"2018, um marco na história do Conquista"
Carlos Albán González - jornalista
Falta exatamente um mês para o começo da
dolorosa caminhada, em direção ao calvário, de centenas de médios e
pequenos clubes brasileiros, e a certeza que pesa sobre milhares de
jogadores, de
que ficarão desempregados a partir de abril. Por determinação da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), responsável pelo mal elaborado
calendário do futebol nacional, os campeonatos estaduais terão que ser
realizados entre 21 de janeiro e 8 de abril, incluindo
o domingo de Carnaval (10 de fevereiro), e coincidindo com as Copas do
Nordeste e do Brasil. A programação da entidade nacional ficará em 2018
mais apertada, em função da realização da Copa do Mundo da Rússia, entre
14 de junho e 15 de julho.
Essa perversa política da CBF, aceita, sem
reclamações, pelas federações estaduais, já “matou” cinco campeões
baianos: Ipiranga (ex-Mais Querido), Botafogo (de muitos títulos),
Galícia (tricampeão),
Colo-Colo e Leônico. Com exceção de Bahia e Vitória, que vão disputar o
Campeonato Brasileiro da série “A”; do Vitória da Conquista, que está
inscrito na Copa do Brasil e Brasileirão da série “D”; e do Juazeirense,
classificado para o Nacional da série “C”,
os outros seis participantes, incluindo o Fluminense de Feira de
Santana, que tem dois campeonatos baianos, vão ficar oito meses inativos
em 2018.
Se o ano lhe for amplamente favorável em
termos de resultados dentro de campo, o Vitória da Conquista permanecerá
em atividade por oito ou nove meses. Seu presidente, Ederlane Amorim,
garantiu
que “tudo será feito para que 2018 venha a ser um marco na história do
clube”. A Copa do Brasil tem seu término previsto para 17 de outubro,
com o Conquista estreando em casa, em 31 de janeiro, contra o Boa
Esporte, originário de Varginha, em Minas Gerais.
Ao lado de Fluminense de Feira e
Jacuipense, o Vitória da Conquista será o terceiro representante da
Bahia no Campeonato Brasileiro da série “D”, que contará em 2018 com 68
clubes, divididos,
na primeira fase, em 17 grupos regionais. O torneio, cujo chaveamento
ainda não foi definido, irá de 22 de abril a 5 de agosto.
Sem jogos de volta, o que demonstraria a
imparcialidade do torneio, o Vitória da Conquista será prejudicado
financeiramente, pois deixará de receber o Bahia em casa, na única
oportunidade de
lotar o “Lomanto Júnior”. Seu mais aguardado jogo será contra o
Vitória, numa noite de quarta-feira (24 de janeiro). O horário de 21h45
foi imposto à FBF pela TV Bahia, que transmitirá a partida para todo o
estado, submetendo o torcedor, que vai deixar o estádio
no começo da madrugada do dia seguinte, a uma temperatura baixa.
O Conquista estreia dia 21 de janeiro
contra o Atlântico, em Salvador, no “Barradão”. Em seguida, fará três
jogos no “Lomantão”, contra Vitória, Jequié e Juazeirense,
respectivamente, nos dias
24 e 28 de janeiro e 4 de fevereiro. Vai enfrentar o Bahia, dia 7 de
fevereiro, na Fonte Nova. Volta pra casa para recepcionar a Jacuipense,
em 18 de fevereiro, logo depois do Carnaval. Os dois representantes de
Feira de Santana serão seus adversários em 25
de fevereiro (o Bahia, no “Jóia da Princesa”) e 4 de março (o
Fluminense, no “Lomantão”). Despede-se da primeira fase do campeonato,
dia 7 de março, em Jacobina.
O regulamento do Campeonato prevê que o
primeiro colocado terá vagas asseguradas em 2019 na Copa do Nordeste e
na Copa do Brasil; o vice-campeão e o terceiro colocado participarão da
Copa do
Brasil. Mais duas vagas no pré-Nordestão serão destinadas aos melhores
colocados no ranking da CBF (por ordem, Vitória, Bahia, Juazeirense,
Fluminense, Vitória da Conquista, Jacuipense e Jacobina). O mesmo
critério será adotado para os três convidados para
a série “D”, desde que não estejam inscritos em outras séries, no caso,
Bahia e Vitória.
No campeonato do ano passado, o Vitória da
Conquista, como mandante, em seis partidas, arrecadou quase R$ 121 mil.
