AS CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO –
FILOSOFIAS E SABEDORIAS (parte final)
Jeremias Macário
ARISTÓTELES –Além de
ficar de luto, Aristóteles elevou um altar em honra ao seu mestre Platão. Foi
seu aluno durante vinte anos. Sua preferência era a matemática. Escreveu prosa
embaralhada e complicada, cheia de divagações literárias e iluminações poéticas
– assim descreve Indro Montanelli, autor de “História dos Gregos”.
Sobre Platão, é difícil
resumir a doutrina do filósofo. Nietzsche chamou-o de pré-cristão por certas antecipações
teológicas e morais. No campo moral era puritano. Em política foi totalitário
que, “se vivesse hoje receberia o prêmio Stalin”. Afirmava que a disciplina
vale mais do que a liberdade de pensamento e que a justiça é mais necessária do
que a verdade.
Quando Platão morreu,
Aristóteles emigrou para a corte de Hermíades, pequeno tirano da Ásia Menor e
casou-se com sua filha Pítia. Ia ali fundar uma academia, mas vieram os persas
e mataram o rei. Aristóteles conseguiu fugir para Lesbos. Em 343 a.C. Filipe,
da Macedônia, o chamou para Pela para educar seu filho Alexandre.
Cumpriu tão bem sua tarefa que Filipe o fez
governador de Stagira. Gostaram tanto da sua atuação que transformaram a data
de sua nomeação num acontecimento festivo. Com senso claro de divisão de
trabalho, reuniu seus alunos em grupos, confiando a cada um uma tarefa escolar
bem definida.
Era reservado, metódico
e preso ao horário como um burocrata. Ensinava passeando com os alunos ao longo
dos pórticos que circundavam o liceu. Por isso que sua escola se chama
peripatética (ambulante). Foi o primeiro a tentar uma classificação das
espécies animais, dividindo-os em vertebrados e invertebrados. Tinha um fraco
pelos anéis, com os quais enchia os dedos até os fazer desaparecer completamente.
Na política propôs uma
timocracia, uma combinação de democracia e de aristocracia, garantindo o
governo de pessoas competentes e reprimindo os abusos de liberdade. Quando
Alexandre, o Grandemorreu, ele foi acusado de impiedade. Aristóteles
compreendeu que a defesa seria inútil e abandonou a cidade. Não quero que
Atenas se manche com um delito contra a filosofia. À revelia, o tribunal
condenou-o à morte. Pouco tempo depois morreu, não se sabe se por doença de
estômago ou por cicuta, como Sócrates.
O HELENISMO E OS
DIÁLOGOS - Com a morte de Alexandre, nasce o período helenístico na história da
Grécia até a conquista romana. As cidades gregas, como Esparta, Atenas, Corinto
e Tebas foram cedidas aos reinos periféricos. Os oficiais de Alexandre
repartiram entre si o Império. Lisímaco ficou com a Trácia, Antígono com a Ásia
Menor, Seleuco com a Babilônia, Ptolomeu com o Egito e Antípatro com a
Macedônia e a Grécia.
Diz o escritor do livro,
que a história é tão monótona como as misérias dos homens que a formam.
Antígono julgou ter forças para reunir em suas mãos o Império, mas foi batido
pela coligação dos outros quatros. Seu filho Demétrio Poliorcetes limitou suas
ambições à Grécia. Expulsou os macedônios e foi recebido em Atenas como ”libertador”.
Transformou o Panteão numa orgia e o regime numa anarquia. Aventurou-se a uma
série de campanhas contra Ptolomeu e Seleuco, que o derrotou e o obrigou ao
suicídio.
Em meio ao caos, desceu
do norte uma invasão de gauleses celtas. Era o ano de 279 a.C. Saquearam todas
as cidades e vilas da Macedônia. Seleuco teve que dar um tributo aos gauleses para
se retirarem para o norte (Bulgária). Somente Antígono II conseguiu sufocar a
revolução da Macedônia e ficou no trono 37 anos seguidos, mas Atenas, com ajuda
do Egito, rebelou-se contra ele.
Houve, naquela época,
uma grande concentração das riquezasnas mãos de poucos. Somente Ágidas e
Leônidas tentaram uma reforma agrária em 242 a.C. O primeiro propôs a
redistribuição das terras na forma de Licurgo, mas Leônidas organizou
conjuração com os latifundiários e o assassinou, juntamente com a mãe e a avó.
