeceiras do Velho Chico. Chega de depender dele!
O que é isso, cara!
Falou o primo com expressão de horror indo de encontro à minha afirmação, até
certo ponto maluca.
Expliquei que, se os
mandatários perdulários já se acomodaram quanto à renovação do rio em todo seu
leito, ai é que não vão fazer nada mesmo com a chagada das chuvas. Vão
continuar sempre esperando pela divina providência, enquanto o rio morre ano a
ano, Se as águas retornam ai é que eles recolhem novamente os projetos para
suas respectivas gavetas.
Em seguida fiz uma
indagação: E quando a seca bater novamente no sertão? Vamos sempre ficar
dependentes das chuvas e cada vez mais retirando água do rio de forma
desordenada, com esse ímpeto avassalador de destruição? Não são as chuvas
passageiras e temporárias que vão ressuscitar o Velho Chico e fazer com que eu
chegue aqui e tenha a satisfação de comer um peixe nessa margem que já foi bela.
Com minha tirada inesperada, levei o primo a
fazer uma reflexão e, em parte, concordou comigo, contando mais outras de suas histórias
do trabalho incansável de fiscalização para impedir que o homem estúpido
primitivo faça mais desgraça contra a natureza.
ARRASTÃO DE PEDINTES E AMBULANTES
Ainda continua linda a
paisagem que resta do “Velho Chico” debruçado entre as cidades de Juazeiro e
Petrolina. Não é mais o tempo dos navios vapores e as chalanas. Não mais o
encanto de antes. Mesmo assim, ficamosali pensando e imaginando coisas,
inclusive das nossas vidas.
Tudo respira poesia,
infelizmente até a pobreza com seu grito de socorro. Mudamos de conversa e
observei outra revoltante degradação humana, provocada pela demagogia e
desleixo dos mandantes egoístas que só cuidam de si.
Primo, já percebeu
quantos pedintes e ambulantes passaram em nossa mesa nesses poucos momentos em
que estamos aqui? – Perguntei.
Outro papo de reflexão.
A cena que constatei na orla de Juazeiro mais parecia um arrastão de pedintes
esfomeados e outros vendendo tudo quanto é bagulho e miudezas para conseguir uns
trocados.
É bom que fique claro
que isso não acontece apenas em Juazeiro, mas, em todas as cidades multiplica a
cada dia o número de pessoas vivendo na extrema pobreza. Estamos em plena
marcha ré do retrocesso acelerado imposto pelas políticas fascistas do lucro a
qualquer preço, empurrando o brasileiro para a escravidão. Cada um só pensa em
si e o resto que se dane.
A orla de Juazeiro é
apenas um dos tristes exemplos de cenas de agressão social e também ecológica,
com sujeiras nos passeios e nas margens do rio que tanto abasteceu o homem com
suas generosidades. Retribuímos com o instinto perverso e assassino do mal.
OS CALÇADÕES DE
JUAZEIRO
E OS APERTADOS DE
CONQUISTA
Mas, existe também o lado bom e aprazível nas
obras dos calçadões que se espalharam pelo centro, humanizando a cidade e
aumentando o movimento do comércio. As pessoas circulam livremente e as
crianças brincam sem a preocupação de carros transitando. Os calçadões deram
vida e o local virouum shopping a céu aberto.
Veio-me logo à mente o centro apertado de
Vitória da Conquista, um emaranhado de ruas cheias de carros por todos os lados
e passeios estreitos danificados, dificultando o movimento. As ruas Ernesto
Dantas e a Francisco Santos, por exemplo, poderiam ser transformadas em
calçadões livres para a população.
A Praça Barão do Rio Branco também deveria ser
do povo e não num amontoado de carros. Hoje, para se atravessar a praça, as
pessoas são obrigadas a se desviar dos veículos e o local ficou feio e confuso.
O que se tem ali naquela artéria é uma imagem desorganizada, mais parecendo com
um mercado árabe.
Está ainda na mentalidade do lojista
conquistenses de que o cliente para comprar tem que parar o seu carro na porta
do seu estabelecimento. Conversei com um empresário sobre colocar calçadões
nestas áreas da cidade e ele deu um pulo contestando a ideia. Em sua opinião,
tinha que abrir mais ruas na 9 de Novembro e entupir de carros. Mentalidade
atrasada!
Na verdade, todo centro de Conquista passa uma
imagem feia e poluída, tanto no aspecto virtual como sonoro. O local mais
horrível da cidade é o Terminal Lauro de Freitas, o legítimo “CABEÇA DE PORCO”,
sujoe irritante para se circular. Ônibus e carros ficam engavetados num
tremendo engarrafamento insuportável soltando fuligens.
Sempre tenho dito que ali não dá mais para se
fazer reforma, só se for para pintar os meios-fios e tudo fica no mesmo. Serviço
ali não vai passar de uma maquiagem. É jogar dinheiro do contribuinte no lixo.
O Terminal de Ônibus tem que ser em outro local mais amplo da cidade, e o atual
ser urbanizado com quiosques, lanchonetes e outros atrativos para a população.
Por incrível que pareça, a maioria dos
comerciantes não aceita transferir o Terminal porque acham que é ali, em meio à
poluição e sujeiras que vendem mais. Os lojistas entendem que tirar o Terminal
afugenta os consumidores. É o absurdo!
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