sábado, 18 de novembro de 2017

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:



DOS SUMÉRIOS A BABEL (II)
A EPOPEIA DE GUILGAMECH (I)
Jeremias Macário
Da poderosa cidade de Uruk nasce a história da Epopeia de Guilgamech (Gilgamés), o poema mais famoso da literatura da Mesopotâmia, descoberto na Biblioteca de Assurbanipal (Nínive), através das tabuinhas de barro pelo arqueólogo Hormuzd Rassam e decifrado por George Smith.  É também uma versão assíria. Os deuses são semitas, mas os lugares da ação são sumérios, com raízes da época de Uruck. A Epopeia foi gravada em doze tabuinhas de argila.
Na Biblioteca de Assurbanipal, por volta de 600 A.C, diz o autor de “Deuses, Túmulos e Sábios”, C.W.Ceram, que a obra literária foi a primeira grande epopeia da humanidade, a lenda do maravilhoso e terrível Gilgamés. Segundo ele, a história, quando foi decifrada, lançava uma luz completamente nova e surpreendente sobre o nosso mais antigo passado.
  O escritor lamenta que os autores modernos da literatura não têm dado o devido destaque merecido. Citam algumas linhas e “passam por alto o conteúdoque é o que nos conduz ao berço da raça humana, ao primeiro antepassado da humanidade”.
 De início, a obra estava fragmentada (faltava algo para fechar a história) e, então, George Smith foi atrás do resto nas escavações perto de Mossul (Iraque), justamente a parte que falava do dilúvio, contada por Utnapisti que era o Noé, da Bíblia. Trata-se da história daquele mesmo dilúvio que a Bíblia viria a contar muito mais tarde.
  Logo de início, o herói Guilgamech (Gilgamés), dois terços divino e um humano, é apresentado como grande caçador de leões. Uruck tem poderosos muros, um grandioso templo e um palácio branco construídos por Ensi, temido pelos seus súditos. Ele impõe a todos um trabalho sem cessar, e são as mulheres que elevam protestos aos deuses. Anu reconhece que seus lamentos são justos e encarrega a deusa criadora Aruru de formar um indivíduo forte, que não seja um animal do deserto, para distrair Guilgamech.
Aruru toma um pouco de argila, molda-a, cospe em cima e surge um herói do sangue de Ninib, deus da guerra chamado de Enquidu (Enkidu), não muito atraente, de cabelos longos como o trigo que se veste de peles, bebe com as manadas e come grama junto com as gazelas. Logo, torna-se protetor dos animais que arrebenta redes e inutiliza armadilhas dos caçadores. O local torna-se um Parque Nacional.
  Um dos caçadores descobre aquele estranho indivíduo que se assemelhava a um demônio dos montes. Fala com o pai que aconselha tomar do soberano uma bela moça e mostrá-la nua para que ele se distraia e pense em outra coisa. O caçador vai a Ensi e conta tudo sobre o cabeludo gigante. Guilgamech dá permissão de liberar uma mulher do templo, e o caçador a deixa no rio onde a previsão se cumpre. Enquidu ficou com a mulher por seis dias e seis noites e se uniram em amor.
  Enquanto ele estava com a mulher, os animais se distanciam dele. Com sua arte de sedução, a mulher o convence de abandonar o campo e ir até ao encontro do herói Guilgamech para enfrentá-lo. Enquidu se enche de vaidade e quer mostrar a toda a Uruck que ele também é forte. Os dois são recebidos com festa no palácio. Um vidente prevê a luta contra Guilgamech, de grande estatura e músculos duros como o metal.
  Pela sua descomunal estatura, Enquidu é admirado e temido por todos, inclusive pelos guardas do templo. Na celebração das sagradas núpcias de Ano Novo, os dois se observam e a briga é inevitável. Na luta entre os dois pesos pesados, o rei arremessa Enquidu aos pés da rainha-mãe. Este solta um urro desesperado, levanta-se, deixa cair os braços ao seu lado e seus olhos se enchem de lágrimas.

