terça-feira, 12 de dezembro de 2017

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:

O CINEMA ROUBOU A CENA DO SARAU
Jeremias Macário
Com o lançamento do filme “Corpo Fechado”, de Marcelo Lopes, na noite do último dia 9 (sábado), no Espaço Cultural A Estrada, o cinema roubou a cena do Sarau Colaborativo que teve como tema “Cultura e Memória”. Foi uma noite memorável de debates, mesmo porque o documentário de 70 minutos versou sobre o assunto tratado pelos participantes do evento que encerrou as atividades do ano.
  Como visitantes de primeira vez que abrilhantaram nosso Sarau que está completando sete anos na estrada tivemos o prazer de receber o médico oftalmologista Armênio Souza Santos e os cineastas Xeno Veloso (mineiro) e Beto Magno que vieram somar às discussões por duas horas onde cada um emitiu sua opinião sobre o mundo da cultura.
  O filme “Corpo Fechado” é um longa que envolve depoimentos de personalidades populares, acadêmicos, literários, escritores, jornalistas e outros profissionais sobre causos, imaginações, lobisomens, mortos que voltam à terra dos vivos e lendas do universo material e sobrenatural, mas também histórias verdadeiras como a Guerra do Tamanduá, na região de Vitória da Conquista, e os feitos do coronel Horácio de Matos e seus jagunços, em Lençóis, na Chapada Diamantina.
  A obra de Marcelo Lopes navega também pelo mundo do candomblé e traça um paralelo com o imaginário cultural popular. Trata-se de um refinado trabalho de pesquisa de suma importância, principalmente, para estudantes e professores, mas é, acima de tudo, um filme que deve ser visto por todos, com falas do escritor João Ubaldo Ribeiro, do professor Itamar Aguiar e pesquisadores da nossa cultura.
  Além dos visitantes, estiveram presentes ao Sarau Colaborativo, músicos, cantores e compositores como Mano Di Souza, Walter Lajes, Dorinho e Marta Moreno que nos honraram com suas violas e cantorias. Nunes e sua esposa Neide, Elen e o professor Adilson, Gildásio Amorim, o fotógrafo José Carlos D´Almeida, Cleide, Jésus, o contador de histórias e estórias e o próprio Itamar Aguiarcompletaram o grupo que sempre prestigiou nossos eventos.

  Recebidos pela dona da casa Vandilza Gonçalves, sempre prestativa com todos, os debates foram acompanhados de um vinho, uma cerveja gelada, e claro, poções de tira-gostos que ninguém é de ferro e precisa se abastecer para dar mais inspiração. Itamar nos premiou com seu conhecimento falando sobre cultura e memória, segundo ele, não só de quem tem o saber, mas de toda gente que não sabe ler e escrever, mas tem a oralidade para interpretar a natureza e se expressar em forma de poesia e filosofia.
  Falou também Armênio Santos, anunciando, na ocasião, que pretende em breve lançar uma obra sobre a história de Conquista com “H” Maiúsculo. Para tanto, está reunindo nomes e personalidades que vão contar esta história. Não foi somente o cinema que roubou a cena do Sarau. O tronco de uma árvore traçada em cipó, montada por Jeremias e Vandilza, com frases em cartazes sobre a vida e o momento político do país, foi outra surpresa da noite.
  O jornalista e escritor Jeremias Macário fez um rápido comentário sobre a efervescência cultural na Bahia entre as décadas de 50 até 70 com acentuada decadência nos tempos posteriores, principalmente com o endurecimento da ditadura e a chegada da música comercial descartável, sem conteúdo. Para este espaço ele denominou de iluminismo às trevas na nossa cultura.
  Como ponto de arrancada para a disseminação da cultura em nosso território, o jornalista citou a criação da Universidade Federal da Bahia, comandada pelo reitor Edgar Santos. A partir dai surgiram grandes nomes de expressão no cenário baiano e nacional no campo político, na literatura, na música, no teatro e na ciência.
  Um Reisado deverá abrir, dia 6 de janeiro, a próxima temporada de Saraus de 2018, conforme ficou combinado entre os participantes. Como resultado dos nossos encontros, a intenção do grupo é elaborar e gravar um CD aproveitando o formado do evento, com músicas, causos e declamações de poemas, num trabalho totalmente autoral.
  Para colocar a iniciativa em prática, estão sendo realizadas as primeiras reuniões visando selecionar as obras e os autores, bem como indicar possíveis patrocinadores que deverão custear a gravação, tendo como retorno a divulgação de seus nomes ou marcas de suas empresas nas capas dos Cds. Um projeto define os objetivos e propósitos da obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário