OS QUE SE FORAM PERMANECEM
VIVOS EM NOSSA MEMÓRIA CULTURAL
Jeremias Macário
Nos últimos anos,
principalmente do ano passado para cá, muitos incentivadores, pensadores e
defensores da nossa cultura se foram, deixando uma lacuna em Vitória da
Conquista, mas essas pessoas vão permanecer vivas em nossas mentes, com mais
forças para continuarmos firmes nesta jornada que, infelizmente, conta com
poucos apoiadores.
Com seus passos de
sabedoria e desapego, essa gente deixou suas marcas registradas num trabalho
incansável de promoção da cultura, por amor, sem interesses pecuniários. Mesmo
sem o devido reconhecimento de gratidão de boa parte da sociedade, devemos
seguir suas pegadas e nunca negar aos outros o conhecimento que aprendemos da
escola acadêmica e da vida, esta a mais consistente e duradoura. Têm muitos que
morrem como fantasmas.
A lição que nos deixam é nunca sermos
egoístas, mas persistentes nos momentos mais críticos e difíceis, porque não
faltam aqueles que torcem a cara e acham que os fazedores de cultura não passam
de idealistas sonhadores, desprovidos de bens materiais e sem futuro. São os
mais ricos e os menos valorizados. Nessa caminhada, são muitos os que só dão
espinhos e poucos os que oferecem flores. Uma só pétala já basta para superar
sacrifícios e não ser apenas um vulto nesta multidão.
Já dizia um filósofo que a vida é um bem
incerto, e que a morte um mal certo. Mas, do incerto você pode fazer muitas
coisas certas e tornar a morte um bem para cada alma que fica. Fizeram-nos bem
as últimas pessoas que se foram, como o jornalista e historiador Luis Fernandes
que sempre se mostrou preocupado em resgatar a nossa memória cultural,
pesquisando e levantado dados da nossa história.
Há cerca de um ano, ou pouco mais que isso,
partiu para o além o meu amigo e companheiro poliglota e intelectual Sérgio
Fonseca, com o qual convivi no jornal “A Tarde” e tive a honra de substituí-lo
na chefia da Sucursal desse impresso em Vitória da Conquista. Quando se foi,
infelizmente era pouco conhecido, inclusive de grande parte da mídia, mas, com
seus serviços prestados, nos deixou um grande cabedal. Pouco foi homenageado em
vida e na morte.
Infelizmente, nosso sistema social e político
tem como uma de suas péssimas características não valorizar a meritocracia. As
pessoas mais preparadas são pouco aproveitadas. Recentemente, partiu também
para o outro lado, a nossa guerreira e professora do projeto Proler, Heleusa
Câmara, uma insistente na luta pela alfabetização de detentos e de todos
aqueles que viviam à margem do ensino. Foi uma grande incentivadora da leitura,
justamente nesses tempos tecnológicos da internet em que poucos têm o hábito de
ler.
Quantas pessoas Heleusa
tirou da escuridão da vida, para ver o mundo de outra forma, através do
conhecimento! Não somente isso, ela com sua crença naquilo que fazia, devolveu
à comunidade muita gente que vivia fora dela. Lembro dela em minhas entrevistas
jornalísticas quando detalhava minuciosamente, com sua paciência, suas
propostas de tornar as pessoas mais humanas e educadas.
Nesta semana, lá se foi, mas continua
conosco, o nosso “Fera”, como assim tratava os amigos, o ator Gildásio Leite.
Minha aproximação com ele não tinha muito tempo, mas foi o bastante para
aprender com Gildásio muita coisa, como bondade e generosidade, sem falar na
sua ponderação na análise de certos problemas.
Há uns três anos, viajei com ele e o
professor Itamar Aguiar, para uma feira do livro em Lençóis, na Chapada
Diamantina, onde ele aproveitou para realizar uma série de entrevistas com o
cineasta Orlando Sena. Foi quando trocamos muitas ideias tomando umas geladas e
passei a chama-lo de grande garimpeiro. Não se queixava, e sempre estava
otimista com a vida. Na última vez em que nos falamos, pediu meu livro “Uma
Conquista Cassada” para extrair alguns subsídios para um documentário que
estava elaborando. Não me recordo agora o assunto. Gildásio divulgou muito
Conquista nos filmes e nas peças em que participou
Nenhum comentário:
Postar um comentário