A ASSESSORIA É A ALMA
DA POLÍTICA
Nando da Costa Lima
Naquele discurso ele sabia que ia
decidir a campanha, tinha que começar com uma frase de lascar o cano, a cidade
toda estava comentando que sua esposa Delsinete tava pulando a cerca com o
jardineiro “Zé Pé de Banco”. Se fosse numa cidade evoluída nem ia dar ouvidos
para aquele “fuxico”. Corno é um estado de espírito... Mas naquele fim de mundo
era diferente, ele tinha que rebater à altura senão adeus eleição.
No dia do comício ele já pegou o microfone com raiva e falou
aos berros: “-Mulher é igual cueca, sujou a gente troca”. Quando o candidato a
prefeito “Diltão das Moranga” disse esta frase a plenos pulmões até os
partidários que se encontravam no palanque sumiram, a praça esvaziou... Se
fosse um sujeito qualquer, mas um candidato tentando ocupar a vaga que
pertencia a seu tio, usar um termo despudorado só por causa das provocações do
povo e da oposição era praticamente fim de carreira. Perdeu logo o voto das
feministas e arrumou briga com o resto da mulherada. Era capaz até de ser
expulso do partido por causa de uma frase mal colocada. Só não foi porque não
dava mais tempo de mudar o candidato. Até os parentes acharam um absurdo ele
falar aquela idiotice em plena praça. A oposição se lavou e já se referiam ao
adversário como “Dilton Cueca Suja”. E o apelido pegou na cidade! A mulherada
já estava fazendo campanha até nos redutos do politico. Aquela situação tinha
que ser contornada senão seria o fim de uma “grande” carreira política que
estava começando. Ia manchar o nome da família que mandava na política da
cidade desde o tempo de Getúlio. Os
próprios correligionários, em sua ausência, só se referiam ao candidato como “o
corno da cueca suja”. O sacana complicou uma eleição já ganha só por causa de
uma “suposta” pulada de cerca da mulher.
A única solução para
reverter esta situação, disse o presidente do partido, será contratando um
marqueteiro retado, o melhor que tiver na região, só assim pro eleitor esquecer
daquilo. Foi aí que encontraram o homem certo: “Tuta das Onça”, publicitário e
caçador de onça. Especialista em tirar político do buraco. Aí o partido sentiu
um certo alívio, assessorado por Tuta, Diltão tinha tudo pra chegar lá. A
oposição quando soube reagiu e tratou logo de arranjar um assessor de peso
“Nilsão Quero Mais” foi contatado de última hora, era o único a altura de Tuta.
Depois desta investida dos adversários o marqueteiro levou aquilo ainda mais a
sério, eleger aquele corno burro era um desafio à sua genialidade, ganhar
aquela eleição seria uma realização pessoal. Além disso, ia ser bem pago e
ainda ganharia de quebra um “Chevete” seminovo. A primeira providência do
“mestre” foi transformar o jardineiro da futura primeira dama em personal trainer.
Pra não perder a concentração deixou até de ir numa briga de galo que ia ter em
Riachão das Raposas, pediu seu amigo “Gugu de Seu Vando” para representá-lo. A
“brigada” ia ser boa, o primeiro lugar ia ganhar um terno de bode e “dois capão
gordo”. Mas pra vencer aquele desafio eleitoral qualquer sacrifício valia!
E foi no último
comício que o marqueteiro deu uma prova de sua genialidade instruindo o
prefeito para o discurso reparador, decisivo para a campanha! Nesse ele botou
pra quebrar, chegou de braço dado com a esposa (outra grande ideia do mestre do
marketing) e foi logo anulando a frase da discórdia. Pegou o microfone, olhou
para a mulher com cara de apaixonado e virando-se para o publico falou
pausadamente: “-Mulher é igual cueca, sujou a gente manda lavar que fica
novinha em folha”. Quando todos olharam espantados ele completou com outra obra
prima do publicitário: ”-É melhor ser um corno eleito do que um garanhão
machista desempregado”.
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