O CINEMA ROUBOU A CENA DO SARAU
Jeremias Macário
Com o lançamento do
filme “Corpo Fechado”, de Marcelo Lopes, na noite do último dia 9 (sábado), no
Espaço Cultural A Estrada, o cinema roubou a cena do Sarau Colaborativo que
teve como tema “Cultura e Memória”. Foi uma noite memorável de debates, mesmo
porque o documentário de 70 minutos versou sobre o assunto tratado pelos
participantes do evento que encerrou as atividades do ano.
Como visitantes de primeira vez que
abrilhantaram nosso Sarau que está completando sete anos na estrada tivemos o
prazer de receber o médico oftalmologista Armênio Souza Santos e os cineastas
Xeno Veloso (mineiro) e Beto Magno que vieram somar às discussões por duas
horas onde cada um emitiu sua opinião sobre o mundo da cultura.
O filme “Corpo Fechado” é um longa que
envolve depoimentos de personalidades populares, acadêmicos, literários,
escritores, jornalistas e outros profissionais sobre causos, imaginações,
lobisomens, mortos que voltam à terra dos vivos e lendas do universo material e
sobrenatural, mas também histórias verdadeiras como a Guerra do Tamanduá, na
região de Vitória da Conquista, e os feitos do coronel Horácio de Matos e seus
jagunços, em Lençóis, na Chapada Diamantina.
A obra de Marcelo Lopes navega também pelo
mundo do candomblé e traça um paralelo com o imaginário cultural popular.
Trata-se de um refinado trabalho de pesquisa de suma importância,
principalmente, para estudantes e professores, mas é, acima de tudo, um filme
que deve ser visto por todos, com falas do escritor João Ubaldo Ribeiro, do
professor Itamar Aguiar e pesquisadores da nossa cultura.
Além dos visitantes, estiveram presentes ao
Sarau Colaborativo, músicos, cantores e compositores como Mano Di Souza, Walter
Lajes, Dorinho e Marta Moreno que nos honraram com suas violas e cantorias.
Nunes e sua esposa Neide, Elen e o professor Adilson, Gildásio Amorim, o
fotógrafo José Carlos D´Almeida, Cleide, Jésus, o contador de histórias e
estórias e o próprio Itamar Aguiarcompletaram o grupo que sempre prestigiou nossos
eventos.
Recebidos pela dona da casa Vandilza
Gonçalves, sempre prestativa com todos, os debates foram acompanhados de um
vinho, uma cerveja gelada, e claro, poções de tira-gostos que ninguém é de
ferro e precisa se abastecer para dar mais inspiração. Itamar nos premiou com
seu conhecimento falando sobre cultura e memória, segundo ele, não só de quem
tem o saber, mas de toda gente que não sabe ler e escrever, mas tem a oralidade
para interpretar a natureza e se expressar em forma de poesia e filosofia.
Falou também Armênio Santos, anunciando, na
ocasião, que pretende em breve lançar uma obra sobre a história de Conquista
com “H” Maiúsculo. Para tanto, está reunindo nomes e personalidades que vão
contar esta história. Não foi somente o cinema que roubou a cena do Sarau. O
tronco de uma árvore traçada em cipó, montada por Jeremias e Vandilza, com
frases em cartazes sobre a vida e o momento político do país, foi outra
surpresa da noite.
O jornalista e escritor Jeremias Macário fez
um rápido comentário sobre a efervescência cultural na Bahia entre as décadas
de 50 até 70 com acentuada decadência nos tempos posteriores, principalmente
com o endurecimento da ditadura e a chegada da música comercial descartável,
sem conteúdo. Para este espaço ele denominou de iluminismo às trevas na nossa
cultura.
Como ponto de arrancada para a disseminação
da cultura em nosso território, o jornalista citou a criação da Universidade
Federal da Bahia, comandada pelo reitor Edgar Santos. A partir dai surgiram
grandes nomes de expressão no cenário baiano e nacional no campo político, na
literatura, na música, no teatro e na ciência.
Um Reisado deverá abrir, dia 6 de janeiro, a
próxima temporada de Saraus de 2018, conforme ficou combinado entre os
participantes. Como resultado dos nossos encontros, a intenção do grupo é
elaborar e gravar um CD aproveitando o formado do evento, com músicas, causos e
declamações de poemas, num trabalho totalmente autoral.
Para colocar a iniciativa em prática, estão
sendo realizadas as primeiras reuniões visando selecionar as obras e os
autores, bem como indicar possíveis patrocinadores que deverão custear a
gravação, tendo como retorno a divulgação de seus nomes ou marcas de suas
empresas nas capas dos Cds. Um projeto define os objetivos e propósitos da
obra.
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