Sua maior bilheteria foi no confronto com o Bahia. O público pagante de
2.974
torcedores proporcionou uma renda de R$ 47.700. Há necessidade de uma
maior participação do torcedor, comparecendo ao “Lomantão”; do
empresariado, assumindo o papel de patrocinador; e do poder público – a
prefeitura anunciou na semana uma ridícula ajuda mensal
de R$ 20 mil. A cidade deve abraçar o seu time.
Mais uma vez dou como exemplo a
Chapecoense, 14º colocada no ranking da CBF. Fundada em 1973, ascendeu
rapidamente no cenário futebolístico de Santa Catarina, chegando em 2009
à série “D” do
Brasileirão; em 2016 conquistou a Copa Sul-Americana e este ano ganhou o
direito de disputar a próxima Libertadores.
Para onde vai o “Baianinho”
O troféu de campeão do “Baianinho” de 2018
já tem um destino: a Toca do Leão, em Canabrava, periferia de Salvador.
Nos últimos 17 anos, coincidindo com o período do conquistense Ednaldo
Rodrigues
na presidência da Federação Baiana de Futebol (FBF), o Vitória reinou
absoluto, com 11 títulos, restando quatro para o Bahia, um para o Bahia
de Feira e um para o Colo-Colo de Ilhéus.
Nadinho, como era conhecido entre os
desportistas desta cidade, tentou a carreira de jogador. Como não havia
futuro ficar correndo atrás de uma bola nos campos esburacados da
várzea, vislumbrou
horizontes largos nos bastidores do futebol. Tornou-se presidente da
Liga Conquistense, e, a partir de 2001, passou a dirigir a FBF, cujos
estatutos foram alterados, permitindo seguidas reeleições, o que Ednaldo
consegue, sob aclamação dos seus ex-colegas
do interior. A partir de 2014, com a derrubada do regime ditatorial, o
Bahia assumiu uma posição, não declarada, de oposição a Ednaldo.
Numa recente entrevista à TV Aratu, o
astucioso Paulo Carneiro, ex-presidente do Vitória, declarou que já
havia subornado jogadores e árbitros, sem declinar nomes, insinuando que
Ednaldo Rodrigues
usa de práticas semelhantes para ajudar o Vitória: “Ele não faz nada
mais do que sua obrigação”. O suspeito preferiu não dar resposta.
Ednaldo nunca foi questionado sobre sua
participação na disputa judicial, no começo deste ano, envolvendo o
Internacional de Porto Alegre e o Vitória, assim como seu surpreendente
aparecimento
no gramado do Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, durante os
incidentes que provocaram a suspensão do jogo Vitória 3 x Ponte Preta 2,
resultado que livrou o time baiano do rebaixamento.
A vitaliciedade do “cartola”
Existe no Brasil uma profissão, não
regulamentada pelo Ministério do Trabalho, que goza do excelente
benefício da vitaliciedade, graças ao exercício de expedientes ilegais.
Trata-se do “cartola”,
apelido irônico que é dado aos presidentes de entidades esportivas,
desde a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Comitê Olímpico
Brasileiro (COB), passando pelas federações e chegando até as ligas do
interior.
O Judiciário e o Ministério Público,
envolvidos, talvez, em outros ramos da corrupção, pouco acesso tiveram
ao campo do esporte. O episódio de maior repercussão foi a prisão em
outubro, por 15
dias, de Carlos Nuzman, presidente do COB por 22 anos. Por iniciativa
do FBI, o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, preso na Suíça em maio
de 2015, está sendo julgado nos Estados Unidos. Seu sucessor, Marco
Polo del Nero, suspenso pela FIFA, não cruza
as fronteiras brasileiras para não ser preso.
Ednaldo ou Nadinho faz parte desse bloco
de privilegiados. Goza de prestígio junto à “cartolagem” maior, com
livre trânsito nos gabinetes da CBF, haja vista que já presidiu a
delegação da Seleção
Brasileira em duas viagens ao exterior. Aplicando o chamado “jogo de
cintura”, não se pronuncia sobre as atitudes, certas ou erradas, dos
dirigentes lá de cima. Em seu gabinete, no Palácio dos Esportes, na
Praça Castro Alves, recebe quase que, diariamente,
a “raia miúda” do futebol baiano, que vem das mais distantes cidades
para lhe render homenagens, quase sempre acompanhada dos prefeitos.
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