OS GRANDES IMPERADORES, A DEPRAVAÇÃO
Jeremias Macário
Reza a lenda que quando
os gregos Menelau, Ulisses e Aquiles conquistaram Tróia, na Ásia Menor, um dos
poucos defensores a se salvar foi Enéias, cuja mãe era a deusa Venus-Afrodite.
Ele andou perambulando com sua mala ao lombo até alcançar o Lácio, no norte da
Itália. Casou-se com Lavínia, filha do rei Latino, onde fundou uma cidade com o
mesmo nome da mulher.
Seu filho Ascânio fundou Alba Longa, a nova
capital. Depois de 200 anos, Numitor e Amúlio, descendentes de Enéias, ainda
ocupavam o trono do Lácio. Um dia Amúlio expulsou seu irmão e matou todos seus
filhos, menos Réia Sílvia, mas obrigou-a a se tornar sacerdotisa da deusa Vesta
para não ter filho.
Num dia bem quente resolveu tomar um ar fresco
e adormeceu. Numa das suas descidas à terra, Marte a viu, apaixonou-se por ela
e a engravidou. Amúlio ficou muito zangado, mas esperou que ela desse à luz e
nasceram dois meninos gêmeos. Depois fez Sílvia colocá-los num barco e
deixou-os à deriva na correnteza do mar. A embarcação encalhou nas areais e uma
loba os acolheu dando do seu leite.
Esse animal tornou-se depois símbolo de Roma,
mas muitos dizem que se tratava de uma mulher com o nome de Acca Larentia,
chamada Loba pelo seu caráter selvático e infiel ao seu marido pastor. Os dois
receberam os nomes de Rômulo e Remo. Depois de crescidos, voltaram a Alba
Longa, mataram Amúlio e recolocaram Numitor no trono.
Depois de tudo resolveram construir um novo
reino em meio às colinas onde corre o Tibre. Ali começaram a discutir sobre o
nome a ser dado à cidade. No impasse, decidiram que venceria quem visse mais pássaros.
Remo viu seis sobre o Aventino e Rômulo 12 sobre o Palatino. Foi colocado o
nome de Roma e, em torno dela,edificaram muralhas. Remo achou frágeis e com um
chute colocou um pedaço abaixo. Em represália à sua conduta, Rômulo abateu o
irmão com um golpe de enxada.
Tudo isso, segundo o historiador Indro
Montanelli, em “História de Roma”, aconteceu por volta de 753 a.C.(21 de
abril). As terras trabalhadas por Remo e Rômulo se tornaram o centro do Lácio e
depois da Itália, a ab urbe condita. A Urbe se tornou caput mundi, descendentes
de Enéias e dos deuses Venus, Marte e Júpiter. Fábula ou não, trinta mil anos
antes da fundação aquela terra já era habitada pelo homem, do tempo da Idade da
Pedra.
Estudiosos falam da época de 2000 a.C. quando
dos Alpes chegaram outras tribos vindos da Europa Central que construíram suas
habitações em palafitas. Introduziram novidades, como trabalhar matérias
brutas, de cultivar o solo, de tecer panos e de cercar suas aldeias com
bastiões de barro e de terra batida. Pouco a pouco desceram ao sul e fundaram
Vilanova, se tornando num centro de uma “nova civilização”. Dela se originaram
os úmbrios, os sabinos e os latinos.
Não se sabe o que os vilanovianos fizeram com
os indígenas, chamados “bárbaros” Podem ter se misturado e fundaram muitas
aldeias entre o Tibre e a baia de Nápoles, por volta de 1000 a.C. Entre essas
cidades estava Alba Longa, capital do Lácio (Castel Gondolfo). Dali, um punhado
de jovens aventureiros migraram rumo ao norte e fundaram Roma.
Não se sabe bem o motivo do deslocamento
deles. Talvez foram espionar o local que fazia fronteira com a Toscana onde
havia desembarcado uma nova população conhecida como etruscos, muito mal
falados. Entre esses pioneiros, podiam estar Rômulo e Remo. O lugar ficava a
uns 20 quilômetros do mar. Os charcos e os pântanos condenavam à malária, mas
haviam as colinas que os protegiam dos mosquitos, como o Palatino.
Para povoar o local precisavam fazer filhos,
mas faltavam mulheres. Voltando à lenda, o chefão conseguiu mulheres para si e
seus companheiros. Anunciaram uma grande festa e convidaram os sabinos, seu rei
Tito Tácio e suas filhas. Durante a festa e a disputa de corridas, os donos da
festa raptar as moças, como no caso de Helena que terminou na destruição de Tróia.
No outro dia, seus pais e irmãos voltaram para
libertar as mulheres. Entrincheiraram no Capitólio e cometeram o erro de
entregar a chave da fortaleza para Tarpéia, uma romana apaixonada por Tito. Ela
abriu as portas aos invasores. Estes, não gostando de traição, a esmagaram.
Depois tudo acabou num banquete, e as mulheres se colocaram entre os dois
exércitos. Rômulo e Tácio decidiram governar juntos, como reis das duas tribos
(romanos Quirites). Tácio morreu.
Tudo pode ter sido uma
cerimônia nupcial combinada, ou, em outra versão, coisa de patriotismo para
dizer que os sabinos conquistaram Roma. De qualquer forma, existia a ameaça de
um inimigo comum que eram os etruscos que, a partir de Tirreno, se espalhavam
pela Toscana e pela Úmbria. Roma e a Sabina estavam na rota deles. A Urbe teve
que encarar esses difíceis rivais durante toda sua história, por meio das
guerras e da diplomacia.
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