A INQUISIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL
Jeremias Macário
Há séculos, desde os tempos coloniais, os
juízes no Brasil são vistos como deuses intocáveis do Olimpo, como na mitologia
grega. Só os sumos sacerdotes e reis, como em outras civilizações antigas,
podiam ir ao templo fazer suas oferendas e sacrifícios. Nesses rituais, os
humanos eram, na maioria das vezes, os sacrificados vivos.
O povo os venerava de
distante, como o nosso que tremia e ainda treme pisar os pés num Fórum e ficar
diante de um magistrado. O ritual de tratamento é cerimonioso, e sua toga preta
parece simbolizar que ele é um imortal e, por tal condição, não pode ser
criticado, e quem se atrever a isso será severamente punido.
Assim está se comportando o Supremo Tribunal
Federal com sua pesada inquisição, como o Santo Ofício, contra as veladas
críticas da população nas redes sociais e veículos da mídia, isto em pleno
século XXI de difíceis tempos em que tanto se clama por democracia e liberdade
de expressão, garantidas pela Constituição de 1988. Os desabafos entalados nas
gargantas sufocantes sãodirigidos a alguns membros da corte que têm tomado
posições até então suspeitas diante de evidências de crimes de corrupção,
ladroagens e até de tráfico de drogas e armas.
A devassa aos críticos, como se ainda
estivéssemos sob o poderio inquisitório do rei de Portugal, ou numa ditadura
civil-militar do seu Tribunal Militar, está sendo feita por um ministro, indo
de encontro à posição da Procuradora Geral da República, do Ministério Público
e até de colegas e associações da classe que estão encarando a atitude como um
ato de censura à plena liberdade de expressão.
INVESTIGA E JULGA
Millôr Fernandes já
dizia que “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. O
mais grave nesse triste episódio é que o próprio Supremo Federal está
investigando o que considera como crime e, ao mesmo tempo, está fazendo o
julgamento, o que constituiuma aberração jurídica. Quem investiga não pode
julgar, como já opinou vários especialistas no assunto.
Pelas afrontas sofridas durante anos, pelas
injustiças sociais, pelos desmandos das autoridades, pelas tragédias anunciadas
no Brasil com milhares de mortes, pelos privilégios concedidos ao judiciário e
ao legislativo, os quais afrontam a todos, pelos avanços das milícias e
traficantes nas favelas que não são contidos pelos governantes (muitos
políticos estão envolvidos como mafiosos), pela falta de educação e saúde e
pelos desvios de conduta dos “homens deuses” das togas, o povo brasileiro tem
razão de sobra de gritar e de xingar, até com certos palavrões ofensivos em
momentos de raiva, contra membros de instituições que envergonham a nação e
roubam a nossa autoestima e esperança de dias melhores e moralizantes.
Basta de se comportar como cordeiros ou gado
marcado a ferro, basta de ouvir e aguentar tudo calado, basta de ser comodista
e dizer que nada tem a ver, e não vai se meter nisso, basta de tanta alienação,
basta de tantos desprezos destas castas que nos esnobam e fecham suas portas ao
trabalho na semana santa e nos chamados “feriadões”, basta dos abusos de
autoridade onde o cidadãos que paga os impostos têm que baixar a cabeça para
não serem presos, Basta de nos tratarem como servos e súditos desses reis nus, basta
de tanta opressão e de tantasasneiras e baboseiras!
Passou da hora de levantarmos nossas vozes,e
nos colocarmos ao lado de críticos contundentes contra uma turma, que todos já
sabem seus nomes, que solta da cadeia comprovados bandidos contumazes e ratos
corruptos assassinos que, impiedosamente, passa safadamente a mão em nosso
suado dinheiro. Uma coisa é o julgamento técnico, e o outro é o nitidamente
político, inclusive o de relações pessoais de interesse. Não nos façam de
bestas e otários engolidores passivos de facas.
Não estou falando aqui de ameaças e de certas
ofensas injuriosas, mas todos nós ofendidos há anos em nossas honras, temos o
direito de contestar, bradar nos momentos de cólera e pedir o impeachment de
membros da corte, coisa que o Senado não faz porque muitos lá têm também suas
mãos sujas de sangue dos nossos brasileiros que padecem e morrem nas câmaras
ardestes dos hospitais, e são vivo-mortos pela ignorância porque lhe negaram a
educação de qualidade, do saber e do conhecimento.
Muitos são adúlteros da lei, vendem até
sentenças, têm auxílio moradia, férias de dois meses ao ano e outros
penduricalhos e, quando, por vezes, são “punidos”, são simplesmente afastados
com polpudas aposentadorias compulsórias. Do outro lado dos prédios de tapetes luxuosos
do legislativo está encastelada em suas mordomias uma casta de nababescos que
nem está ai para o povo, e vota matérias e reformas conforme a dança dos
mandantes aristocratas, burocratas e oligarcas do país. Repudiamos esta
inquisição do Supremo.
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