ESTÁ TUDO UM CAOS! CHAME O EXÉRCITO!
Jeremias Macário
“Eu
te salvei, gritou a mulher/E você me picou, mas por quê?/Você sabe que sua
picada é venenosa e agora eu irei morrer/Oh, cale-se, mulher tola, disse o réptil
com um sorriso/Você sabia muito bem que eu era uma cobra antes de me acolher”.
Esta fábula de Esopo é
um alerta e cai muito bem para os tempos atuais. Serve para políticos
aventureiros e regimes autoritários. As cobras venenosas estão ai. Com suas
picadas já mataram milhares e, mesmo assim, de tão dissimuladas se fingem de
inofensivas para serem acolhidas e continuar picando.
A grande maioria do povo brasileiro
desconhece sua história e não está nem aí para esta tal liberdade de expressão,
mesmo porque, nem entende seu significado e importância. O mesmo pode-se dizer
da democracia esquartejada e desacreditada. A crise moral e ética, a bagunça e
a usurpação dos poderes, os quais deveriam ter respeito e dar exemplo de
cidadania, nos levaram a esta triste realidade.
O caos, a desordem e a corrupção bateram forte
na nossa porta! Então, chame as forças armadas para baixar o pau e por ordem na
casa! Já ouviu papo de botequim sobre esta questão? Os bebuns (não só eles) aprovam
intervenção militar, falam bem da ditadura e tascam conversas tortas, deturpadas
e desconexas sobre aquele tempo. “Naquela época havia moralização e não existia
corrupção” - grita de lá do canto o mais exaltado defensor, entornando mais um
gole da maldita.
A FALÊNCIA E O MEDO
Por que o exército e as outras corporações
militares correlatas estão no topo das aprovações entre todas as outras
instituições do Brasil, inclusive da Igreja Católica? Tem suas razões, a
começar pela falência das outras (legislativo, judiciário e o executivo) que
levou o povo a perder as esperanças e a ter muito medo da violência de morte. A
ignorância sobre a história passada é outro fator que contribuiu para elevar o
índice de aceitação.
Pois é gente! A que ponto chegamos! E os aplausos
efusivos e arrogantes ao Bolsonaro ditador e à bancada da bala no Congresso
Nacional! Desilusão e revolta sufocadas de quem já tomou vários socos no
estômago e não crê mais em nada. O jeito é se apegar a qualquer aventureiro que
se diz salvador da pátria. Quando o barco está afundando, não se pode recusar
socorro, até mesmo de piratas malfeitores e sanguinários.
Não são poucos os indivíduos que não têm
nenhuma admiração pela liberdade, mesmo porque já perderam a capacidade de
pensar e de refletir, pois há muito tempo engolem tudo que vem de cima. Para
essa gente, liberdade é uma porta aberta para a entrada do anarquismo e do
comunismo.
Por sua vez, somos um
povo submisso que só se comporta com um policiamento ostensivo presente. Um
exemplo são as festas populares. Tem que ter muita polícia, senão é mais que
previsível o registro de confusões e brigas de desordeiros. Com militares ao
lado, todos procuram ser “educados” e respeitar os outros, embora muitos
descambem para a violência depois do efeito das bebidas alcoólicas e das
drogas.
A INTERVENÇÃO NO RIO
Peço desculpas por todo
este introdutório para falar diretamente da intervenção militar (eles corrigem
como federal), no Rio de Janeiro. Todos são unânimes ser medida necessária para
conter a bandidagem que tomou o território que deveria ser administrado pelo
Estado através de programas sociais de redução das desigualdades.
Nesta hora todos querem morte sem piedade aos
bandidos, traficantes e assassinos assaltantes, mas quem criou os monstros? Os
geradores responsáveis pelos Frankenstein, os governantes corruptos conluiados com
o capitalismo burguês e a oligarquia agora chamam os militares para trucidá-los
e matá-los com seus tanques, bombas e metralhadoras.
Como o “bicho pegou” mesmo pra valer, ninguém
agora se importa com violação da liberdade e dos direitos humanos. Vale o
estrangulamento. Qualquer atitude do interventor general é aceita e justificada
pela população em geral como forma de proteção, como fotografar moradores para
arquivos e conseguir mandados coletivos de busca e apreensão. Direito civil
passa a não ter mais relevância e quase ninguém se incomoda com isso. Deixe os
homens meterem a pua!
Em seu trono, nesta semana o interventor
falou exclusivamente para a “Grande Rede” (o restante da mídia não interessa)
como governador do Rio quando anunciou que, além de ocupar militarmente os
espaços nas favelas, vai implantar atividades complementares de saúde, educação
e outros benefícios sociais nas comunidades.
Ora, como está dito no decreto federal, sua
função na intervenção não é somente na área da segurança pública, deixando a
administração dos outros setores para o governo e o prefeito? Cadê o governador
Pezão (denunciado na Lava Jato) e o prefeito fujão Crivella? Eles sumiram e a “Grande
Rede” dos vídeos, que oferece fama em 15 segundos (todos querem aparecer), nem
cita mais eles. Está colada na intervenção que é sua especialidade.
Na força, o interventor general promete
deixar tudo bonitinho e ainda transformar o Rio de Janeiro num laboratório para
outros estados da federação, que também foram invadidos pelos bandidos devido a
incompetência e os desmandos dos governos corruptos. Aliás, eles não estão na
mesma classe? Não poderiam também ser julgados, sentenciados e presos? A promessa
agora do comando é tornar a vila Kennedy numa vitrine. Já vimos isso com a UPP
da favela Santa Marta. Como confiar?
Em entrevista à rádio Jovem Pan, o mordomo
de Drácula disse que existe “preconceito” em relação à atuação das forças
armadas no país e receitou que os militares precisam participar mais da
administração pública. Destacou que não vê nas corporações a vontade de assumir
o poder, mesmo gozando de credibilidade perante a sociedade. Engana que eu
gosto!
Não custa lembrar que ele foi um dos
informantes da Embaixada dos Estados Unidos durante a ditadura de 1964, cujas
cicatrizes continuam abertas (os torturadores que cometeram crimes de
lesa-humanidade não foram punidos), mas, como poucos conhecem a história, isso
não importa.
Tenho minhas dúvidas quanto a realização das
eleições neste ano. Houve quebra da ordem pública, chama o exército. A
Constituição garante, e o artigo neste sentido foi posto por pressão dos
generais. Num país tão conservador onde mandam as elites, de profundas desigualdades
sociais, egoísta e individualista (olha os vídeos ai da “Grande Rede”!),
ambiente propício existe para tal.
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