PERDAS IRREPARÁVEIS
Ricardo De Benedictis
Ricardo, Heleusa e Vicente, na ACL em 2013 |
Estes primeiros dias de 2019 nos reservaram algumas
perdas que julgávamos fora de qualquer propósito.
No noticiário desta sexta (18), a morte de Marciano,
aos 67 anos, que fez dupla com João Mineiro e depois com Milionário, autor de
importantes canções do estilo ‘sertanejo’.
As perdas, porém, vêm sucedendo a galope, como num
turbilhão de azares para a Cultura, tão necessitada da presença física dos seus
maiores expoentes.
Aqui em Conquista, perdemos a nossa querida Heleusa
Figueira Câmara, que conhecemos desde que iniciamos nossa vida cultural por
estas plagas, no final da década de 1970. Juntos fomos fundadores da Academia
Conquistense de Letras, em 1980 e do Conselho Regional de Cultura, este último,
o primeiro de uma série que criamos nos anos 1990.
Além do mais, éramos amigos, até o último instante,
embora politicamente contrários, sem jamais ter discutido ou mesmo trocado
idéias sobre ideologias.
Heleusa sucedeu Erathosthenes Menezes na presidência
da ACL, em 1986. E eu fui seu sucessor em 1990.
Cedemos para ela o espaço ‘Pró-Memória’ do Centro de
Cultura Camilo de Jesus Lima para que instalasse a sede do PROLER, que até hoje
ali permanece. Ela freqüentava minha residência e eu a visitei em sua casa
algumas vezes.
Escritora, com dois livros publicados, fundou o Museu
Regional da UESB, localizado na Praça Tancredo Neves, que aproximou muito a
comunidade conquistense daquele ‘dinossauro’ à época, distante 7 Kms. do centro
da cidade.
Além de freqüentar as reuniões dos Vilaça, Plínio Doyle
da Academia Brasileira de Letras, no Rio, realizadas aos sábados. Ela se
deslocava de Conquista para embelezar o ambiente carioca com sua fala mansa e
alma de artista.
Viajou sem combinar, de uma hora para outra e deixou
órfã toda a comunidade carente de saber que ainda persiste em Conquista.
Deixou Fe iluminar a alma dos presidiários que ‘assistia’
com a disseminação do gosto pela leitura e fez chegar em muitos lares o maior
presente que alguém pode receber: o livro. Só por esse belo trabalho
comunitário ela já se eternizara
Como diria o poeta Castro Alves, em seu poema ‘Vozes
da América’:
Oh bendito que semeias/Livros, livros a mão cheia/E
manda o povo pensar./O livro caindo n’alma/É germe que faz a palma,/É chuva que
faz o mar.
Heleusa está para Conquista, assim como Atena para os
gregos, Minerva para os romanos.
Descanse em paz, querida amiga!
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