  A rainha o ampara e diz: És meu filho e te gerei hoje mesmo; sou tua mãe, e este – indicando Guilgamech – é teu irmão. O rei o reconhece como irmão e o chama para lutar ao seu lado, para custodiar a Floresta Sagrada dos Cedros que circunda a morada dos deuses. O deus Bel tinha colocado o temível guardião de nome Khumbaba com voz de trovão, hálito forte que se permitia a algumas liberdades de sair do bosque para aterrorizar o povo, matando a quem encontrasse em seu caminho. Os dois resolvem seguir juntos para enfrentar e matar o guardião monstro.
  Antes de partir, Enquidu tem saudade dos seus animais e desaparece no campo. Guilgamech reúne a Assembleia dos Anciões e lamenta tristemente a falta do irmão que se arrepende de tudo e maldiz a mulher que o seduziu. Ele pede ao seu povo que leve tudo para Enquidu, enquanto promete procurá-lo por toda planície.
 O deus Sol Chamach repreende a atitude de Enquidu dizendo que a mulher lhe deu de tudo, luxo, festas, vestes finas, e que o povo de Uruk está de luto por ele, e o irmão o procura por toda parte. Enquidu acalma o seu coração e volta a se encontrar com Guilgamech. Conta-lhe um terrível sonho de que tinha enfrentado um homem forte, de semblante escuro como a noite, parecido com uma hiena com poderosas garras de abutre. Apanhou-me e me comprimiu com seu peso tal como uma montanha. Sentiu-se no fundo do abismo onde quem entra não sai mais.
No sonho, o monstro lhe ordena a ir pela estrada da qual ninguém pode sair, a entrar na casa sem luz onde os habitantes se alimentam de pó e lama, têm asas de morcego e residem nas trevas. Enquidu adentra no reino dos mortos onde os grandes e os servos são todos iguais, dominados por Erechquigal, rainha dos infernos, que manda a escrivã registrar seu nome na argila. Guilgamech conforta o amigo e faz o ritual dos esconjuros. Oferece ao deus Sol uma taça de mel, permitindo que ele a lambesse.
  Chamach gostou da oferenda e incentivou os dois a enfrentarem Khumbaba. Então, depois de ouvir o Conselho dos Nobres, os irmãos partiram com as bênçãos da rainha. Na floresta, o primeiro a ser morto foi o guarda, cujo corpo foi entregue aos abutres. Enquidu roga prudência ao irmão e o aconselha para acampar à noite, mas Guilgamech encoraja-oa seguir em frente, sem medo, para combaterem juntos. Todos os países da terra (dos Quatro Mundos) cantarão em nosso louvor.
  Os dois ficaram fascinados pela floresta de cedros, morada dos deuses, e pelas suas calmas alamedas. Avançam por entre árvores até o cair da noite entre as estrelas. Cansados, deitam para dormir. Na aurora, ambos retomam a marcha por trinta horas até o monte da Sagrada Terra da deusa Inanna. De repente ergue-se a figura monstruosa de Khumbaba com suas patas de leão, corpo de escamas de bronze, cabeça de búfalo selvagem e cauda em forma de cabeças de serpentes.
  Juntos lançam suas flechas contra o monstro, mas elas caem inertes. Khumbaba enterra suas garras em Enquidu fazendo-o cair. Guilgamech empunha seu machado e o decapita. Seu corpo é arrastado para um pasto aberto e entregue aos abutres em sinal de triunfo.
   Depois da luta, sobem até o ponto mais alto do monte e ouvem a voz da deusa que adverte que ninguém pode chegar ao alto do monte e ver a face dos deuses,sob pena de morrer. A deusa ordena, então, que retornem a Uruk, e assim é feito. No caminho, matam leões e tiram suas peles. Na lua cheia chegam a Uruk com a cabeça de Khumbaba.

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