Executivo, Legislativo e TCE do RJ formaram organização criminosa, diz PF
PF: "não há um chefe mor na quadrilha. Benefícios fiscais levaram Estado ao colapso", afirma o delegado Alexandre Ramagem
Picciani é alvo da Operação Cadeia Velha, que também prendeu o filho dele, Felipe Picciani, que tinha acabado de deixar o pai no aeroporto de Uberlândia, em Minas Gerais, no início desta manhã.
Foram presos ainda na mesma operação o empresário Jacob Barata Filho e o
ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros
do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) Lélis Teixeira.
Jorge Picciani é suspeito de receber propina da Fetranspor, em um
esquema de corrupção no setor que envolveria políticos. Ele já tinha
sido levado para prestar depoimento à PF em março, na Operação Quinto do Ouro, que prendeu 5 dos 7 conselheiros do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ).
A Operação Cadeia Velha, que mira a cúpula da Alerj, e é um
desdobramento da Lava Jato e foi desencadeada a partir das investigações
da Operação Ponto Final.
Segundo a PF, as empresas de ônibus colocavam dinheiro em uma
"caixinha", destinada ao pagamento de propina a políticos para aprovar
leis que beneficiariam o setor. A informação chegou ao Ministério
Público Federal (MPF) com a delação premiada do doleiro Álvaro José
Novis.
De acordo com a GloboNews, a operação foi antecipada por causa da
iminente indicação de um dos investigados, Edson Albertassi (PMDB), para
o TCE-RJ. A nomeação de Albertassi foi suspensa pela Justiça.
Além de Picciani, a Justiça determinou a condução coercitiva do
deputado Paulo Melo, que chegou por volta das 10h na sede da PF para
prestar depoimento.
Também são cumpridos 35 mandados de busca e apreensão nesta
terça-feira. Entre os alvos estão o gabinete de Jorge Picciani na Alerj e
a fazenda onde fica a empresa Agrobilara, que pertence à família
Picciani.
Felipe comanda o negócio, que tem como sócios o pai, Jorge, e os irmãos
Leonardo Picciani, ministro do Esporte, e Rafael Picciani, deputado
estadual.
A Agrobilara já foi citada em investigações da Lava Jato por supostas
atividades ilícitas na delação premiada de Jonas Lopes, ex-presidente do
TCE-RJ. Segundo a delação, a compra de gado foi usada para lavar
dinheiro de propina.
Em Volta Redonda, a PF fez buscas na casa de Albertassi, onde foram
apreendidos documentos, e em uma uma emissora de rádio que pertence ao
parlamentar. Em Saquarema, os agentes cumpriram mandatos na casa e no escritório do deputado Paulo Melo.
Outras prisões
O ex-presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, chegou na sede da PF às
9h30. Assim como Barata Filho, ele teve mandado de prisão preventiva –
sem prazo definido – expedido pela Justiça na operação Cadeia Velha.
Barata Filho e Lélis Teixeira já tinham sido presos na operação Ponto
Final, em julho. Porém, em agosto, foram liberados por decisão do
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Trinal Federal. Eles tiveram a prisão
revertida em recolhimento domiciliar noturno.
Lélis Teixeira é suspeito de ser o responsável por dar as ordens para o
pagamento de propina na ausência de José Carlos Lavouras, que era o
presidente do Conselho de Administração da Fetranspor e também foi preso na Ponto Final.
Veja abaixo os alvos da operação Cadeia Velha:
Mandados de prisão preventiva:
- Andreia Cardoso do Nascimento
- Carlos Cesar da Costa Pereira
- Jacob Barata Filho
- Jorge Luiz Ribeiro
- José Carlos Reis Lavouras
- Lélis Marcos Teixeira
Mandados de prisão temporária:
- Ana Cláudia Jaccoub
- Fábio Cardoso do Nascimento
- Felipe Carneiro Monteiro Picciani
- Márcia Rocha Schalcher de Almeida
Mandados de intimação/condução coercitiva:
- Alice Brizolla Albertassi
- Edson Albertassi
- Jorge Sayed Picciani
- Paulo Cesar Melo de Sá
O que dizem os citados
O G1 tenta contato com a assessoria de Jorge Picciani, mas os telefonemas não foram atendidos. O último foi às 9h30.
A defesa de Jacob Barata Filho informou que não teve acesso ao teor da
decisão que originou a operação desta terça e, por isso, não tem
condições de se manifestar a respeito.
Os advogados do empresário adiantaram que vão pedir o restabelecimento
das medidas restritivas ordenadas pelo STF, "que já decidiu que a prisão
preventiva do empresário é descabida e pode ser substituída por medidas
cautelares, que vêm sendo fielmente cumpridas desde então".
Operação
A investigação da operação Cadeia Velha durou seis meses e teve quebras
de sigilo bancário, telefônico e telemático, acordos de leniência e de
colaboração premiada, além de provas obtidas a partir das Operações
Calicute, Eficiência, Descontrole, Quinto do Ouro e Ponto Final, que
investiga desvios de verba no transporte público do estado com a atuação
de políticos do estado.
Segundo o Ministério Público Federal, a investigação apura o uso da
presidência e outros postos da Alerj para a prática de corrupção,
associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O nome da
ação é uma referência ao prédio histórico da Alerj.
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