PRA SEMPRE VICE
Nando da Costa Lima
Genebaldo tava cuspindo brasa, tinha surgido um boato
de que o vice presidente da fábrica de vassouras 5 Estrelas LTDA. ia assumir o
cargo de presidente, que era dele. Tava tão retado que disse o diabo pros
funcionários que não tinham nada a ver com o caso. Começou dando um murro em um
dos balcões e falou aos gritos que ele só saía da presidência morto.
— Tão pensando o quê? Vocês já viram alguma empresa ir
pra frente quando o presidente é menos capacitado que o vice??? Isso não existe
em empresa nenhuma, quando isso ocorre a firma quebra. Eu estou nesse cargo por
mérito, tenho curso de administração por correspondência. Não é só porque eu
sou sócio que estou presidindo, é por minha competência. Essa conversa de que
meu irmão Arquimedes vai assumir o meu lugar é velha, ele mesmo sabe que não
tem capacidade… Um homem que quando vê um empresário forte fica parecendo
menino querendo doce, isto é um absurdo! Eu sei que pega mal esculhambar com
parente em público, mas quando bota o nome da “Fábrica Cinco Estrelas” em jogo,
eu perco a cabeça.
Um dos
funcionários, vendo que o patrão estava fragilizado com aquela história,
aproveitou para dar uma boa puxada de saco. Aquilo podia gerar uma futura
promoção e acabou inflamando ainda mais a situação do irmão do patrão.
— O sr. tá certo, dotô. Também fiquei com raiva quando
me contaram que ele falou que o senhor fica parecendo um pinto perdido da
galinha nas reuniões com outros empresários do ramo. Disse que o senhor só
falta pedir autógrafo pra qualquer comprador rico que visita a fábrica. Mas
todo mundo sabe que é inveja, seu irmão não é nem a metade do homem que o
senhor é. Ele fica tirando onda só porque serviu no Tiro de Guerra, e o senhor,
não.
Quando o
puxa-saco acabou de falar, crente que tava abafando, o patrão apontou pra ele e
largou…
— Eufrosino, seu filho de uma égua. Quem lhe disse que
eu não servi no Tiro de Guerra? Garanto que não foi sua mãe. Ela sabe que eu
fui cabo e nunca tive uma falta enquanto estava servindo.
— Me desculpe, patrão, mas quem falou isso foi seu
irmão. Por sinal, ele até disse que o senhor não sabe pegar num fuzil.
— Não sei pegar num fuzil do rabo daquele sacana. Eu
atiro com as duas mãos, já fui até campeão de tiro em Uruguaiana.
— Mas patrão, Uruguaiana só dá prêmio pra poeta.
— Pois foi no mesmo dia em que fui receber um prêmio
pelo meu primeiro livro. Tava tendo um concurso de tiro ao alvo e eu ganhei o
primeiro lugar, até hoje eu tenho o urso de pelúcia que ganhei como prêmio.
Naquele dia eu não errei um tiro.
— Foi até bom eu ter indagado essas coisas pro patrão.
Assim deixou todo mundo da fábrica satisfeito, sabem que não corremos riscos de
sermos assaltados. O senhor, pelo visto, deve atirar melhor que Django.
— É, Eufrosino. Se tivesse concurso pra puxa-saco,
você ia ganhar todo ano… Tá doido! Mas pode ficar tranquilo que eu não vou
demitir ninguém, basta calar a boca e escutar o que eu tenho pra dizer pros
merdas que apoiam meu irmão. Até a produção caiu nestes últimos seis meses.
Vendas então, nem se fala. Ninguém quer fazer negócio com uma empresa em que os
funcionários conspiram contra o patrão. Eu já disse pra pai que tem que tirar
Arquimedes da vice presidência, ele tem o olho muito grande e isso só faz
prejudicar o andamento da fábrica, está jogando contra. E vocês funcionários
têm que entender que isso é uma fábrica de vassouras, não tem nada a ver com
política… Vocês estão pensando que isso aqui é uma nação democrática em que o
Congresso pode botar o presidente pra voar a qualquer hora. Os senhores estão
muito enganados. Quem manda nessa porra aqui sou eu. Impeachment em patrimônio
particular, só me faltava essa.
Saiu de
nariz empinado como se fosse um grande estadista que tinha feito um discurso
histórico, e continuou presidente vitalício da fábrica. Seu irmão, Arquimedes,
acabou se desligando da indústria. Tava cansado de tomar coice e continuar como
eterno vice. E ainda tinha aquele professor que alfabetizou Genebaldo e a
família e implicou com a cara dele só porque não quis aprender a ler por sua
cartilha. Eufrosino assumiu a vice presidência no mesmo dia, e para agradar o
patrão, mandou bordar no jaleco de trabalho: “Para sempre vice”.
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