A NOVA CULTURA - O
recenseamento de 310 a.C. registrava que Atenas tinha 21 mil cidadãos, 10 mil
metecos (estrangeiros) e 400 mil escravos. A Grécia vivia uma grande crise do
interior, despovoado e em pleno desflorestamento. A natalidade caiu bastante.
Os produtos agrícolas ficaram antieconômicos, pois todo trigo vinha mais barato
do Egito. As minas estavam abandonadas. Os gregos passaram a viver do artesanato
e do comércio.
Nas cidades, a vida se
tornou cada vez mais refinada. As mulheres, quase totalmente libertas,
participavam da vida pública e cultural. Platão admitira-as em sua
universidade, como Aristodama que se tornou a mais famosa declamadora de poesia
e realizou tournées por todo Mediterrâneo.
Houve um avanço na
publicação de livros, com muitos recursos particulares. A língua grega se
tornara oficial também no Egito, na Babilônia e na Pérsia.Com várias traduções,
a prosa de Aristóteles se tornou menos monótona.
Quando Platão morreu,
Aristóteles comprou vários volumes do mestre, acrescentando aos seus. Ao fugir
de Atenas, deixou com seu aluno Teofrasto que, por sua vez,entregou-os a Neleu
que levou-os para a Ásia Menor e enterrou-os. Um século depois foram
descobertos e comprados pelo filósofo Apélico, que os transcreveu,
interpretando como achava melhor.
Todo este tesouro caiu nas mãos de Sila,
quando conquistou Atenas em 86 a.C.. E em Roma, para onde foram levados, Andrônico
tornou a copiar e publicar os textos. Outros apaixonados foram os ptolomeus. Em
sua corte, o cargo de bibliotecário era um dos mais altos, como Eratóstenes e
Apolônio. Ptolomeu reuniu mais de cem mil volumes. Conseguiu emprestados os
manuscritos de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Devolveu as cópias e ficou com os
originais.
Aristófanes de Bizâncio
inventou as letras maiúsculas, a pontuação e os títulos. Aristarco e Zenódoto
reordenaram a Ilíada e a Odisseia que chegaram até nós. A cultura do período
helênico não era mais inventiva de poetas e pensadores que disputavam na ágora
ou nas salas de Péricles. Tornara-se um fato técnico de estudiosos
especializados, capazes em assuntos de crítica e bibliografia. Nas casas de
campo e nos palácios dos atenienses era obrigação falar a língua antiga.
PEQUENOS “GRANDES” – As
comédias de Menandro, muito hábil e elegante, foram imitadas pelo romano
Terêncio, mas o público preferia Filémon. Na poesia de Teócrito, pela primeira
vez se ouvia o sussurro das águas e o farfalhar das árvores. Teofrasto foi
acusado de impiedoso e abandonou Atenas. Xenócrates foi um mestre exemplar e
era mais pobre do que Jó. Não aceitava pagamentos. Foi o único que o rei da
Macedônia não conseguiu corromper. Pirro seguiu Alexandre à Índia. Voltou de lá
persuadido de que o verdadeiro saber consistia em renunciar à procura da
verdade, que é inatingível. Deixava de se curar de um resfriado, dizendo que “a
vida é um bem incerto, e a morte não é um mal certo”.
Os maiores expoentes
dessa filosofia de renúncia foram Epicuro e Zenão. O primeiro, de Samos,
condensou suas ideias em três livros. Seu credo chamava a atenção pela
honestidade. Dizia que a sabedoria não consistia em explicar o mundo, mas em
construir um ninho de tranquilidade com as poucas coisas que podem
proporcioná-la: A modéstia, o respeito aos outros, a amizade.
Zenão era um milionário
de Chipre. Perdeu tudo, menos a vida, num naufrágio nas águas do Pireu.
Desconsolado, parou na loja de um livreiro. Abriu “Os Memoráveis”, de Xenofante,
e perguntou onde se poderiam encontrar tais homens. O livreiro disse: Segue
aquele, mostrando Crato, que passava. Era um tebano que renunciara a fortuna
para viver como mendigo. Agradeceu e estudou na academia de Xenócrates. Abriu
sua escola e demonstrou aos alunos as vantagens da simplicidade e da Abstinência..
ABRIR ALAS PARA A
CIÊNCIA – Com a decadência da filosofia, a ciência floresceu nos séculos III e
II a. C., mas ainda havia a multiplicação de escolas, livros e museus.
