Mais uma crise no futebol baiano
Carlos Albán González - jornalista
Insatisfeito com o resultado do julgamento, a Procuradoria do TJD
manifestou sua decisão de recorrer ao Pleno do órgão judicante, constituído de
nove auditores, solicitando à presidência da Federação Bahiana de Futebol (FBF)
a paralisação do campeonato, cuja penúltima rodada da fase de classificação está
programada para o próximo final de semana.
Na opinião do procurador Ruy João, a continuidade do estadual pode
provocar “dano irreparável ou de difícil reparação”. Numa entrevista aos
jornais de Salvador o procurador qualificou de “absurdas e estarrecedoras” as
punições aplicadas pelos quatro auditores (advogados de “reconhecido saber
jurídico e reputação ilibada”) – o quinto se declarou impedido – da 1ª Comissão
Disciplinar do TJD.
O principal questionamento da Procuradoria está relacionado com a
ausência de punição para o responsável pela interrupção do jogo. O Vitória, que
deu causa, recebeu uma multa de R$100 mil. Entidade jurídica, o clube se “personifica
nos seus dirigentes, técnico e atletas. Então, alguém precisa ser apontado como
responsável”, expõe Ruy João, estranhando a ausência, na lista dos punidos, de
um membro da diretoria, do treinador Valter Mancini, do supervisor Mário Silva,
e até mesmo do zagueiro Bruno Bispo, que recebeu o quinto cartão vermelho,
deixando o seu time com apenas seis jogadores em campo, entregando a vitória ao
Bahia, pelo placar de 3 a 0, como determina o Regulamento Geral de Competições
da CBF, no seu artigo 56, incisos 3º e 4º.
Outra questão levantada pelo procurador diz respeito a não apreciação
pelos auditores da leitura labial, encomendada pelo Globo Esporte, da frase de
Mancini, mandando seu atleta receber o quinto cartão vermelho. Ruy João também
discorda da absolvição do goleiro Fernando Miguel, que aparece nas imagens das
televisões como o iniciante da briga generalizada, ao imobilizar Vinicius pelo
pescoço, para que seus companheiros do Vitória praticassem a bárbara agressão
física. Com o supercílio sangrando, a vítima deu queixa numa delegacia
policial.
Ao apresentar a denúncia contra os envolvidos na guerra do chamado “Ba-Vi
da Paz”, um outro membro da Procuradoria, Hermes Hilarão Teixeira Neto, pediu a
desclassificação do Vitória do campeonato deste ano e o rebaixamento para a 2ª
divisão em 2019. Somente um dos auditores da 1ª Comissão Disciplinar do TJD
acatou o pedido.
Dias de terror viveu Hilarião e sua família, com as ameaças de morte enviadas
por membros a torcida organizada do Vitória “Os Imbatíveis”, considerada como
uma das mais violentas do país. O procurador garante que dispõe dos números de
telefones e endereços nas redes sociais de todos os agressores, passíveis de terem
que passar uma temporada atrás das grades.
Convocado extraordinariamente, o Conselho Deliberativo do Bahia esteve
reunido na última quarta-feira para analisar as medidas tomadas pelo TJD. A
principal decisão foi continuar a disputar o Campeonato Baiano – dirigentes chegaram
a falar em abandonar a disputa – “mesmo não lhe dando credibilidade, mas em
respeito aos nossos torcedores e patrocinadores”. Na nota distribuída, o
Tricolor sugere que os tribunais esportivos atendam aos princípios éticos e
sociais e diz esperar que o futebol baiano passe pela mesma transformação – a derrubada
de uma ditadura – que o clube conheceu há quatro anos.
Ainda comemorando o resultado do julgamento, Mancini declarou a uma
rádio de Salvador que, a partir do próximo jogo o Vitória descarta firmar pactos
de paz com seus adversários. Vai, inclusive, proibir seus jogadores de abraçar
os colegas de outros clubes e que estava arrependido de ter abraçado o técnico
Guto Ferreira, do Bahia, antes do Ba-Vi do dia 18.
Até agora não foi explicado como os jogadores punidos vão cumprir de dez
(Kanu) a oito (Denílson, Rhayner, Yago, Edson e Rodrigo Becão) jogos de suspensão,
se Bahia e Vitória têm, no máximo, cinco jogos a fazer pelo “Baianão”.
A interrupção do campeonato vai provocar uma crise financeira ainda
maior nos clubes que se organizaram para uma disputa de janeiro a março. O
torneio é bastante deficitário. Um exemplo: o jogo Vitória da Conquista x
Jacuipense, programado pela FBF – seu presidente, Ednaldo Rodrigues, torcedor
do Vitória, é filho desta cidade – levou apenas 381 pagantes ao “Lomantão”,
numa Quarta-Feira de Cinzas”, ficando o clube local com um prejuízo de R$
6.189.
Ex-jogador amador (1970 a 1984) do futebol de Vitória da Conquista e
ex-presidente da Liga local, Nadinho, como era conhecido na cidade, elegeu-se
presidente da FBF em 2001. Como a maioria dos “cartolas”, adquiriu
vitaliciedade. Nos 16 anos de mandatos de Ednaldo, o Vitória ganhou 11 títulos
estaduais e o Bahia, quatro.
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