Na casa do
calundu
Nando da Costa Lima
Por
ser o nome de uma das músicas de Elomar, ele antes de cantar explicou as
diferenças entre calundu e cacoré, falou que eram termos de origem indígena
(tupi-guarani). No calundu o cidadão fecha a cara e só abre a boca pra
reclamar, resmunga o dia inteiro... Fica de mal com a vida. No cacoré o sujeito
fica tão retado que quebra tudo o que vier pela frente. Só para de quebrar as
coisas quando não tem mais nada pra destruir. Quebra copo, panela, prato,
rádio, e se deixar quebra até gente. Só para de quebrar a casa quando vê que
não sobrou mais nada... Aí começa a chorar, fica uns oito dias sem querer ver
gente e volta como se não tivesse acontecido nada. Só não concordo com o poeta
quando falou que “o calundu vem primeiro, é a fase da ‘enfezação’ ”, e que só
depois viria o cacoré pra agravar a situação. E não é exatamente assim.
O
cacoré não tem hora pra chegar, pode vir antes, durante ou depois do calundu. E
é difícil de se contornar, deveria até ser estudado pela psiquiatria, mas isso
deve ter outro nome para os psiquiatras. Acho que todo medicamento tarja preta
é remédio pra cacoré ou calundu... Em todo canto se encontra os “calunduzentos”
e os “cacorezentos”.
Vou
contar um milagre sem revelar o santo, tem que mudar o nome do protagonista,
apesar do tempo. Manéu Pedreiro morava no centro e sofria de calundu crônico
(tem calundu curável), duas ou três vezes no ano ele tinha uma crise grave.
Logo em seguida, atacava o cacoré (tem tratamento, mas não tem cura). Se o seu
calundu já era famoso, o cacoré era bem mais. Cacoré é mais sonoro, mais
explícito. E Manéu Pedreiro ficava uma pilha de nervos, talvez por isso muito
morador de Conquista da época citada ache que o calundu anteceda o cacoré. Todo
mundo sabia que quando Manéu “atacava o calundu” tinha que se mudar pra outra
casa, numa rua próxima. Lá em um mês ele se retava e quebrava tudo que tinha
pra quebrar. Foi ele mesmo quem teve a ideia de montar essa segunda casa, ideia
acatada imediatamente por toda a família, até o “loro”! O lugar ficou conhecido
como “Casa do Calundu de Manéu Pedreiro”. Quando ele se curava, geralmente não
tinha mais nada pra se quebrar, só de rádio tinha uma montanha no quintal,
todos cortados ao meio com golpes de machado. Ele sempre implicava com o rádio
na hora que seu programa favorito ia passar: “A Hora do Brasil”. O sujeito
tinha que ser forte pra partir um rádio no machado.
Passada
a crise, a família limpava tudo e ele próprio comprava tudo de novo, da xícara
ao rádio. Já ficava tudo pronto esperando a próxima crise de calundu de Manéu
Pedreiro, e uma Conquista ainda muito pequena assimilava isto com naturalidade.
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