A PONTE EM RUÍNAS, A INDÚSTRIA DAS
MULTAS E AS MUDANÇAS DO LUCRO
JEREMIAS MACÁRIO
Fecharam nossas
ferrovias, acabaram com as belas estações e deixaram pontilhões e pontes
históricas em ruínas, para implantar rodovias infernais mal construídas e
superfaturadas, criar a indústria das multas e ainda inventar mudanças
descabidas para lucrar e extorquir os cidadãos que neste país só têm deveres, e
onde “desacatar” um funcionário público é crime, mas não quando acontece o
contrário de ser destratado.
Fiz uma recente viagem a Juazeiro, no norte
da Bahia e, como sempre, corto pela Chapada Diamantina para curtir as paisagens
da natureza (muita parte destruída pela ganância do homem). O que seria um
prazer tornou-se irritação com o perigo das estradas mal conservadas, estreitas
e árvores por cair nas pistas, como de Andaraí até a ligação com a BR-242.
A partir de Suçuarana
até Ituaçu o que ainda restava do asfalto virou só buracos. Devido a
buraqueira, logo apareceu uma forte pancada na lateral direita do carro com a
quebra de um pivô, uma peça da suspensão, uma bucha da bandeja e a perda de uma
calota.Consegui dirigir até Juazeiro e lá tive que gastar quase 500 reais de
serviços na oficina. Quem pagou o prejuízo? Por certo que não foi o Estado que
cobra IPVA, pedágios e monta a indústria das multas através de radares
escondidos.
PONTE DE IAÇU EM RUÍNAS
No retorno entrei em Senhor do Bonfim e
peguei a estrada para Jacobina-Piritiba via Antônio Gonçalves, Pindobaçu, Saúde
e Caem, com mais buracos e sofrimento. Todo cuidado era pouco. De Piritiba
resolvi seguir por Mundo Novo, Baixa Grande, Rui Barbosa, Itaberaba, Iaçu,
saindo em Milagres pela BR-116 até Vitória da Conquista.
Mais decepção com meu estado da Bahia e com o
nosso país. Desta vez, foi ver um patrimônio histórico de mais de 100 anos em
ruínas. Trata-se da ponte férrea de Iaçu que por ali passaram tantos trens de
passageiros vindos de Minas Gerais e atravessando todo sertão baiano até Senhor
do Bonfim para fazer conexão com Salvador.
Claro que parei para tirar umas fotos da
destruição e lembrei quando menino que tantas vezes viajei naquele trem chamado
de “Groteiro”, saindo dali, vindo do Seminário de Amargosa, com destino a Rui
Barbosa, Jequitibá ou para minha querida Piritiba, Quanta tristeza e dor ver
aquela bela arquitetura caindo aos pedações, enferrujada e dentro do mato!
Recordo ainda que há poucos anos a comunidade
da cidade, gente da região, defensores da preservação da nossa memória fizeram
movimentos para recuperar a obra, mas não deram a mínima.O negócio deles,
governantes, é montar a indústria das multas e introduzir mudanças para
beneficiar fábricas particulares de placas, extintores e outros bagulhos.
A INDÚSTRIA DAS MULTAS
E AS EXTORSÕES
Na Europa e outros países civilizados existem
autoestradas, sempre em bom estado de conservação e sem controle de velocidade.
Por aqui ocorre o contrário, e o Conselho de Trânsito ou os Detrans impõem 80 e
100 quilômetros em rodovias estaduais e federais. Imagine todos rodando neste
ritmo numa longa viagem! Para os agentes, 120 quilômetros é alta velocidade, e
ai tome multa através dos radares surpresas. Para ser coerente, no Brasil as
montadoras deveriam colocar a potência do veículo só até 100 quilômetros.
Não precisa descer o pé no acelerador para
150 ou 200 quilômetros, mesmo porque as pistas são imperfeitas, estreitas,
esburacadas e com defeitos de engenharia. Acho contraditório o limite de 80 e
100 quilômetros. A maior parte dos acidentes não é por velocidade, mas por
imprudência nas ultrapassagens, imperícias e embriaguez. Não há como
ultrapassar uma carreta com 80. Os governos não fazem suas partes e aí colocam
toda culpa nos motoristas, usando a indústria das multas.
Na verdade, neste país os cidadãos e os
contribuintes só têm deveres e nada de direitos. Pagam altos tributos por duas
vezes, como é o caso do IPVA e os pedágios. Por que o governo e os políticos
não cobram os serviços de melhoramento da Via Bahia na BR-116, conforme
determina o contrato? Está BR, de Feira de Santana para a divisa com Minas
Gerais, por exemplo, ainda não foi duplicada e o asfalto já está descascando e
cheio de problemas, como constatei. Para embromar, colocam uns operários para
limpar o mato nas margens das rodovias.
Então pergunto: Qual moral tem o governo de
montar esta indústria de multas através dos “caças-multas”? Outro problema são
os quebra-molas, não mais recomendáveis, que estão por toda parte nas pistas,
nas cidades e nos povoados. Em muitas vias, principalmente as estaduais, não
existem sinalizações, tanto horizontal como vertical. Sem aviso, quebra-molas
surgem aos montes pegando os motoristas de surpresa. São arrebentam veículos.
Como os kits socorros, extintores e outras
exigências descabíveis, agora inventaram essa besteira da placa do Mercosul, um
acordo entre países do sul que virou um fracasso no comércio e nos
relacionamentos entre os governos de ideologias diferentes. Essa mudança é mais
uma extorsão ao contribuinte para alimentar as indústrias de emplacamentos.
Para fazer o serviço, o cidadão é explorado, humilhado e roubado,
financeiramente e em seus direitos.
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