Passou-se da época dos porquês para o estudo dos como. Um dos grandes foi Arquimedes
que observava atentamente os fenômenos naturais.
Certa manhã, estando na
banheira notou que a água subia à medida que seu corpo afundava. A partir dai
formulou o princípio, segundo o qual, um corpo, afundando, perde o peso
equivalente ao da água deslocada. Precipitou-se nu pelas ruas gritando Eureka –
encontrei.
Ele inventou toda
espécie de engenhos para ajudar a pátria, como guindastes imensos para prender
e virar navios inimigos e catapultas para submergi-lossob tempestades de pedras.
Quando Siracusa se entregou pela fome, o cônsul romano Marcelo deu uma ordem de
que não tocassem em Arquimedes. Um soldado o encontrou desenhando na areia e
disse para se apresentar ao chefe. Ele respondeu: Logo que terminar. Zeloso da
disciplina, o soldado matou-o.
Arquimedes atribuiu a
Aristarco, de Samos, a hipótese de o centro do universo ser o sol, em torno do
qual andaria a terra em movimento circular. Hiparco, de Nicéia, deu ao mundo
grego um calendário sensato e racional. Fixou o ano solar em 365 dias e um quarto,
menos quatro minutos e 48 segundos. Foi o verdadeiro inventor do sistema
ptolomaico. Foi o mais arguto observador da antiguidade.
ROMA – Poucos em Atenas
conheciam o grau de desenvolvimento alcançado pelas colônias gregas na Itália
meridional e na Sicília. Uma das provas foi a ascensão de Rodes. Quando foi
destruída por um terremoto, em 225 a.C., toda a Grécia mandou ajuda em dinheiro
e alimentos, o que não aconteceu com Taranto quando os romanos o invadiram. Só
Pirro, rei de Épiro,e parente de Alexandre, desembarcou na Itália com 25 mil
elefantes e três mil cavaleiros.
Venceu, mas perdeu a
metade do exército. Depois de uma vitória em Áscoli dirigiu-se à Sicília para
libertá-la dos cartagineses. Venceu, mas os gregos não colaboraram com ele. Foi
batido pelos romanos em Benevento. Abandonou a Itália dizendo: Que belo campo
de batalha deixo entre Roma e Cartago.
No ano de 272, Roma
anexou Taranto, Cápua e Nápoles. De todas as colônias gregas da Itália do sul,
nada ficou. Logo depois, Roma iniciou seu duelo contra Cartago. Em 210, as
colônias gregas da Sicília caíram em seu poder. Revoltou-se contra Filipe, o
dominador macedônio de 17 anos que virou um amoral, ao ponto de matar o próprio
filho. Uniu-se a Cartago num acordo para depois dominar a Grécia.
Roma não se vingou,
tanto que em 205 firmou tratado com Filipe. Em seguida, Cipião atacou a África
e derrotou Aníbal, em Zama. Rodes pediu apoio a Roma. Para se vingar, Filipe
destruiu as cidades gregas. Em Abido, todos os habitantes preferiram o suicídio
à rendição, mas seu exército nada pode fazer contra o de Quinto Tito Flaminio.
Em respeito à Grécia, devolveu o trono a Filipe. Convocou para Corinto todos
representantes dos Estados gregos e anunciou que Roma retirava suas guarnições
do território. Filipe morreu em 179 a.C. Subiu ao trono seu filho Perseu.
Este, uniu-se com seu
sogro Seleuco e, ao lado de Rodes, voltou-se contra Roma. O consul Emílio Paulo
destruiu 70 cidades macedônias. Devastou Épiro, deportando cem mil cidadãos como
escravos. Levou um milhar de notáveis para Roma. Em 146 toda Grécia, exceto
Atenas e Esparta, proclamou a guerra santa. Múmio conquistou Corinto e arrasou
tudo que existia. Grécia e Macedônia formaram uma província sob um governador
romano.
Emílio Paulo que
deportou para Roma mil intelectuais gregos, e Múmio que para lá transferiu
todas as obras de arte de Corinto, terminaram transformando a derrota da Grécia
em vitória. Os próprios romanos disseram: Graecia capta ferumvictoremcepit – A
Grécia vencida venceu o bárbaro conquistador. O historiador inglês disse que,
salvo as forças cegas da natureza, tudo o que evoluiu na vida da humanidade é
de origem grega.
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